Se você está aqui, é porque já assistiu. Se ainda não, tá avisado: tem spoiler logo na primeira garfada. Porque “Presença”, novo longa de Steven Soderbergh no Prime Video, é o tipo de filme que entrega seu segredo quando o público já não espera mais respostas. E aí ele serve um final que muda o gosto de tudo o que veio antes.
Atenção: este texto contém spoilers sobre o desfecho de “Presença”.
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A proposta é simples só no papel: uma família rica, uma casa grande demais e algo invisível espreitando entre os cômodos. Mas o truque de Soderbergh está em colocar a gente literalmente na pele dessa presença, usando a câmera em primeira pessoa para fazer com que o espectador vire o próprio fantasma. O resultado? Você não observa a assombração. Você é ela.
Na casa, vivem Rebekah, uma matriarca que controla tudo com a mesma frieza com que escolhe o vinho do jantar, Chris, o marido apagado, e os dois filhos, Chloe e Tyler. Só que o filme tem foco. E o foco da tal presença também. Tudo gira em torno de Chloe. E tudo vai ganhando um tom cada vez mais tenso quando Ryan, amigo do irmão, entra em cena.
A coisa desanda de vez quando Ryan, depois de se envolver com Chloe, revela sua verdadeira face. Um serial killer. Literalmente. Ele droga a garota com fentanil e entrega que foi responsável por outras mortes, inclusive a de uma amiga próxima dela. Nesse momento, o terror vira físico, urgente, sujo.
É então que a tal presença age. Sai do quarto de Chloe, sacode Tyler, e o faz reagir. O menino acorda, encara o predador e parte pra cima. Os dois rolam até o terceiro andar e despencam juntos. E é aqui que Soderbergh muda a trilha do filme. Porque, até então, essa tal presença era um enigma. E agora, ela vira sacrifício.
Tyler morre. E o filme poderia acabar aí, com a tragédia selada e os corpos no asfalto. Mas não. “Presença” guarda seu golpe final para o último minuto. A família se muda da casa, agora silenciosa, vazia. E Rebekah, ao andar pelos cômodos, encara o espelho da sala. E é ali que tudo se revela.
Ela vê o reflexo do filho. E se desfaz. E aí vem a chave que amarra tudo: Tyler era a presença o tempo inteiro. Depois de morto, ele voltou. Ou melhor, permaneceu. Não como espírito num sentido convencional, mas como algo que transcende tempo e lógica. Como a médium do filme já havia sugerido, os mortos não vivem em linha reta. Eles ficam presos onde precisam concluir algo.
E o que Tyler precisava era proteger a irmã. Mesmo que isso custasse sua vida. Mesmo que o tempo não fizesse sentido. Mesmo que ele tivesse que existir como sombra até que o pior acontecesse e ele pudesse impedir. É poético, sombrio, trágico e completamente Soderbergh.
O momento final mostra a presença indo embora. Subindo. Literalmente. Como quem cumpriu sua missão. Como quem, mesmo em silêncio o filme todo, grita no final que o amor fraterno também pode ser sobrenatural.
Claro que existem outras teorias. Sempre tem. Tem quem ache que a tal presença era, na verdade, a amiga morta. Que o rosto no espelho foi só uma última manifestação. Que tudo é mais simbólico do que literal. Mas a construção narrativa, as pistas e a direção indicam com clareza: era Tyler o tempo todo. Ele foi o fantasma, o alerta, o escudo.
“Presença” termina no mesmo lugar em que começou: com silêncio. Mas agora, carregado de significado. O filme é menos sobre terror e mais sobre sacrifício. Menos susto, mais dor. E esse final, agridoce e redentor, é o que transforma uma história de assombração em algo que fica ecoando na cabeça.
Soderbergh entregou um filme curto, direto e cheio de camadas. Você sai com mais perguntas que respostas, e talvez essa seja a maior força de “Presença”: ele não quer explicar tudo. Ele quer que você sinta. Mesmo que só entenda depois.
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