Já está disponível em todas as plataformas digitais “Vanguart Sings Bob Dylan” (Deck), uma homenagem do Vanguart a um dos maiores compositores da música contemporânea. O primeiro álbum não-autoral da banda foi gravado no Estúdio Tambor (Rio de Janeiro), com produção de Rafael Ramos e será lançado também em CD e num compacto em vinil com 3 faixas: “Blowin’ In the Wind”, “Tangled Up in Blue” e “Don’t Think Twice, It’s All Right”.
Os shows de lançamento acontecem dias 5, 6 e 7 de julho no Sesc Santana, em São Paulo.
Release:
Quase vinte anos atrás, tive minha primeira desilusão amorosa. Na mesma semana, adquiri uma cópia de um disco do Bob Dylan para acompanhar aquele coração partido que eu carregava. O álbum era “Blood On The Tracks”. Aos soluços, nunca me esqueci de ouvir a primeira faixa que terminava com os versos “Nós sempre sentimos o mesmo / apenas vimos as coisas de um ponto de vista diferente”. Das ironias da vida, esta mesma canção é “Tangled Up In Blue”, que abre o álbum lançado agora com minha banda: “Vanguart Sings Bob Dylan” (Deck).
Robert Allen Zimmerman, hoje prêmio Nobel de Literatura, com 38 discos de estúdio lançados, foi cantado desde o início de sua carreira por artistas como Rolling Stones, Nina Simone, Joan Baez, Peter Paul & Mary, e uma lista que endossaria o cheque de seu Nobel e de qualquer pesquisador de música popular como um dos maiores compositores de todos os tempos. Se sua belicosidade poética chocara os Estados Unidos desde o lançamento de “The Freewheelin”, Bob Dylan, em seu segundo álbum que já trazia clássicos como “Blowin’ in the Wind” e “Master of War”, tampouco poderia dizer que seus versos foram menos sagazes e pungentes em Cuiabá, no coração do Brasil, onde o Vanguart nasceu. Dylan sempre foi o maior dos atalhos de comunicação entre e a poesia e o homem comum, cantado como o grande valor a ser compreendido na sociedade, algo que já havia sido apontado um século antes por Walt Whitman, e quase contemporaneamente a ele nos anos 1950, pela geração beat, de quem Bob era completamente fã.
Após quatro discos autorais em 11 anos, o Vanguart se enfurnou no estúdio Tambor, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2018, junto do produtor Rafael Ramos para registrar seu primeiro álbum não-autoral. Dezesseis canções do bardo americano foram gravadas de modo ao vivo, dando ênfase a seus primeiros 15 anos de carreira, com exceção para “Make You Feel My Love”, do álbum de 1996, “Time Out of Mind”. Foi uma experiência surreal voltar o coração musical a canções que fizeram parte de nossa adolescência e vida adulta. Não saberia dimensionar o tamanho da emoção ao revisitar os clássicos do primeiro álbum dele que ouvi, o mesmo do começo deste texto, como “Simple Twist of Fate” e “You’re A Big Girl Now”, assim como “Restless Farewell”, de seu terceiro trabalho “The Times They Are A-Changing”, escrita aos vinte e tantos anos por Dylan, que Frank Sinatra disse, ao completar 80, ser a canção que parecia ser a história de sua vida inteira. Também impossível não se impactar ao ver minha parceira Fernanda Kostchak (violino, voz) cantar de modo irrepreensível a tradicional “House of the Risin’ Sun” e tocar seu violino em canções do disco “Desire” como “One More Cup of Coffee” e “Hurricane”, esta última em incansável interpretação vocal de David Dafré (guitarra, lap steel e voz). Outros clássicos como “It’s All Over Now, Baby Blue” e “I Shall Be Released” ficaram a cargo de meu escudeiro dos vocais Reginaldo Lincoln (baixo, bandolim, guitarra, voz), que mais uma vez assumiu os microfones com maestria. Junto de nós estava Julio Nganga nos pianos e órgãos hammond, e os dois bateristas Kezo Nogueira e Pedro Gongom, se revezando entre as canções mais delicadas e mais rock and roll. Os cinco dias em que registramos essas 16 canções foram certamente um “escape” dentro do dia a dia de uma banda, onde não existiram os extenuantes ensaios, as pendências harmônicas, a busca pelo take perfeito. Assim como Dylan nos ensinou de maneira errática, a música é contar uma história, é redesenhar uma sensação. Se isso soa quase óbvio hoje, agradeça a Bob.
A importância de um disco do Vanguart tocando Dylan, para além de celebrar a obra do compositor, é enorme, pois ao mesmo tempo que nos faz compreender de onde viemos também nos mostra que podemos ir muito além de bandeiras e gêneros fincados dentro da música e seus limites. Para mim, as canções de Dylan não falam sobre a revolução e sim sobre refletir acerca dela. Não falam sobre a violência e sim sobre a liberdade. Faz compreender por que a poesia ainda é a força capaz de abrir mentes e congelar guerras individuais e coletivas. Enquanto os ventos seguirem soprando, a resposta continuará lá.
Por Helio Flanders
Tracklist:
1. Tangled up in Blue
2. Don’t Think Twice It’s All Right
3. Just Like a Woman
4. It’s All over Now, Baby Blue
5. Simple Twist of Fate
6. I’ll Keep It with Mine
7. You’re a Big Girl Now
8. The House of the Rising Sun
9. I Shall Be Released
10. Ballad of a Thin Man
11. Hurricane
12. Like a Rolling Stone
13. One More Cup of Coffee (Valley Below)
14. To Make You Feel My Love
15. Restless Farewell
16. Blowin’ in the Wind
Ouça no Spotify: