A cantora estadunidense Billie Eilish lançou no último dia 17 o álbum “Hit Me Hard and Soft“, que vem movimentando o mundo da música. O disco se posicionou como uma das melhores obras do ano, sendo até mesmo comparado a grandes clássicos da música. Billie convida seus ouvintes para uma jornada complexa em seu trabalho mais pessoal.
A capa do disco é convidativa, fazendo-nos pensar e repensar diversas coisas, com uma identidade visual forte que transmite exatamente o que o disco se propõe a ser. A jornada se inicia na melancólica faixa “Skinny”, com sussurros e uma guitarra suave. A música aborda estar apaixonado por um amigo e as emoções complexas envolvidas nessa situação. Também reflete sobre aparência, rejeição e outros temas que envolvem o amor e complexidades de amadurecer. A canção é gostosa, cheia de camadas, e chega a ser visceral. A voz de Billie quase se torna um instrumento na construção da faixa. A habilidade vocal da cantora é explorada ao extremo, com variações, sussurros e um emocionante ato final. A música é um clássico instantâneo, uma introdução perfeita para a jornada que se entrelaça com o restante do álbum, provando mais uma vez a maturidade de Billie como compositora e seu domínio sobre a própria voz e história.
Na sequência, entramos mais profundamente na mente de Billie com a faixa “Lunch”, que possui características mais familiares aos seus lançamentos anteriores. É uma daquelas músicas que realmente têm “gosto do amor da minha vida” (risos). Billie sabe o que diz e tem atitude. A canção é centrada e transmite sua mensagem de forma direta e reta. É artística, com um instrumental encorpado e a voz incomparável que tornou Billie popular. A música é uma releitura do amor selvagem em uma carta de amor sincera. Aqui, vemos uma Billie muito mais adulta.
Em “Chihiro”, a cantora enfatiza seu amor pela obra de arte em forma de filme do famoso Studio Ghibli, A Viagem de Chihiro. Em entrevista à Rolling Stone, Billie explicou o motivo de escrever uma canção sobre o anime, dizendo que é um de seus filmes favoritos e que a letra é uma mistura da própria jornada da protagonista com a dela. A canção se tornou a mais popular entre os fãs nas redes sociais, não só por sua história, mas também por sua construção. É uma música que, quando você vê o título, pode causar receio, mas ao ouvi-la, é uma viagem tão agradável quanto a do filme. Contra a tendência atual do mercado, a música tem mais de 5 minutos de duração, um grande desafio para uma artista jovem. Desde o início, com o baixo e a voz sussurrante de Billie, a música é gostosa, cheia de pontes, brincadeiras e analogias sobre o feminino. É uma canção que vai crescendo até quase explodir, mas se contém no final, o que não é ruim. Explora os dilemas das descobertas pessoais, beirando o experimental, sintetizando de forma leve e direta.
Já em “Birds of a Father”, entramos em um ambiente mais pop, com uma exploração vocal inédita. A música, que até inclui batidas de coração entrelaçadas em uma das letras mais “pesadas” do disco, é comercial, apesar de explorar temas controversos que podem criar sentimentos complexos em alguns ouvintes. É uma declaração de amor extremista, de quem sente muito, pensa muito e vive intensamente. A canção introduz o ouvinte a uma nova fase do disco. Chegando ao ponto mais complexo do álbum com “Wildflower”, perdemos um pouco o ritmo, mas ainda dentro do tema e seguindo a jornada de exploração vocal de Billie. A música, que reflete términos e relacionamentos passados, se mistura com sua voz em uma estrutura robusta, com backing vocals que parecem sua mente falando por cima de sua voz. É um reflexo sobre nossos erros na juventude, visceral e verdadeira.
Na metade da jornada, caminhando para os momentos finais, entramos na canção “The Greatest”, que é tão grandiosa quanto o nome sugere. Tem um início calmo, cheio de dedilhados e composições sinceras sobre amar demais e se permitir demais. A música é um reconhecimento de uma pessoa de coração partido que fez muito por alguém, viveu demais por alguém. Vai da exploração do corpo à visão mais melancólica sobre sexo e a relação com o corpo. O refrão é explosivo, a música cresce imensamente, é um grito de liberdade, uma explosão de emoção. Billie grita “Todo meu amor e paciência não foram apreciados” de forma dolorosa, é possível sentir cada momento de sua dor.
“L’Amour Da Me Vie” é bem-intencionada, porém, infelizmente, se mostra um dos pontos mais baixos do disco. A faixa é bem pensada, com boas intenções, mas acaba destoando do restante. Ainda assim, vale ressaltar o momento bem eletrônico no meio da faixa que pode divertir e lembrar dos tão exaltados “Summer Electrohits”, presentes em muitas festas dos anos 90/2000 (risos). “The Diner” tem um início diferenciado, aludindo a uma situação vivida por Billie com um stalker, explorando a perspectiva dele. A exploração é próxima de seus primeiros trabalhos, com uma vibe bem “bad guy”. É uma canção moderna, do tipo que gruda na mente e rende boas tendências na internet. É boa, competente, misturando ódio e obsessão.
Caminhando para o final da jornada, temos a canção “Bittersuite”, que começa bem alto-astral, quase como uma parente próxima das canções do último disco do The Weeknd. Porém, após a transição inicial, Billie cria uma quebra de expectativa em uma atmosfera completamente experimental. A música parece ser cinco músicas em uma só faixa, Billie vai além do ato de transformação e ousa como nunca. No final, chegamos a uma das favoritas do público, “Blue”, que tem uma ligação com a canção “Blue Jeans” da Lana Del Rey. Aqui, exploramos o ápice da tristeza com uma visão sobre o futuro. A música é um pop rock diferente das faixas de seus outros discos, sobre procurar a felicidade em meio ao caos e sempre tentar acreditar em um amanhã melhor, mesmo vivendo em tristeza. Billie conclui o disco de forma sincera e realista, com uma maturidade artística sem igual. O álbum se encerra com um verso fechado e um violino monumental, como o final de um filme épico, provocando lágrimas ao ver uma obra de arte disruptiva.
Billie não só lançou um dos melhores discos de 2024, como também transcendeu.
Favoritas do Caderno Pop:
Skinny
The Greatest
Blue
Lançamento: 17 de maio de 2024.
Gravadora: Interscope Records | Darkroom
Compositores: Billie Eilish e Finneas O’Connell
Produtores: Finneas O’Connell
Duração: 43min 50s
Faixas: Skinny, Lunch, Chihiro, Birds Of A Feather, Wildflower, The Greatest, L’Amour De Ma Vie, The Diner, Bittersuite, Blue.
Nota final: 99/100
Comments 4