Nada se entende da vida se não se compreende a finitude: afinal, ela é um dos nossos maiores desafios enquanto humanos. Mas todo fim também é um começo e, nesse eterno ciclo, é necessário lembrar da maior potência da vida: a transformação. Alphaleonis é um mergulho profundo no autoconhecimento e reconstrução de Malú Lomando, que narra o amadurecimento de uma mulher que toma as rédeas de sua própria vida. Ao vivenciar os processos internos do fim de um relacionamento, a multiartista se descobre em um movimento intenso de transformações íntimas. Cada faixa do álbum autoral traz a energia de um dos quatro elementos da natureza com uma narrativa amarrada de forma cíclica, apresentando sentimentos como apego, tristeza, raiva, autorresponsabilidade, aceitação e amor próprio.
“Sempre precisamos de um fim para ter um novo começo. Ao externalizar minha vulnerabilidade, vou de encontro com dores que, na verdade, são universais. Cada um passa pelo seu próprio processo interno, mas traduzir esses sentimentos em música pode fazer com que o próximo se descubra também”, diz Malú. Braço direito da artista, Renata Reis foi a responsável pela produção executiva e direção artística do projeto independente, amplificando a potência feminina que o novo trabalho busca transmitir.
Com gravações realizadas no Estúdio Invisível por Daniel Sanjines e Casca, cada canção do álbum representa uma fase do despertar de Malú, trazendo ritmos e vertentes musicais diferentes para cada momento vivido. Quem abre Alphaleonis é Chama, o intenso mergulho no caos interno para compreender que tudo é cíclico. “Eu tenho que me amar mais que te amar” é o risco do fósforo para a jornada de autorresponsabilidade da artista.
O interlúdio Sou Rio é uma poesia sobre a fluidez da vida, o desapego do que já passou e a certeza da sua potência como um grande oceano. Representando os primeiros passos para seguir em frente, Supernova teve seu lançamento em 2019 em parceria com o artista Barroso Eus. Questionando a igualdade de gênero e os nossos processos internos de fusão, o clipe dirigido por Renata Reis traz os dois artistas como símbolos da igualdade do homem e da mulher, do sol e da lua, em que um não é superior ao outro.
Estrela nos permite externalizar a raiva em forma de arte, como força motriz para o próximo passo. Sua letra traz a essência do álbum como um todo: “Nem sempre a gente fica com o amor da nossa vida (…). Você vai ver onde eu vou chegar. Transformar o meu caos em estrela, na mais brilhante que há”. O interlúdio Valsa do Sangue traduz a potência do sagrado feminino, a conexão da mulher com os seus próprios ciclos e a proposta de acabar com o tabu da menstruação.
O samba animado de Como Eu Deveria Ver As Coisas é um verdadeiro hino do amor próprio e da aceitação. Com referências de João Gilberto e Baden Powell, a canção mostra com leveza e otimismo que nós somos o amor da nossa própria vida, como diz o trecho: “Eu sempre estarei aqui para me amparar pro que der e vier”. O disco fecha com uma releitura festiva de Sonhos, canção de Peninha, com melodia que flerta com o funk e o pagode baiano. Ao acrescentar essas batidas em um clássico da MPB, Malú mostra que subverter também faz parte do caminho.
Alphaleonis se expande para além de um álbum musical: também é mantra, também é cura, também é coragem. Para completar o trabalho, foi realizada uma série de vídeos, também dirigida por Renata Reis, com a participação de convidados que se identificaram e se conectaram com as canções. O objetivo é expandir as reflexões e ouvir as histórias de cada um. “Músicas são como filhos: atravessam nosso corpo e transformam a nossa existência. A vida é pura transformação e temos que ter a consciência que nenhum sentimento é final, tudo pode mudar. Quisemos mostrar como cada pessoa se conecta com os processos e também com ela mesma”, diz Malú.
Malú Lomando tem 25 anos e é cantora, compositora, muralista e atriz, formada pelo Teatro-escola Célia Helena. Na música desde os 14 anos, ela cantava nos festivais da escola e gravava covers no YouTube, até participar do programa Estúdio Acesso MTV em 2012, se classificando como uma das finalistas.
De lá para cá, se desenvolveu como cantora e compositora, criando seu primeiro álbum autoral, Alphaleonis. Em 2019, Malú também lançou o clipe da canção Meu Homem, que simboliza, em uma narrativa realista, o fim do relacionamento que foi inspiração para o álbum.
Trazendo para os palcos a carga interpretativa da sua formação como atriz, Malú cria uma atmosfera teatral e ritualística em seu show, transformando o que poderia ser mero entretenimento musical em um espetáculo sensível de vulnerabilidades expostas.
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