O filme “Grande Sertão“, dirigido por Guel Arraes e com roteiro de Guel Arraes e Jorge Furtado, adapta o clássico romance da literatura brasileira, “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, para a realidade da periferia urbana. Na trama, a comunidade “Grande Sertão“ é controlada por facções criminosas, onde uma luta entre policiais e bandidos assume ares de guerra. Nesse cenário, Riobaldo (Caio Blat) se junta a uma dessas facções para seguir Diadorim (Luisa Arraes), cuja identidade e a paixão que sente são mistérios conflitantes em sua mente. A partir de então, em meio a um ambiente hostil e de guerra, Riobaldo enfrenta dilemas éticos, morais e existenciais, enquanto busca entender seu lugar no mundo e sua própria natureza.
O filme se projeta como uma versão brasileira de “Mad Max”, desenvolvendo-se em cima de uma crônica que reflete, de forma extrema, a violência e o funcionamento do mundo sob diferentes perspectivas. A pauta principal aqui é a violência, a desigualdade e o lúdico que gira em torno da vida, da morte e dos demônios que assolam nossa sociedade. O longa de Guel Arraes é uma obra de arte indiscutível, que vem para marcar para sempre a cultura cinematográfica nacional. Com uma direção de arte de tirar o fôlego e um dos melhores elencos nacionais, o filme, além de fazer refletir, coloca o espectador em situações que poucas obras cinematográficas conseguem provocar. Apesar de trabalhar com a dinâmica de protagonista e antagonista, a narrativa não gira em torno de nenhum personagem específico; ela explora de forma abrangente tudo o que ocorre ao redor, como uma poesia que sintetiza a violência e encontra luz mesmo em meio ao caos.
Além de toda a sua desenvoltura e destaque visual, o filme abre diversas discussões que permeiam nossa sociedade o tempo todo. Exemplos disso são a banalidade da violência dentro das comunidades e como o mundo parou de se chocar diante de crimes que marcam presença diária nos noticiários: vidas perdidas para drogas, milícias, combates entre facções, e a luta pela sobrevivência e pelo direito de existir, amar, ter seus desejos e ver a vida de uma forma diferente.
O livro, que antes parecia antigo, agora se mostra totalmente atual. O diretor, com maestria, realizou uma releitura que posiciona o longa como algo tão contemporâneo quanto suas temáticas. Em uma produção de tirar o fôlego, o filme, que tem potencial para representar o Brasil em grandes premiações mundo afora, estreia nos cinemas no dia 6 de junho.
Grande Sertão – Guel Arraes: ☆☆☆☆☆