Foi pelas mãos do produtor Cabrera que o Brasil conheceu o tempero uruguaio, que sertanejo e o axé ganharam essência latina e o reggaeton se uniu ao funk, tornando realidade para os brasileiros, ouvirem, bachata dentro do sertanejo, nas vozes de Zezé Di Camargo & Luciano, Leonardo, Eduardo Costa e Gusttavo Lima.
Foi no nosso país tropical, onde mora há 15 anos, que Cabrera conseguiu reunir as misturas principais para elevar seu talento, além das fronteiras. Responsável por hits, como “Loka” de Simone & Simaria, “Sapequinha” de Eduardo Costa, “Eu Vou Te Buscar” de Gusttavo Lima e “Baldin de Gelo” da Claudia Leitte, chegou o momento do músico apresentar seu primeiro álbum autoral, “Cabrera Conexión” e fazer história mais uma vez.
Confira entrevista exclusiva ao Caderno Pop:
Você até então produzia muitas músicas que estouraram no Brasil, mas agora você efetivamente tá participando dessas faixas por causa do novo projeto. Isso muda em alguma coisa o seu trabalho na música, já que você também acaba produzindo elas?
Não muda nada, é simplesmente um projeto em si, que foi desenvolvido para unir artistas brasileiros e latinos. É uma ação, entre as aspas, cultural. “Tchucky Tchucky” teve uma boa repercussão lá fora, muito engajamento.
Eu continuo produzindo outros artistas do mesmo jeito e neste álbum específico eu estou como artista. Em algumas eu vou cantar, em outras não. Mas, como há muitos anos atrás, quando eu tinha meus 20 anos, eu era artista também, fazia muitos shows e tudo mais. Não é que me tornei artista agora, eu já era e deixei adormecer isso. Mas, reforçando, o “Cabrera Conéxion” tem objetivo de unir pessoas e lugares diferentes, de proporcionar esse relacionamento. Os brasileiros vão conhecer os artistas latinos e os latinos os artistas brasileiros e está conexão vai percorrer o mundo, conectando corações.
Morando no Brasil já há 15 anos, deu pra conhecer muita coisa, ou praticamente tudo da música local. Mas e sobre o que rola no Uruguai, o que você tem curtido?
Eu não sou um produtor de um estilo especifico, eu já fiz forró, sertanejo, pop, funk, fiz músicas pra filme, músicas de novela country, fiz bachata, reggaeton. E sim, nesses 15 anos acabei conhecendo muitas coisas daqui, o Brasil é muito rico. Lá no Uruguai o que eu gosto, hoje, especificamente, “Bajofondo” é a banda de um amigo, os responsáveis pelo tango de abertura da novela “A Favorita”, é um tango eletrônico, uma mistura que me agrada muito. Também tem Rombai, ele é meu amigo também, veio algumas vezes ao Brasil, é como se ele fizesse uma “cumbia” urbana, tem a função que o funk tem aqui, só que ele mistura com reggaeton, com pop, mas, acaba sendo mais urbano.
Queria falar um pouco do “Cabrera Conexión”, que já chegou com um single com grandes nomes latinos e um grande nacional. Sei que tem muita coisa vindo pela frente. Já tem um cronograma desses lançamentos? O próximo single vai ser com quem?
Já chegou com Jerry Smith e Jowell & Randy, os três são amigos meus, os três eu tive oportunidade de antes de tudo isso, sem sequer imaginar esse projeto, já nos encontramos no estúdio, fazermos singles, criarmos, gravarmos… Muitos desses materiais que eu tenho aqui, são materiais que, foram criados sem intuito comercial, mas, sim como uns amigos dentro do estúdio curtindo e fazendo música. Estão vindo muitas coisas pela frente, no total são 10 músicas, que vão seguir nesta linha, mesclando o Brasil com América Latina. O cronograma já está pré-fixado, tem alguns nomes pela frente confirmados, mas, aí eu prefiro deixar na surpresa, o que posso garantir é que são nomes fortes e pesados. O próximo hit eu gostaria de esperar um pouquinho, por conta da pandemia, precisamos nos cuidar, respeitar tudo isso aí. Estamos indo com calma, pois são muitos detalhes, e muitos dos artistas nós precisamos analisar como vamos fazer a parte do clipe, então depende também, de tudo que estamos vivendo hoje.
