Em meio à imensidão silenciosa dos fiordes noruegueses, um iate luxuoso corta as águas como se carregasse um segredo. É nesse cenário isolado e opulento que “A Mulher na Cabine 10” instala sua trama: um thriller psicológico elegante, mas nem sempre tão afiado quanto pretende ser. Dirigido por Simon Stone e inspirado no best-seller de Ruth Ware, o filme transforma a calmaria de uma viagem de trabalho em um mergulho angustiante no labirinto da dúvida.

A jornalista Laura “Lo” Blacklock, interpretada com a habitual precisão por Keira Knightley, embarca em uma missão aparentemente banal: cobrir a inauguração de um cruzeiro exclusivo, o Aurora Borealis. Mas o luxo reluzente que a cerca esconde algo perturbador. Durante a madrugada, um grito invade o silêncio da embarcação, seguido pelo som de um corpo caindo na água. Lo vê o que parece ser um assassinato, mas ninguém a acredita. Todos garantem que a cabine ao lado está vazia, que o sistema de câmeras falhou, que o sinal de internet caiu por coincidência.
O filme constrói seu suspense a partir da descrença, explorando o abismo entre o que é visto e o que é validado. Lo é desacreditada por todos, cercada por milionários arrogantes e uma tripulação enigmática. A dúvida sobre sua sanidade se torna o verdadeiro motor da narrativa, e Knightley sustenta o peso desse desequilíbrio com uma performance contida, mas intensa. Sua expressão sempre à beira do colapso mantém o espectador entre a empatia e a suspeita.
Simon Stone, que já havia demonstrado talento em filmes como “The Dig”, aposta aqui em uma atmosfera meticulosamente polida. A fotografia fria e o design de produção refinado reforçam o contraste entre a sofisticação do cenário e a podridão moral que emerge das profundezas desse microcosmo flutuante. O iate, todo vidro e aço, funciona como metáfora visual: um aquário luxuoso onde ninguém pode escapar de ser observado ou julgado.
Ainda assim, há um desequilíbrio entre forma e conteúdo. O roteiro de Stone e Joe Shrapnel investe em tensão, mas entrega reviravoltas previsíveis. O mistério perde força à medida que as pistas se tornam evidentes, e o clímax, por mais estiloso que seja, carece de impacto emocional. É como se o filme quisesse ser “Garota Exemplar”, mas terminasse em águas mais rasas.
Guy Pearce surge como o carismático anfitrião Richard Bullmer, um homem de charme inquietante, enquanto David Ajala completa o elenco como um contraponto moral em meio ao caos. Gitte Witt, embora com pouco tempo em tela, entrega um dos momentos mais intrigantes do filme uma presença que poderia ter sido mais explorada.
No fim, “A Mulher na Cabine 10” funciona como um suspense elegante sobre o poder corrosivo da dúvida, mas falta-lhe o pulso narrativo de um clássico do gênero. É um filme que encanta pelo cenário e pela performance de Knightley, mas que se dissolve como espuma quando tenta sustentar seu próprio mistério.
“A Mulher na Cabine 10”
Direção: Simon Stone
Elenco: Keira Knightley, Guy Pearce, David Ajala, Gitte Witt
Disponível em: Netflix
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