O multiartista RalphTheKiD, conhecido por suas colaborações com grandes nomes da cena como Veigh, Cleo e Recayd Mob, uniu forças com as rappers MC Luanna e Ajuliacosta em seu mais recente single, “Ai Caralh*“. Esse lançamento não apenas inaugura uma nova fase para Ralph, mas também serve como prelúdio para o seu álbum inédito. O single veio acompanhado de um videoclipe, lançado em 5 de abril. O Caderno Pop teve a oportunidade de conversar com Ralph e Ajuliacosta sobre esse lançamento. A entrevista completa está disponível abaixo:
Ralph, você hoje é um artista que tem trabalhado com nomes proeminentes da cena, como a Recayd Mob, como você vê seu papel na evolução do gênero e na cena musical brasileira como um todo? Além disso, como esse papel se reflete em seu novo álbum e na colaboração com MC Luanna e Ajuliacosta em “Ai Caralh*”?
Estar no começo do Trap brasileiro foi, com certeza, uma das experiências mais profundas que já tive, essa é uma época em que todo mundo sonhava pelo mesmo propósito. Acho que não só eu, mas todos que são dessa “geração” do trap de 2016/17 tiveram grande responsabilidade pela “musica urbana” como foi rotulado pelas grandes gravadoras – ter a sonoridade que tem em 2024. Desde o jeito de falar, de se vestir, de rimar e de interpretar a música, tudo isso foi renovado na cena do rap por essa mesma geração na qual também pertenço.
No meu álbum esse papel se reflete pela confirmação dessa importância na história do trap e também trazendo traços nos beats dessa época tão marcante no gênero. A colaboração com a MC Luanna e Ajuliacosta marca uma nova versão de RalphTheKiD, com um propósito muito maior ao anterior.
Ralph, sua jornada desde a infância até se tornar um nome reconhecido na cena musical brasileira é impressionante. Como você vê seu papel como um modelo para jovens talentos, especialmente aqueles que vêm de comunidades menos privilegiadas? Você acredita que a música pode ser uma ferramenta poderosa para inspirar e capacitar os jovens?
A grande vantagem da tecnologia na música hoje em dia foi que ela democratizou um pouco o sucesso para os artistas, ou seja, hoje em dia é possível sim estourar uma música que foi gravada no celular ou com pouco recurso. Claro que não se compara a artistas que injetam dinheiro diariamente, mas ainda é mais possível do que há anos atrás, onde praticamente só tinha sucesso quem estava filiado a grandes gravadoras.
Dito isso, o que quero dizer é que: é sim possível chegar ao sucesso com menos recurso hoje em dia, mas tenha em mente que vai ser muito mais difícil do que parece, e que persistência e constância valem muito mais que apenas talento. Você vai sim precisar se entregar de corpo e alma para o negócio, vai precisar sair da sua zona de conforto, mas tudo isso fica pequeno comparado a dor do arrependimento de não ter tentado seu sonho. E sim, a música com certeza é uma ferramenta para inspirar e capacitar os jovens. Por experiência própria, os melhores momentos da minha vida foram acompanhados por alguma música rolando, e toda minha motivação em momentos de crise vieram de ouvir músicas que me faziam sentir mais forte.
Ajuliacosta, como uma voz ativa no rap e na arte em geral, você aborda questões importantes, desde o empoderamento feminino até debates sociais relevantes. Como você equilibra a expressão artística com o ativismo e qual você vê como o papel do artista na promoção da mudança social e cultural?
Acho que a arte é debate. É realmente levantar questões nas quais as pessoas reflitam, seja sobre amor, desamor, vivência ou questões políticas. Aliás, se expressar já é um ato político. Não existe tentar um equilíbrio sobre isso, sou o que sou e tudo flui de forma natural.
Ralph, como alguém que fundou sua própria gravadora e se aventurou no mundo da moda, você está desempenhando papéis diversos na indústria criativa brasileira. Como você vê a interseção entre música, moda e outras formas de expressão artística? Como você espera que esses campos se influenciem mutuamente no futuro?
Com certeza o gênero que mais tem a união das duas áreas é o Rap/Trap. Os dois estão diretamente ligados, não diria nem apenas ligados, mas estão emaranhados como um DNA desse estilo musical. Por exemplo, no rap se você não tem uma boa noção de moda, independente do estilo que seja, você pode não fazer sentido nos olhos das outras pessoas. Se você se porta com determinada postura, mas consome um estilo diferente dessa mesma postura, você tende a causar estranheza nos olhos do ouvinte.
No futuro eu acho que tende a estar cada vez mais unido, quase que virando a mesma coisa, digo isso pelos últimos acontecimentos da Louis Vuitton, com Pharrell Williams e Virgil Abloh que era também DJ, ASAP Rocky também é uma grande referência nesse quesito. Aqui no Brasil temos também nossos artistas que vem por esse caminho, e eu também, que pretendo desfilar novamente no São Paulo Fashion Week e ter meu rosto estampado por aí representando grandes marcas.
Olhando para o futuro, quais são suas esperanças e aspirações de vocês dois para a cena musical brasileira? Como vocês veem seu próprio papel nessa jornada e que impacto vocês esperam deixar na indústria musical brasileira?
RalphTheKiD: Por incrível que pareça eu vejo que o Brasil ainda não chegou nem nos seus 40% do que tem pra alcançar no Trap, vejo um futuro muito próspero no âmbito musical para o Brasil. Nosso país sempre foi referência quando se trata de música, desde a época do João Gilberto e a Bossa Nova, e não está sendo diferente hoje com artistas como Kanye West “sampleando” nosso DJ Rocca, fora as turnês que estão rolando na Europa, temos também os contratos que estão cada vez mais valiosas com as grandes gravadoras, os cachês que estão subindo. Pode até parecer que não tem mais espaço para novos artistas, mas não se iluda com isso, é exatamente nesses momentos que surge alguém novo com uma tendência nova.
Vejo meu papel como um criador de tendência, é natural para mim buscar isso. Quando comecei a fazer trap ninguém dava nada pelo gênero, era totalmente desacreditado e muito na contramão de tudo que existia na época, era até socialmente desacreditado pelas letras das músicas. Hoje é bem mais fácil querer ser Trapper, todos já viram que dá dinheiro, dá fama e mídia. Eu, como busco sempre o novo, gosto do embate e do conflito de mostrar algo novo, gosto de ser desacreditado e virar o jogo, então é natural que eu deva vir com algo na contramão de tudo, mas claro, ainda dentro do trap que é o que me cativa.
Ajuliacosta: Eu quero deixar a marca na indústria musical de uma mina que não rendeu nas ilusões que o mercado oferece. Quero me manter independente e fazer valer o espaço que tenho conquistado. Deixar minha marca, é mudar algo. Por mais que eu não saiba exatamente o que. Sinto que sou a mudança.