Primeiro álbum de estúdio da Pluma chega maduro e equilibrado

O primeiro álbum de estúdio da Pluma, “Não Leve a Mal“, é um dos melhores lançamentos nacionais do ano. Extremamente maduro, o disco tem um tom brasileiro muito forte e uma mistura de cultura local com fundamentos musicais internacionais, posicionando a banda como um dos nomes mais quentes do cenário musical.

A infinitude dos ciclos da vida é o que conduz a Pluma em “Não Leve a Mal“, que já está disponível em todas as plataformas digitais. Composto por 12 faixas, o projeto conta com a participação do duo Deekapz e aborda temas como melancolia, pessimismo, leveza e libertação, traduzidos entre elementos de R&B, neo soul, jazz, pop, indie rock e psicodelia.

Primeiro álbum de estúdio da Pluma chega maduro e equilibrado | Foto: Maria Cau Levy

Iniciado em meados de 2022, o processo de criação do álbum foi espontâneo e coletivo, tomando forma durante os ensaios da banda. Enquanto os quatro integrantes reuniam referências que iam de Rita Lee a Tame Impala para construir uma sonoridade mais madura e equilibrada, a vocalista Marina Reis trabalhava na composição de melodias e letras sobre experiências universais que expressam perfeitamente o momento artístico da banda, como aceitação de términos e libertação de culpas.

Vemos esse álbum como uma mistura bem equilibrada do que descobrimos e aprendemos no primeiro EP, com experimentações e ferramentas do segundo EP. Foi uma chance de executar tudo que a gente queria e sabia em relação à composição, produção, captação de áudio, podendo apresentar isso junto com conceito, num projeto maior. Não rolou uma decisão sobre o que iria conduzir o disco, foi baseado em nossa bagagem, nas referências de música gringa como R&B, Neo Soul, Jazz, Indie e psicodélico, até algumas referências pop, mas tentando fazer tudo conversar com a música brasileira e com nossas canções” comenta Guilherme Cunha.

A banda enfatiza como a influência de artistas como Rita Lee e Tame Impala foi consciente e deliberada. Rita Lee e Tame Impala foram referências muito fortes. Em algumas músicas, parávamos para escutar e ver como eles faziam certas partes, para fazer igual. A música brasileira sempre tenta incorporar nas coisas, pegamos muita referência de coisas gringas, como soul e jazz, mas queremos manter a brasilidade nas músicas. É um diferencial nosso, uma contribuição que outras bandas de fora não conseguem dar,” explica a banda. A banda complementa destacando a complexidade de incorporar a música brasileira: “É muito natural, o que a gente vai fazendo por conta dessas referências. E a gente curte muito coisa gringa, o próprio sintetizador na banda já leva pra um outro lugar. Mas que bom que apareceu, de uma certa forma, porque eu lembro da gente também ter essa preocupação. A música brasileira tem um lado da canção também, que é muito diferente de outros estilos, enfim. No final das contas, é um disco brasileiro, ele tem que soar brasileiro, senão fica uma parada meio artificial.

Quando começamos a trabalhar no álbum, não tínhamos uma direção específica,” explica Marina Reis. As letras, quase todas, vieram de um lugar de reflexões sobre os relacionamentos. Eu estava meio pessimista, entendendo que tudo começava, tinha um meio e acabava. E isso estava tudo bem. O título ‘Não Leve a Mal’ veio disso. Estou desabafando, mas não é tanto sobre você. Os ciclos são assim, eles começam e acabam.

A banda fala sobre como o álbum reflete seu ciclo de vida atual. Eu acho que tem um lance de vida adulta. A maioria aqui tem entre 24 e 27 anos. Quando você começa a entrar nessa idade, você não é mais adolescente e começa a ser uma pessoa muito mais nostálgica. Você busca outras formas de ter aquela euforia que tinha quando era adolescente ou criança. Acho que, inconscientemente, sempre buscamos explorar novos gêneros musicais e novas formas de sentir isso. Isso reflete nosso estágio de vida“.

