A edição de 2025 do Festival de Cannes consagrou o cineasta iraniano Jafar Panahi com a Palma de Ouro pelo filme “A Simple Accident”, marcando o retorno do diretor à principal competição do festival mais prestigiado do circuito internacional. Após mais de duas décadas sem comparecer pessoalmente ao evento, Panahi volta a ocupar o centro das atenções com um filme ancorado nas experiências que viveu sob repressão estatal e no sistema prisional iraniano.
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A premiação foi anunciada neste sábado (24), com a presidente do júri, Juliette Binoche, destacando o poder transformador da arte ao entregar o principal troféu do festival. O reconhecimento do júri a um cineasta dissidente, que enfrentou diversas detenções e censuras por sua atuação política, reforça a dimensão simbólica do prêmio neste ano.
Em “A Simple Accident”, Panahi se inspira diretamente nas passagens que teve por diferentes regimes de detenção, mesclando experiências de confinamento solitário e vivências compartilhadas com outros prisioneiros políticos. A narrativa acompanha Vahid, interpretado por Vahid Mobasseri, um programador e motorista de táxi que acredita ter reencontrado o homem responsável por torturá-lo anos antes, identificado apenas pelo som peculiar do rangido da prótese em sua perna direita. O personagem, em um impulso de vingança, sequestra o suposto algoz e inicia uma jornada ambígua entre castigo e dúvida moral, carregando o refém pelo deserto e, depois, pelas ruas de Teerã, em busca de antigos colegas de prisão que possam confirmar a identidade do sequestrado.
O filme articula um suspense de estrutura simples, mas com camadas densas de memória, culpa e justiça. A atuação de Vahid Mobasseri, ao lado de Ebrahim Azizi, contribui para o tom documental e sóbrio da narrativa. Panahi, mais uma vez, explora a tensão entre indivíduo e Estado, mas agora desloca o eixo da crítica política institucional para um exame ético das consequências da repressão sobre os próprios sobreviventes.
O reconhecimento ao filme em Cannes reafirma o lugar de Panahi como uma das vozes mais relevantes do cinema contemporâneo, ainda que constantemente silenciado por seu país. “A Simple Accident” marca seu primeiro trabalho desde que o governo iraniano suspendeu, de maneira ainda indefinida, algumas das restrições à sua atividade artística.
O Grande Prêmio do Júri, segunda principal honraria do festival, foi concedido a “Sentimental Value”, novo filme do norueguês Joachim Trier.
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