Em “A Ordem”, Justin Kurzel constrói um thriller policial implacável, que resgata a brutalidade dos anos 1970 sem concessões. A trama, ambientada em 1983, mergulha na onda de crimes violentos que assolou o noroeste do Pacífico, colocando um agente do FBI (Jude Law) no encalço de uma organização supremacista branca, disfarçada de bandidos comuns. Baseado no livro “The Silent Brotherhood”, de Kevin Flynn e Gary Gerhardt, o roteiro de Zach Baylin traça uma linha tênue entre a investigação criminal e a decadência moral dos envolvidos. O filme chegou ao catálogo do Prime Video no dia 6 de fevereiro e já figura entre os destaques dos mais assistidos da plataforma.
Veja as principais estreias no streaming em fevereiro

A atmosfera opressiva se impõe desde o primeiro instante. O filme trabalha a tensão de maneira cirúrgica, equilibrando cenas de ação realistas com um clima de paranoia crescente. O protagonista vivido por Jude Law é um agente desgastado pelo alcoolismo e pelo próprio trabalho, um homem endurecido, cuja presença lembra figuras icônicas do cinema policial. Sua atuação evoca a brutalidade e a determinação de personagens como os de Mel Gibson em “Dragged Across Concrete” ou Clint Eastwood em “Dirty Harry”. Nicholas Hoult, por sua vez, entrega um antagonista que exala frieza e cálculo, sem os exageros típicos de vilões caricatos. É um embate onde o horror não está na violência explícita, mas na crença inabalável de cada lado em sua própria missão.
A direção de Kurzel acerta ao evitar glamourizações, mantendo a crueza dos eventos e das motivações dos personagens. As sequências de assaltos e embates armados são filmadas com precisão brutal, lembrando o melhor de Michael Mann. A edição e o design de som contribuem para essa sensação de urgência, enquanto a trilha sonora pontua os momentos com uma tensão latente. Esse trabalho técnico faz com que “A Ordem” dialogue diretamente com clássicos como “Bullitt”, “Shock Corridor” e as produções de Taylor Sheridan, além de evocar o faroeste urbano presente em “Wind River” e “Comanchería”.
Ao longo da narrativa, Justin Kurzel presta homenagens a mestres do gênero. Há ecos de “Operação França”, de William Friedkin, e “The Getaway”, de Sam Peckinpah, tanto na abordagem dos confrontos quanto na construção da perseguição implacável entre agente e criminoso. O clímax, denso e sem concessões, remete diretamente a “O Franco Atirador”, de Michael Cimino, encerrando o filme com uma nota amarga, fiel à sua proposta.
No fim das contas, “A Ordem” reafirma o talento de Justin Kurzel em conduzir histórias sombrias com precisão e estilo. É um thriller poderoso, que não apenas revisita a brutalidade dos clássicos dos anos 1970, mas a incorpora de forma autêntica, sem parecer uma mera cópia nostálgica. Um filme que se impõe pela dureza e pela excelência de suas atuações, consolidando-se como um dos grandes exemplares do gênero nos últimos anos.