Primeiro álbum de estúdio da Pluma chega maduro e equilibrado | Foto: Maria Cau Levy

O processo de criação do álbum foi coletivo e espontâneo. “A gente começou o processo do disco quando já tinha exprimido tudo dos dois EPs. A gente tinha rodado, fizemos shows, e rolado várias oportunidades incríveis. O pontapé inicial foi juntar várias ideias que tínhamos de ensaios. No meio desses ensaios para shows, sempre surgia uma ideia ou outra. Chamávamos essas ideias de ‘sementinhas de música’. Aí, nesse meio tempo, a Marina e o Diego trouxeram algumas composições do zero, o que não era nosso usual, e isso deu um grau nas composições“.

Eles descrevem uma viagem para Cambará, no Paraná, onde se isolaram para trabalhar nas músicas. “Ficamos isolados uns dias para trazer esse corpo do álbum. Desde o começo, dessas ideias que cada um trazia, até mesmo nesse tempo que ficamos isolados, era sempre todo mundo lá, mexendo no computador, dando ideia, colocando um sample em cima do outro, picotando uma parte da música, gravando outra coisa. Foi nessa viagem que surgiu o grande corpo do disco inteiro.”

A banda detalha a evolução na adaptação das melodias em português:Achamos que explorar isso da nossa forma, cantando em português, era até uma dificuldade no começo que eu tinha. De cantar em português e com melodias que soassem bem em português, com uma entonação que soasse bem, em bases que muitas vezes tendiam a trazer mais pra outro lugar. Porque a gente tentava fazer house e ritmos que são gringos, e às vezes colocar português em cima disso é muito difícil. É muito fácil ficar meio tosco. E eu fui entendendo como construir isso de um jeito que ficasse legal. Eu acho que isso ajudou também a trazer uma sonoridade diferente.

O álbum também contou com a contribuição de Pedro Martins em “Plano Z”, uma faixa que ajudou a definir a direção do álbum.Já tivemos algumas oportunidades de trabalhar em cima de uma canção pronta, de outra pessoa, respeitando a letra e a história que está sendo contada. Nosso grande amigo Pedro Martins trouxe essa canção incrível, que tem tudo a ver com o sentido do álbum. Ela ajudou a traçar o caminho de outras músicas” diz Guilherme.

Para o futuro, a banda tem grandes aspirações.Daqui a cinco anos, eu gostaria de construir um público bem sólido aqui no Brasil, fazer turnês pelo país e ter casa cheia em todos os lugares. Ter esse público sólido e, quem sabe, fazer algumas Euro Tours, tocar em Tóquio, fazer festivais legais pelo mundo” conclui Marina.

Primeiro álbum de estúdio da Pluma chega maduro e equilibrado | Foto: Maria Cau Levy

Confira um faixa a faixa do disco “Não Leve a Mal” com participação da banda Pluma:

Quando Eu Tô Perto: Para mim, essa é a faixa que mais se assemelha às nossas músicas antigas, com muitas partes diferentes e quebras de tempo. – Dizzy

Se Você Quiser: Esta faixa é uma das mais descontraídas do disco. A letra é bem direta e eu busquei descrever sensações carnais sem me filtrar tanto. Essa descontração também é explorada no instrumental, com o refrão mais dançante. – Marina

Corrida!: Representa uma reflexão sobre uma relação que já acabou. Talvez tenha o ar mais pessimista do álbum. Quando escrevi a letra, sentia que realmente todo relacionamento tem um fim, e algo que já pareceu tão intrigante não passou de uma história sem sal e sem graça. – Marina

Jardins: Compus essa música na virada de ano de 2021 para 2022. Foi uma daquelas que vem toda pronta: letra, melodia e harmonia. É uma música bem imagética que mistura e relaciona coisas imensas e fora de alcance com coisas do dia a dia, mais mundanas. – Dizzy

Mais Uma Vez: Amo a correlação entre letra, estrutura e sonoridade dessa faixa. Ela também fala sobre desejos carnais e as dúvidas que permeiam quando suas vontades podem machucar outra pessoa. Os versos mais contraídos falam mais sobre a voz da razão enquanto os refrões, principalmente o segundo, representam o lado explosivo e passional que habita em todos nós. – Marina

