“A Mulher no Jardim” é um thriller psicológico que se posiciona dentro da tradição do horror doméstico e simbólico, apostando em um minimalismo narrativo que dá espaço para atmosferas densas e interpretações ambíguas. Dirigido por Jaume Collet-Serra, o longa é centrado em Ramona, vivida por Danielle Deadwyler, uma mãe em luto recente que precisa cuidar sozinha dos filhos após a morte do marido e enfrenta, além da dor, uma ameaça crescente representada por uma figura misteriosa que surge em seu quintal sem qualquer explicação.
O filme que já estreou nos Estados Unidos chega aos cinemas do Brasil em 8 de maio de 2025.
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A presença dessa mulher vestida de preto funciona desde o princípio como uma manifestação externa do desequilíbrio interno da protagonista. A figura invasora não apenas rompe com a rotina da casa, mas desestabiliza emocionalmente todos os personagens, servindo como um catalisador para a deterioração psíquica de Ramona. Ao utilizar esse recurso simbólico, o filme aponta para temas profundos como culpa, luto, negação e colapso mental, mas evita discursar sobre eles diretamente. A metáfora está presente, mas permanece latente, sem se concretizar por completo, o que pode causar frustração para parte do público.
A proposta é claramente alegórica, mas o roteiro, escrito com estrutura enxuta, tem dificuldade em sustentar uma narrativa de longa-metragem. O conteúdo, que talvez rendesse um curta expressivo de 30 minutos, se dilui ao ser estendido para uma hora e meia, criando momentos de repetição e uma sensação de estagnação. Ainda assim, a condução visual compensa parcialmente essa limitação. Collet-Serra, ao lado do diretor de fotografia Lyle Vincent, explora com precisão o espaço restrito da casa e do jardim para gerar tensão, usando ângulos inusitados, efeitos práticos e variações de luz para manter o espectador alerta.
O grande trunfo do filme está em seu elenco. Danielle Deadwyler entrega uma performance densa, modulando com complexidade a oscilação emocional de Ramona. A personagem é construída para provocar ambiguidade no público: ora comovente em sua vulnerabilidade, ora irritante em sua passividade, mas sempre humana. Peyton Jackson, como o filho Taylor, é outro destaque. O jovem ator consegue expressar com naturalidade o peso de uma responsabilidade precoce e o desgaste emocional diante do colapso da figura materna. Já Estella Kahiha, como a filha caçula, cumpre bem seu papel como símbolo de inocência e fragilidade. A aparição de Okwui Okpokwasili como a enigmática mulher do jardim é marcada por uma fisicalidade impactante, que evoca presenças como a de Grace Jones e adiciona uma camada inquietante ao filme.
No campo simbólico, “A Mulher no Jardim” acerta ao sugerir múltiplas interpretações sobre a natureza da invasora: seria uma entidade sobrenatural, uma projeção da mente de Ramona ou uma presença ligada a um luto histórico mais profundo? O filme flerta com todos esses caminhos, mas evita se comprometer com qualquer resposta. Essa ambiguidade, embora coerente com a proposta, esvazia parte do impacto dramático. A escolha de se manter no campo da sugestão funciona até certo ponto, mas o roteiro evita explorar com maior profundidade as implicações sociais, raciais e históricas da dor vivida pela protagonista, sobretudo considerando o subtexto de trauma feminino e negro que o filme apenas insinua.
Visualmente, há uma tentativa clara de criar um contraste entre o cenário bucólico e o horror psicológico. Em algumas sequências, o longa atinge momentos de beleza perturbadora, principalmente na reta final, quando o clima se torna mais psicodélico e a montagem ganha fluidez mais experimental. Esses instantes resgatam parte da força que falta ao segundo ato e encerram a narrativa com certo impacto, ainda que sem grandes surpresas.
A produção, embora limitada em escopo, se mantém consistente do ponto de vista técnico. A direção de arte, discreta mas eficaz, evita exageros e sustenta a atmosfera opressiva. A trilha sonora é pontual e discreta, sem grandes temas memoráveis, mas cumpre sua função de criar tensão e sugerir o inexplicável.
“A Mulher no Jardim” é um filme que propõe mais do que executa. Sua intenção de explorar o luto e o colapso emocional por meio do horror simbólico é legítima e válida, mas a execução narrativa hesita em desenvolver com mais profundidade os temas que sugere. Falta contundência e ousadia para transformar a premissa em uma experiência realmente marcante. Ainda assim, há valor na tentativa, principalmente pela força das atuações e pela forma como o filme lida com o medo como uma manifestação subjetiva da dor.
Para quem busca um suspense psicológico com toques de metáfora e atmosfera tensa, o filme pode entregar uma experiência satisfatória. Mas para espectadores em busca de um terror mais direto ou de uma alegoria mais bem articulada, talvez fique a sensação de que “A Mulher no Jardim” planta boas ideias, mas colhe pouco de seu potencial.
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