Com vocês, Lubo! É esse o pseudônimo escolhido pela multiartista Luciana Bollina – dona de carreira bem-sucedida no teatro musical e dança – para se reapresentar ao público. Homônimo, seu disco de estreia chega a todos os aplicativos de música à meia-noite desta quinta-feira (19). O trabalho vem marcado por canções poéticas e reflexivas, baseadas no universo de literatura, empoderamento, androginia e filosofia onde habitam suas inspirações. O álbum é resultado da colaboração da musicista com o produtor Fabio Pinczowski, também responsável por trabalhos de Filipe Catto, Lucas Santtana e Vanguart. Lubo também tem parceria com o selo do interior de São Paulo Lastro Musical.
“Lubo nasceu quando eu assinava um desenho há 15 anos”, a paulista natural de Sorocaba relembra. “Porém, segui minha carreira como atriz, cantora e bailarina usando o nome Luciana Bollina. Quando começou a nascer em mim uma vontade de produzir um disco, esse nome voltou forte como se fosse algo muito íntimo e puro em mim que eu precisava resgatar e dar vazão”.
CELEBRAÇÃO DO FEMININO
Os resgates íntimos a que ela se refere materializam-se em faixas cantadas por uma Lubo andrógina, inspirada na arte de nomes como David Bowie. “É uma necessidade minha de me desidentificar de qualquer polaridade e me perceber um ser inteiro, que se reconhece como mulher, mas carrega em si a complexidade do ser humano… E que pode se mostrar mais masculino ou feminino, dependendo da história que quero contar”, afirma.
Mesmo assim, a tracklist de “Lubo” dedica-se a festejar e celebrar a feminilidade e os saberes femininos. É o que acontece na abertura “Mulher Oceânica”, que deve ganhar videoclipe em breve. “Mulher oceânica / Sereia do seu próprio mar / Deságua no amor que reside nas águas / Do seu interno lar”, ela canta. Em “Lua”, outro destaque, a celebração do feminino vem representada magia poética do nosso único satélite.
Por sua vez, “Germinar” é um dueto com a artista recifense Flaira Ferro, que estava grávida durante a produção da faixa. “Essa música foi muito importante para que eu me conectasse com a Flaira… E ela estava germinando uma nova vida no ventre. Foi lindo demais cantar essa letra tão de esperança e amor”, remonta Lubo.
LITERATURA MUSICADA
Muitas experiências e influências podem inspirar um produtor artístico. Aqui, o processo se dá por meio de transições profissionais e perdas pessoais vividas por Lubo, que embarcou numa jornada de autoconhecimento espiritual a partir de 2016. O resultado são faixas femininas e mântricas, com pitadas de rock, sonoridades africanas e riffs orientais.
Aqui, foram essenciais referências musicais como Céu, Luiza Lian, Perotá Chingó e Marcelo Jeneci, além de ritmos caribenhos, ciganos e futuristas. Tudo isso para criar uma atmosfera ritualística ao trabalho. Além disso, o livro “Mulheres que correm com os lobos”, de Clarissa Pinkola Estés, também teve evidente influência nas histórias aqui contadas.
É o que acontece em “La Loba”, primeiro single do álbum, revelado em agosto de 2023, homônimo a um dos contos presentes na obra de Estés. “Essa canção traz os mistérios desse feminino esquecido e segregado para que cantemos os ossos das narrativas esquecidas e cantemos uma nova vida a partir dessas mortes. Um renascimento necessário”, celebra Lubo.
Outro exemplo é “Boneca de Bolso”, inspirada em outro momento do escrito, desta vez versando sobre a transição da criança para a mulher adulta e o poder desse processo. O título de “Manawee”, por sua vez, faz referência a um dos narradores de outro conto da obra, “acerca do encontro divino do masculino e do feminino”, como expõe a cantora. Aqui, brilha também a parceria com o cantor e compositor paulista Dani Black.
ARTE PELA IGUALDADE
Resultado direto dos processos vividos pela cantora, antes e durante a produção de seu registro de estreia, é o clima de comunhão espiritual promovido pelas músicas. “Olho do Furacão” homenageia Iansã (orixá feminino dos ventos e tempestades). “Sopra o vento, mãe / Vendaval de axé”, versa a letra, que vem acompanhada da sonoridade quente da cumbia caribenha. Já em “Força do Sol”, Lubo e a cantora Natasha Llerena unem suas vozes para convocar novos tempos.
A tracklist encerra-se com um grito de liberdade banhado em sentimento de coletividade, com a intensa “Apocalipse”. “Fiz essa música para a hashtag #elenão nas eleições de 2018 e a modifiquei um pouco pra ela caber no disco. Quero que a gente termine de ouvir o álbum acreditando na vida e colocando a mão na massa”, explica Lubo. “Quero amor e ação”, completa.