Ed O’Brien, guitarrista do Radiohead, esteve em São Paulo na última sexta-feira (21) para uma palestra no Edifício Oswald de Andrade, no Centro da cidade. Convidado pelo CultSP Pro – Escolas de Profissionais da Cultura, o músico falou para um público de mais de 150 pessoas sobre sua trajetória, a importância da música em sua vida, sua relação com a cultura brasileira e as transformações da indústria fonográfica.
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O’Brien iniciou sua fala de maneira direta: “A música me salvou”. Ele compartilhou lembranças de sua infância e juventude, relembrando conflitos familiares e a separação de seus pais. Nesses momentos difíceis, seu violão se tornou refúgio e ferramenta de expressão. “Eu e os rapazes da banda passamos a nos reunir para tocar. Confesso que na época não éramos tão bons. Mas a gente não fazia festa. A gente queria se aprimorar. Tocávamos para melhorar cada vez mais e entramos numa jornada incrível. Nós formamos uma família“.
Além de sua trajetória pessoal, O’Brien falou sobre sua vivência no Brasil e a relação próxima que desenvolveu com a música nacional. Ele contou que conheceu o carnaval de rua carioca quando morou em Santa Teresa e ficou impressionado com a força das baterias de escola de samba. “O que eu amei foi sentir essa conexão com o passado. O ritmo africano, os polirritmos, eles ficam com você. Depois de uma noite inteira ouvindo, você vai dormir e ainda sente aquilo pulsando dentro de você“. Durante sua estada no país, O’Brien morou com a família em São Luiz do Paraitinga (SP), onde compôs grande parte de seu álbum solo “Earth” e se aprofundou na musicalidade brasileira. Ele citou Jorge Ben Jor, Caetano Veloso e Tom Jobim como referências que marcaram sua vida.
Acompanhado de Ruth Daniel, fundadora da ONG europeia In Place of War, O’Brien também abordou a relação entre música e questões sociais. Daniel compartilhou experiências de seu trabalho em zonas de conflito, destacando o impacto da música em comunidades vulneráveis, como a vila de Kalandia, na Cisjordânia. Ela relatou como jovens palestinos encontraram na música um meio de expressão e resistência diante da ocupação e das dificuldades impostas pelo contexto político da região.
O’Brien refletiu sobre os desafios da indústria fonográfica e o impacto das mudanças tecnológicas. “Nunca foi um momento melhor para ouvir música. Quando eu era jovem, não tinha acesso a muita coisa. Eu nunca tinha escutado Led Zeppelin até os 28 anos porque não podia comprar os discos. Hoje, os jovens têm acesso a influências globais. Isso é incrível. Mas a indústria nunca soube realmente como apoiar os artistas. E esse ainda é um grande problema“.
Ao longo da palestra, a troca de experiências entre O’Brien, Daniel e músicos brasileiros foi um dos pontos altos do evento. Muitos participantes, vindos de comunidades e projetos culturais locais, aproveitaram a oportunidade para debater as dificuldades e os potenciais da cena musical independente no Brasil.
A passagem de O’Brien por São Paulo reforçou sua conexão com o país e destacou seu olhar atento às dinâmicas culturais e sociais que permeiam a música. Com um discurso sincero e reflexivo, o guitarrista demonstrou que sua trajetória vai além do Radiohead, revelando-se um artista interessado em explorar os impactos da arte no mundo.
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