Os Titãs lançam nesta sexta-feira, 3 de abril, o primeiro de três EPs do projeto “Titãs Trio Acústico”, contendo oito faixas que são grandes sucessos da banda ao longo desses 38 anos. O EP já é um sinal do que a banda pode preparar para comemorar os 40 anos de carreira, que chegam em breve.
A formação traz Branco Mello, Sergio Britto e Tony Bellotto. Os três se revezam nos vocais, enquanto Britto assume piano ou baixo, Branco, baixo ou violão, e Tony, violão, violão de 12 cordas ou guitarra acústica.
Neste “Trio Acústico – EP01”, o desafio foi recriar canções com o mínimo de elementos. Algumas ganharam versões onde um deles somente a conduz em voz e algum instrumento. A escolha do repertório, aliás, é outro ponto de atenção no trabalho, já que mais uma vez encararam o desafio de desnudar as canções seja qual fosse a complexidade de elementos no registro original.
O registro era para ter marcado o aniversário de 20 anos do lendário “Acústico MTV”, só que o seria se fosse lançado em 2017. Mas na época eles estavam focados na composição e lançamento da primeira ópera-rock escrita e composta por uma banda no país, “Doze Flores Amarelas”.
O Caderno Pop conversou com Sergio Britto sobre o projeto, shows e o que esperar para os 40 anos da banda. Confira:
O “Acústico MTV” é um álbum icônico e logo foi seguido pelo “Volume Dois”, que também foi um sucesso enorme. Agora com o novo material, também acústico, formação mais enxuta, ainda que rolem algumas participações, vocês pretendem seguir esse som mais intimista? Para os 40 anos da banda, por exemplo, já estão programando algo semelhante?
Esse som mais intimista ele combina com esse projeto, então a gente ainda vai fazer muitos shows, imagino, com essa formação e com esse repertório que foi arranjado dessa maneira, mas a gente tem feito em paralelo shows elétricos. A gente não descarta a possibilidade de reencenar a Opera Rock numa situação mais oportuna. E quanto a essa questão dos 40 anos eu acho que seria outra história. Aí sim a gente faria um projeto comemorativo, com convidados, obviamente ex-Titãs seriam convidados também. Depende deles aceitar ou não, mas é um projeto que a gente gostaria de realizar, de fazer uma comemoração bonita dos 40 anos de carreira meu, do Tony e do Branco, de Titãs, e acho que provavelmente a gente faria um show em que poderia haver uma parte no meio do show que a gente fizesse um set acústico, enfim, aí a gente teria que analisar e ver todas essas possibilidades com certeza.
De oito, agora pra três, foi e está mais fácil discutir as ideias, revezar instrumentos, vocais, expor os pensamentos…?
Olha, eu acho que quando você parte do princípio que você colabora com pessoas em termos de igualdade, em que todos têm poder de decisão, todos opinam, eu acho que há dificuldades e há vantagens, então acho que sendo em oito ou três, essa questão sempre vai existir de você lidar com alguém que não pensa como você, de você tentar convencer essa pessoa, de tentar atingir o consenso. Isso tudo é uma dinâmica que a gente se acostumou a fazer em oito, mas que vale pra três, valeria pra cinco, valeria para um número qualquer. E eu acho que têm dificuldades nos dois formatos, por assim dizer. Muita gente ou menos gente não elimina os problemas, eu acho. O que elimina problema é você estar em sintonia, o que elimina conflito é você estar em sintonia, em cumplicidade com as outras pessoas. Quando estávamos em oito, nós tivemos momentos de muita cumplicidade, muita sintonia também e as coisas eram fáceis de certa maneira.
O primeiro single do novo projeto, “Sonífera Ilha”, teve um clipe com uma participação de muita gente importante e é uma das, se não for a faixa que mais marca a carreira de vocês. A gente sabe que ainda tem mais dois EPs pela frente. Podem adiantar um pouco do que foi selecionado para esse projeto?
Olha, a nossa ideia era não antecipar, exatamente para que houvesse algumas surpresas no repertório desses outros dois EPs, mas eu vou te falar das inevitáveis, de canções que a gente gravou e fizeram sucesso depois do lançamento daquele disco de 1997, que de certa maneira a gente tá comemorando, como por exemplo “Epitáfio”, “Enquanto Houver Sol”, outras várias que a gente gravou depois, então essas músicas vão fazer parte desse disco. São 25 músicas, então é um apanhado bacana de tudo que a gente fez de relevante, não só de sucessos, mas de músicas também emblemáticas, importantes na nossa carreira que talvez não tenham ficado tão conhecidas como outras, mas que são igualmente relevantes.
O Sergio Britto fez algumas participações em projetos de outros artistas/bandas e também recebeu participação em disco solo dele. Os Titãs estão abertos pra mais parcerias como essas? Pensam em convidar alguém pra compor o time, fixo ou não, em próximas turnês?
É realmente algo que eu faço com constância, algo que eu gosto, especialmente de convidar pessoas para cantar músicas minhas, eu gosto de timbres de vozes diferentes, maneiras de cantar diferentes, então quando eu faço um disco solo, que eu tenho muito espaço ali, é mais fácil, é uma decisão que cabe exclusivamente a mim e também facilita esse tipo de interação com outras bandas, outros músicos, outros artistas. Nos Titãs não vou dizer que é mais complicado, mas é mais completo, porque tem mais espaço, são três cantores, são três pessoas que têm gostos diferentes e tal, e a gente sempre foi uma banda autoral, né. Então acho que quando a gente grava nossas músicas, a nossa marca tem que tá imprimida. Um pouco da força dela, dessas canções depende disso, da nossa estética. Mas eu acho que não é uma coisa descartada assim, acho que em projetos comemorativos, se a gente for fazer essa turnê de 40 anos, isso seria muito bacana, muito cabível essa interação com outros artistas. Fora que é sempre prazeroso.
A gente tem visto crescer muito ultimamente outros ritmos como funk e sertanejo, que acabam dominando os charts das plataformas digitais. Hoje, como vocês analisam o cenário do rock nacional? Quais bandas/artistas vocês têm curtido?
Eu vejo da seguinte maneira… acho que tem pouco espaço, pouco canal para que bandas de rock aconteçam e acho que as bandas de rock talvez ainda não tenham sabido se adaptar a esse novo formato de vídeos e singles que é como o funk opera por exemplo. Sertanejo talvez tenha outra maneira de funcionar. A música sempre foi popular no Brasil, tá em todas as feiras agropecuárias, então difícil fazer uma análise. Mas eu acho que têm muitos artistas e muitas bandas novas tocando Brasil afora, de gente nova, mas com pouco espaço e as pessoas dão pouca atenção aos trabalhos autorais de bandas de pop/rock hoje em dia. Eu mesmo faço algumas participações em alguns shows com bandas locais quando viajo e reparo que as pessoas querem ouvir covers e essa é uma queixa de muitos músicos em lugares, em casas de show que não diz respeito só aos donos das casas de shows, mas também ao público que um pouco se acostumou a ouvir covers, coisas que já conhecem. É um quadro que não tem ajudado essa renovação, mas eu acho que como tudo isso costuma ser, acho que é cíclico, acho que talvez a gente tenha daqui a um tempo espaço para que isso aconteça novamente, a gente veja surgir bandas novas com trabalho autoral forte, que se firmem e deixem sua marca na música popular brasileira.
Ouça: