“Madonna – The Celebration Tour”: a reflexão final sobre 40 anos de sucesso

A The Celebration Tour foi a décima segunda turnê da Madonna, marcando uma celebração monumental de sua carreira que se estende por mais de quatro décadas. A turnê percorreu cidades da América do Norte, Europa e América do Sul, abrangendo um total de 81 shows. O pontapé inicial ocorreu em 14 de outubro de 2023 na The O2 Arena em Londres, Inglaterra, e o grandioso encerramento foi realizado em 4 de maio de 2024, com um show gratuito na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, Brasil. Este último concerto foi um evento histórico, atraindo 1,6 milhão de pessoas e quebrando recordes como o maior show de um artista solo e o maior show de uma artista feminina na história.

A turnê foi anunciada oficialmente nas redes sociais de Madonna em 17 de janeiro de 2023, após meses de especulações e rumores intensos. Acompanhando o anúncio, um vídeo promocional inspirado em “verdade ou desafio” foi lançado, contando com a participação de várias celebridades, incluindo Diplo, Judd Apatow, Jack Black e Amy Schumer, entre outros. A pré-venda de ingressos pela Live Nation ocorreu em 19 de janeiro, seguida pela venda geral no dia seguinte pelo Ticketmaster. Infelizmente, no final de junho de 2023, Madonna foi diagnosticada com uma infecção bacteriana grave que a levou a ser internada na UTI, resultando no adiamento das datas iniciais na América do Norte. As novas datas foram anunciadas em 15 de agosto de 2023, com cinco shows cancelados.

Desde o início, a expectativa para a turnê foi alta. Inicialmente planejada para 35 datas, a demanda popular fez com que várias novas datas fossem adicionadas imediatamente após o anúncio, incluindo shows adicionais em grandes cidades como Nova Iorque, Londres, Paris e Los Angeles. No dia da venda geral, mais de 600.000 ingressos foram vendidos, com 35 dos 51 shows esgotados no mesmo dia. Em Londres, 200.000 fãs tentaram comprar ingressos, e em Nova Iorque, os três primeiros shows esgotaram em apenas 15 minutos.

Madonna | Foto: KEVIN MAZUR/WIREIMAGE

O show que começa com Bob the Drag Queen vestida de Madonna, mais precisamente no figurino utilizado durante o VMA de 1990, quando Madonna fez uma performance icônica da música “Vogue”. Essa apresentação marcaria, anos depois, a história da música e da cultura do movimento vogue. O foco de Bob é animar a plateia e introduzir o que vem a seguir: uma celebração detalhada da jornada de mais de 40 anos de Madonna. Assim que a introdução de Bob termina, Madonna surge angelical ao som de “Nothing Really Matters”, usando um figurino inspirado no clipe da música. Enquanto ela canta os primeiros trechos, um círculo brilhante e imponente projetado no teto eleva sua voz e presença apoteótica. Ao cantar o trecho “because of you”, ela aponta para o público, refletindo como sua jornada a trouxe até ali. Envolta em uma roupagem majestosa, Madonna mostra que a vida é um círculo, refletindo sobre o futuro, passado e presente.

Em seguida, Madonna leva o público ao “Metrô de Nova York” para uma sequência com seus maiores hits, desde “Everybody” até “Live to Tell”. Esse bloco conta a história desde quando ela chegou a Nova York até os trágicos momentos em que perdeu amigos para a epidemia de AIDS, que levou muitas vidas. Durante a performance de “Open Your Heart”, Madonna referencia dois momentos icônicos de sua trajetória. Por exemplo, o uso da cadeira faz referência tanto ao clipe quanto à performance de “Keep It Together” da famosa turnê “Blond Ambition”, responsável por padronizar a execução dos shows como são hoje em dia.

Finalizando o bloco, Madonna surge com um colar de diamantes gigantesco enquanto canta a balada “Live to Tell”. Este é um dos momentos mais emocionantes do show. Enquanto ela canta os versos da canção, imagens de amigos e figuras relevantes vítimas da AIDS são projetadas no telão em tom de homenagem, saudade e respeito, uma eterna lembrança dos momentos difíceis do passado.

Indo para o próximo momento do show, Madonna aborda um tema muito presente em sua arte: a religião. A interpretação de “Like a Prayer” conta com samples do hit “Unholy” de Sam Smith e Kim Petras. Na apresentação, Madonna se entrelaça em uma estrutura redonda com cruzes de neon ao fundo. No fim, seu filho David Banda entra vestido no melhor estilo Prince, tocando uma guitarra que invade a mente de todos presentes.

Na sequência do show, após um interlúdio com “Living for Love” do álbum “Rebel Heart”, temos o monólogo de “Dita”, que introduz um dos momentos mais esperados do show – o bloco “Erotica”, onde Madonna explora sua sensualidade e desejos ao máximo. Inspirado na turnê “The Girlie Show”, o palco se transforma em um ringue onde Madonna discute a luta entre prazer, amor e liberdade. Projetando seu corpo em forma, a cantora provoca, dança e relembra seu passado durante a apresentação.

Talvez um dos momentos mais históricos do show seja quando Madonna se dirige a um outro lado do palco e encontra uma representação de si mesma deitada na cama que mudou sua história. Estamos falando do icônico encontro da Madonna atualizada com sua personalidade que fez a “loira ambiciosa” chegar onde chegou. Com o clássico rabo de cavalo e o famoso “sutiã de cone”, Madonna revisita seu passado e reflete sobre sua sexualidade e liberdade. Ao som de “Papa Don’t Preach”, ela relembra o momento em que quase foi presa por simular masturbação no palco.