Já tem uma ideia de quantos países da América Latina esse projeto vai viajar, por causa das participações?
Sobre quantos países vão atingir, praticamente todos. A América Latina em si. Tem artistas que vão participar que alcançam Espanha, são muitos grandes lá. Inclusive hoje, estou em contato com artistas da Venezuela, Porto Rico, Espanha, Uruguai, muito possivelmente coloque também Argentina, México, ou seja, vai ter muita representatividade, estou empolgado para dividir logo o que está por vir.
Você foi um dos responsáveis por introduzir a bachata aqui e claro, com uma pitada de tempero brasileiro. Você sentiu, no começo, alguma dificuldade ou de repente até rejeição em produzir esse ritmo por aqui?
Sim, fui eu que comecei introduzir bachata e toda essa parte de trocar coisas por ritmo eletrônico, deixar o sertanejo um pouco mais pop, o sertanejo mais urbano, o sertanejo com reggaeton, como naquela música do Gusttavo Lima com Hungria, “Eu Vou te Buscar”. Lá no começo, há uns 10 anos atrás, quando eu comecei a mexer com música, as primeiras pessoas que gravaram uma música minha foram Zezé Di Camargo & Luciano, os primeiros artistas. Eu nem sabia direito quem eles eram, eles gravaram e quando eu fui descobrir quem eles eram eu não consegui acreditar, e a partir daí começou vir muita coisa. E realmente, foi muito, muito, muito, muito difícil chegar onde eu estou. Se tornar artista já é difícil, imagina você se tornar produtor. Cada produtor grande tem uns 30 artistas grandes, é mais difícil virar produtor do que virar um artista. E fora disso, até hoje eu estou aprendendo português, até hoje, estou entendendo a cultura, são vários obstáculos que é preciso superar dia após dia. Quando eu encontrei a fórmula e o tempero certo, descobri o que eu poderia colocar lá de fora em minhas produções aqui. Descobrir o que o brasileiro quer e o que o brasileiro gosta foi muito louco pra mim, sempre lutei muito pra chegar aqui, estudei muito, corri muito atrás, tive que engolir muito sapo. Ouvi muitos me falarem pra eu sair do país, que esse estilo não ia rolar, exatamente depois disso foram muitos sucessos, em cima, exatamente, do que alguns me falavam que isso não iria funcionar. Foi uma luta muito grande, e quando você luta muito e você vê músicas suas, que não tem nada ver com sertanejo dando certo, é um prazer imenso. “Anjo Protetor”, “Louco Coração”, “Sapequinha”, do Eduardo Costa, são exemplos. “Loka” de Simone & Simaria o pessoal falava que era eletrônica demais, e olha o que aconteceu com aquela música… Quando eles trouxeram pra mim já tinham feito várias produções, com pessoas diferentes e até com os próprios compositores das músicas, mas, acabou que a gente fez um negócio completamente diferente, misturado com pop e demais ritmos. E é uma satisfação muito grande você ligar o rádio e ter uma música sua, ouvir algo que você fez parte de todos os processos. Fico muito feliz com isso, inclusive, as pessoas me falam, o que você sente agora que está fazendo parte das músicas? Pra mim, agora só estou colocando meu nome, 95% das músicas, os backs, as vozes, que estão por trás, os efeitos que ficam girando na música toda, sempre sou eu que faço. Ou seja, tecnicamente eu sempre estive lá.
Assista “Tchuky Tchuky”: