Existe uma energia específica que circula no ar quando um artista chega ao palco sabendo exatamente quem é, o que construiu ao longo dos anos e o impacto que deseja provocar. Com Poppy, esse magnetismo se torna ainda mais explícito. É uma combustão imediata. Um atrativo para entrar em um universo que mistura agressividade, sensibilidade, técnica e uma dose generosa de estranheza calculada. Ontem, no Cine Joia, essa força tomou forma de um show que ultrapassou expectativas e solidificou algo que você provavelmente já sabia quando decidiu entrar ali: Poppy está entre os nomes mais importantes do gênero.
E não é exagero. Nem reflexão de fã pós-mosh. É fato, construção e consequência.

Para entender o impacto do que aconteceu no Cine Joia, é preciso voltar alguns passos e olhar para a trajetória dessa artista que muita gente tenta rotular, mas poucos conseguem decifrar. Poppy é o próprio nicho. É a mistura vibrante entre o metal, o pop industrial, o j-pop, o nu metal, o experimentalismo eletrônico e uma estética que, desde o início, usou do estranho para comunicar o real.
Você já deve ter visto aquele início como personagem quase robótica no YouTube, aquela figura meio ficcional, meio crítica da cultura da internet. Desde então, Poppy mudou, evoluiu, rasgou a própria pele artística várias vezes e emergiu em novos formatos com uma naturalidade desconcertante. Poucos nomes do metal atual conseguem ser tão camaleônicos sem perder coerência.
Não à toa, o Grammy a colocou como a primeira mulher solo indicada em Melhor Performance de Metal. Não à toa, ela circula entre Bad Omens, Bring Me The Horizon, Knocked Loose e dialoga com públicos que vão do purista do metal ao fã do pop alternativo. Poppy entendeu que a música pesada do futuro não seria uma ilha. Seria um arquipélago.
O Cine Joia lotou. Mosh pit surgindo em ondas, gente alternando entre surto coletivo e devoção, uma energia jovem que tomou a casa inteira. A sensação era clara: estava todo mundo pronto para participar do espetáculo, não só observar.
O setlist foi construído como uma escalada. Começou intenso com “have you had enough?” e, daqui pra frente, foi como assistir uma artista movendo camadas de si mesma. Quando “BLOODMONEY” veio, a casa parecia prestes a descolar do chão. A versão de “V.A.N”, da Bad Omens, ganhou corpo e violência. “the cost of giving up” chegou com sua melodia impecável e, mesmo com o microfone um pouco abaixo do ideal, era impossível ignorar a nitidez com que Poppy alterna entre delicadeza e brutalidade.
Sim, houve desvios da banda. Sim, o som desequilibrou alguns momentos. Mas nem a falha técnica foi capaz de diminuir a força da performance. Pelo contrário: realçou ainda mais a presença dela. Você queria ouvir mais da voz. Queria aquele timbre cortando mais alto entre as guitarras e a bateria. Queria a nitidez que os discos entregam com perfeição. Isso só acentuou o desejo. E isso diz muito sobre a potência de quem está no palco.
Se algo define Poppy neste momento da carreira, é o controle absoluto sobre sua identidade artística. Quando ela canta, parece existir duas entidades convivendo ali. O angelical e o diabólico, o etéreo e o visceral. Essa oscilação é tão parte dela quanto as influências que carrega. É como se Poppy canalizasse eras diferentes da música e devolvesse tudo em um único golpe.
E o público sente isso. Sente demais. A intensidade em “Anything Like Me”, o peso de “I Disagree”, o frenesi de “Bite Your Teeth”, a catarse de “Concrete” e o clima de arena em “new way out” deixaram claro por que tanta gente a vê como uma das maiores forças da renovação do metal atual.
A cada música, o público parecia entrar um pouco mais dentro da estética sombria e luminosa que ela constrói. Era bonito de ver. Era caótico de ver. Era impossível não se envolver.
Um show da Poppy funciona quase como um rito. Ela desenha o percurso, o público completa o gesto. A roda de mosh não era só reflexo do peso das músicas. Era uma resposta emocional direta à presença dela. Um público jovem, inquieto, conectado com o que ela representa. Um público que entende que a música pesada do futuro passa pela ruptura, pela mistura, pela coragem de não caber em uma caixa.
Poppy tem personalidade para isso. Tem repertório para isso. Tem presença para isso.
Mesmo com problemas de mixagem, desvios instrumentais e uma acústica que às vezes sacrificava detalhes da eletrônica, o que ficou foi a certeza de que, ao vivo, Poppy transforma imperfeição em sinceridade. Nada parecia artificial. Era real. Era humano. Era intenso.
Se você está lendo até aqui, talvez esteja se perguntando por que um show relativamente curto, em um espaço relativamente pequeno, carregou um peso tão grande. A resposta é simples: Poppy já ultrapassou o status de curiosidade estética.
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