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Festival Índigo consolida nova era da música alternativa em São Paulo

Festival Índigo consolida nova era da música alternativa em São Paulo | Foto: Divulgação/Festival Indigo/Sand

Festival Índigo consolida nova era da música alternativa em São Paulo | Foto: Divulgação/Festival Indigo/Sand

O Parque do Ibirapuera já viu festivais de todos os tamanhos e naturezas, mas poucas vezes viveu algo com o equilíbrio e a identidade do Índigo, novo selo da 30e que se propõe a reviver a experiência de festivais médios, focados na música, na curadoria e no público não na grandiosidade. E se o rock alternativo parecia ter perdido o espaço nos grandes eventos, o Índigo devolveu a ele o protagonismo. O line-up foi pensado com precisão: Bloc Party, Mogwai, Otoboke Beaver, Judeline e o Weezer como atração principal, em um fim de tarde que respirou nostalgia, técnica e um senso de pertencimento raro.

Festival Índigo consolida nova era da música alternativa em São Paulo | Foto: Divulgação/Festival Indigo/Sand

O evento funcionou como uma carta de amor à música alternativa e à cultura que ela formou desde os anos 90. A atmosfera era a de um reencontro: o público mais maduro, de camiseta preta e olhar atento, contrastava com a juventude curiosa que descobriu o Weezer no streaming. Havia, ali, uma convergência geracional. E esse talvez tenha sido o maior mérito do festival: mostrar que a música alternativa não envelhece, apenas muda de público e de contexto.

A estrutura do Ibirapuera, que há tempos se mostra perfeita para eventos de médio porte, foi novamente um acerto. Sem filas exaustivas, com visibilidade total do palco e som geralmente equilibrado (apesar de variações pontuais de volume), o Índigo conseguiu entregar uma experiência fluida, leve e coerente com o espírito do próprio nome: um evento que prioriza o som, não o espetáculo.

As apresentações que antecederam o Weezer formaram um arco narrativo quase conceitual. O caos e a atitude do Otoboke Beaver abriram o dia com energia punk e ruído libertador. A Judeline, em seguida, trouxe texturas eletrônicas e vocais aéreos que pareciam testar o limite entre o indie e o pop experimental. Mogwai mergulhou tudo em intensidade e luz, transformando o Ibirapuera em um espaço sensorial, enquanto o Bloc Party uniu corpo e memória, conduzindo o público à catarse com hinos como “Helicopter” e “Banquet”. Quando o Weezer subiu ao palco, a sensação era de que o festival havia cumprido sua missão estética e agora, o que viria, seria pura emoção.

O Weezer, afinal, é o tipo de banda que não precisa provar mais nada. Rivers Cuomo e companhia construíram uma carreira que sobreviveu a modas, a ironias e até à própria autodepreciação. Celebrar os 30 anos do “Álbum Azul” no Brasil foi mais que um show: foi uma reafirmação de relevância. A banda parecia ciente disso. O setlist, costurado entre eras, evitou o óbvio sem abandonar o afeto. “My Name Is Jonas” abriu como um soco nostálgico, seguida por “Dope Nose”, que já deixava claro que a noite não seria uma execução linear do disco, e sim uma reconstrução afetiva dele.

Houve algo simbólico no modo como o Weezer tratou seu repertório: as canções do “Blue Album” apareciam entremeadas por outras fases, como se a própria banda dissesse que o passado e o presente coexistem. “Hash Pipe”, “Perfect Situation” e “Island In The Sun” mostraram a solidez de uma carreira que se recusou a ser vintage. E quando “Undone – The Sweater Song” e “Surf Wax America” tomaram o ar, o Ibirapuera virou um imenso coro de sorrisos. O público, em sua maioria, não buscava novidade buscava reconhecimento.

A força visual da apresentação também merece destaque. O conceito “Voyage to the Blue Planet” foi traduzido em imagens astronômicas, luzes e símbolos que transformaram o palco em um universo paralelo. Cada canção era acompanhada por uma estética específica: azuis intensos para o “Álbum Azul”, tons vermelhos para o “Álbum Vermelho”, e variações cromáticas que faziam o show fluir como uma viagem pela própria mitologia do Weezer.

Quando o riff de “Island In The Sun” invadiu o parque, a sensação era de que o tempo havia parado. O público, agora entregue, cantava com serenidade, como quem revive uma lembrança antiga. E o fechamento com “Buddy Holly” consolidou a noite como um dos momentos mais marcantes do Weezer em território brasileiro coeso, energético e emocionalmente exato.

O que o Índigo provou é que há um público imenso que deseja experiências musicais honestas, sem excessos visuais ou estruturas colossais. O festival estreou com consistência e maturidade, propondo um modelo que valoriza o som, a curadoria e o encontro entre artistas e plateia. E o Weezer, com sua história de nerds que transformaram vulnerabilidade em potência, foi o símbolo perfeito dessa estreia.

Em um país acostumado a megafestivais e line-ups previsíveis, o Índigo surge como um antídoto: um festival que devolve a música ao centro da experiência. E o Weezer, ao revisitar o passado sem se aprisionar nele, lembrou ao público que o rock alternativo ainda respira e que, em noites como essa, ele volta a soar necessário.

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