Seguindo adiante, Madonna apresenta a sequência “Justify My Love”, “Fever”, “Hung Up” (versão com Tokischa) e finaliza o medley com um solo de piano de sua filha Mercy James. Em seguida, há uma surpresa que deixou os fãs do álbum “Erotica” extasiados: “Bad Girl” finalmente entra em uma setlist de turnê. Vestida com uma linda camisola, Madonna canta a música de coração aberto enquanto sua filha, seu maior reflexo para o futuro, toca o piano com maestria.

Madonna durante a Celebration Tour na Europa | Foto: Reuters

Após o ato voltado para o álbum “Erotica”, a atmosfera muda completamente, e entramos no universo de “Vogue” em uma versão que sampleia o remix de “Break My Soul” de Beyoncé. O ponto alto da performance não é apenas a nova versão, mas a presença de uma das filhas mais novas de Madonna, Estere, que começa discotecando e dançando muito em cima da mesa de som. Em seguida, Madonna aparece esplendorosa cantando um dos hits que mudou os rumos de sua carreira. O momento final de “Vogue”, além de contar com Madonna vestida no melhor estilo “femme fatale”, inclui diversos convidados especiais durante a turnê. Os convidados atuam como uma espécie de “júri”, atribuindo notas para os dançarinos e para a filha de Madonna, que finaliza sua performance entregando tudo! O tom teatral do show segue com a sequência de “Human Nature” e “Crazy for You”. Durante a performance, Madonna relembra momentos em que ela e a comunidade enfrentaram a censura.

Após essa viagem no tempo, Madonna inicia o próximo bloco com a icônica interlude “The Beast Within”, anteriormente utilizada na “The Girlie Show”. O telão projeta situações de guerra e critica toda a crueldade que assola nossa sociedade, tanto no presente quanto no passado. O backdrop usado, criado pelo famoso fotógrafo Steven Klein, também foi visto na “Re-Invention Tour”. Após a introdução, entramos no bloco “Country”, que começa com a performance de “Die Another Day”, inspirada na coreografia do filme “Suspiria”. Em seguida, Madonna se entrega ao espírito da era “Music”, cantando os hits “Don’t Tell Me”, com a participação de sua filha Stella, que dança a coreografia original da música junto com a mãe. O show segue com homenagens à mãe de Madonna, falecida em sua infância, durante a interpretação de “Mother and Father”. Na parte final da canção, seu filho David Banda sobe ao palco enquanto o telão projeta imagens de seus pais biológicos, em um momento emocionante. O bloco também inclui “La Isla Bonita” e, em algumas ocasiões, “Don’t Cry for Me Argentina”.

Quase no momento final do show, chegamos à tão comentada interlude de “I Don’t Search I Find”, que projeta no telão celebridades falando sobre Madonna. As citações vão de Ariana Grande, Beyoncé, Cher, entre outras personalidades da indústria fonográfica. Madonna faz uma brincadeira projetando também seus ex-namorados no telão ao fundo, arrancando risos do público. No fim do interlude, Madonna aparece com um cabelão e uma roupa prateada, cantando de forma futurista a versão original de “Bedtime Story”, uma canção escrita por Björk que nunca havia entrado em turnês anteriores. A performance lembra a experiência de Madonna com NFTs. O momento se conclui com a sequência de “Ray of Light” e “Rain”, que em alguns shows foi substituída por “Frozen”, música que ganhou popularidade novamente na rede social TikTok.

O bloco final do show começa com uma introdução impactante do rei do pop, Michael Jackson, no telão, em uma versão de “Like a Virgin” que conta com trechos de “Billie Jean”. Uma versão de Madonna dos anos 80 aparece dançando com Michael Jackson. O show se conclui ao som de um medley de “Give Me All Your Luvin'”, “Bitch I’m Madonna” e “Celebration”, enquanto Madonna relembra seu passado junto a 18 dançarinos usando figurinos que marcaram não só sua história, mas também a história da música pop até hoje.

Madonna na Celebration Tour In Rio | Foto por: Marcos Hermes

Em 25 de março de 2024, Madonna, em parceria com o banco Itaú, anunciou um show gratuito na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, para encerrar a turnê e comemorar os 100 anos do banco. O evento, que contou com a presença de artistas como Anitta, Pabllo Vittar, Pretinho da Serrinha e uma bateria de samba mirim, além de um after party com o DJ brasileiro Pedro Sampaio, foi um sucesso absoluto, levando 1,6 milhão de pessoas às areias de Copacabana. Você pode conferir uma resenha detalhada sobre o evento clicando aqui.

Madonna, ao longo de sua carreira de 40 anos, solidificou seu status como a maior artista viva de todos os tempos. Sua influência transcende a música, abrangendo também aspectos culturais, políticos e sociais. Madonna redefiniu a indústria do entretenimento, sendo pioneira em grandes turnês e shows espetaculares que estabeleceram novos padrões no mercado. Suas contribuições vão além dos palcos, sendo uma voz ativa em questões de direitos humanos, igualdade de gênero e liberdade de expressão. A The Celebration Tour foi uma reafirmação de sua importância contínua na indústria musical e na cultura popular. Com sua capacidade inigualável de se reinventar e inovar, Madonna continua a inspirar novas gerações de artistas e fãs em todo o mundo. A turnê celebrou não apenas suas conquistas passadas, mas também sua influência duradoura e o legado que continua a construir, reafirmando seu papel insubstituível como a Rainha do Pop.

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