Preguiça: Essa faixa tem um clima bem diferente do resto do álbum e foi a única que gravei sozinho. A intenção era gerar o máximo de sensação de letargia e lentidão, quase indo para trás, uma música que não dá pra escutar sem bocejar no final. – Dizzy

Não Leve a Mal: Lembro que essa música nos ajudou a dar a direção do álbum; todas as partes dela fluíram de forma muito natural e faziam sentido. Não à toa, leva o nome do disco. Ela também foi uma descoberta de um lado novo nosso, com climas, timbres e texturas diferentes, onde achamos um lugar novo para a voz da Marina. Exploramos samples de uma forma diferente e o som que tiramos de cada instrumento foi bem individual. A letra carrega um dos sentimentos principais do álbum, sendo sincera e apresentando uma dualidade de ser pesada e leve ao mesmo tempo. Faz referência à primeira música do álbum, pois surgiu de um recorte dela. Para mim, foi a música onde os quatro se encontraram. – Gui

Plano Z: A única faixa do disco de outro compositor, não tinha como não ser especial. Já tivemos algumas oportunidades anteriormente de trabalhar em cima de uma canção pronta de outra pessoa, respeitando a letra e a história que está sendo contada, pensando apenas no arranjo e na produção dela, em como transformar a letra em som. Nosso grande amigo Pedro Martins trouxe essa canção incrível, que, coincidentemente ou não, tem tudo a ver com o sentido do álbum. Na primeira vez que ouvimos, já sentimos essa sintonia dela dentro do todo, inclusive nos ajudou a traçar o caminho de outras músicas. Além de tudo isso, conseguimos colocar referências de drum’n’bass e jungle num bpm mais alto, explorando uma sonoridade que curtimos muito, mas que ainda não tínhamos tido a oportunidade de aplicar. – Gui

Sem Você (feat. Deekapz): Acho que é a que mais tem a ver com nossas músicas anteriores, indo mais para um lado jazz e groove. Curto demais a sonoridade e os timbres que tiramos nela, e o feat com o Deekapz somou demais. A mistura do house meio gravado em banda, meio produzido no computador ficou especial. Ela ainda tem uma das letras mais diretas e fortes do álbum. – Gui

Doce/Amargo: O Dizzy trouxe essa canção quase finalizada e o começo de todo o processo foi desafiador, pois normalmente fazemos o inverso. Tentamos trazer algumas referências diferentes, mais dançantes, meio música brasileira dos anos 70, 80. Mais pra frente, ela tomou outro rumo e se misturou com synths e samples. Lembro que ficamos um tempo ouvindo muito Rita Lee para achar o caminho dela. Isso foi bem importante, pois foi uma das faixas que puxou esse clima de dança e show – que era uma vontade nossa desde o começo da criação do álbum. – Gui

Quanto Vai Ficar?: Essa foi uma das últimas músicas a tomar forma porque rolou um bloqueio em relação a ela. Mas, quando retornamos para o processo de criação, sinto que tudo fluiu de uma forma incrível. O refrão com cordas e sem letra, a estrutura e diferentes momentos dessa faixa a tornam bem diferente e especial. O groove, os timbres, os respiros e, na ordem do álbum, dos ciclos, ela tem um lugar muito sincero e denso. Sinto que a Marina usou muito bem o espaço que ela tinha liricamente e instrumentalmente, utilizando a voz de uma forma que eu amo. – Gui

Sonar: A primeira ideia dessa música nasceu quando estávamos planejando um feat com a banda Pelados, que nunca saiu. Fala sobre projeções astrais, ter calma e olhar pra dentro, um pouco sobre medo também. Ela tem um ar de conclusão que fechou bem o álbum. A letra é um pouco mais subjetiva, mas me traz a sensação de tranquilidade e aceitação. O solo de trompete do Lucas Gomes, sobrando sozinho enquanto a banda desaparece, fecha a obra quase como se estivéssemos nos despedindo. – Marina

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