Histórias de resistência contra o nazismo costumam render narrativas intensas, moralmente ambíguas e repletas de tensão. “A Redenção: A História Real de Bonhoeffer”, no entanto, opta por um caminho mais seguro, onde a complexidade é sacrificada em prol de uma visão mais engessada e reverente de seu protagonista. Dirigido com uma formalidade que beira o didatismo, o filme nunca mergulha verdadeiramente nos dilemas que deveriam ser seu coração, preferindo ilustrar o heroísmo de Bonhoeffer em tons binários de certo e errado, sem se aprofundar no real peso de suas escolhas.
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O longa acompanha Dietrich Bonhoeffer (Jonas Dassler), um pastor e teólogo luterano cuja fé o coloca em rota de colisão com o regime nazista. Inicialmente pacifista, ele se vê diante de um dilema moral: continuar pregando a não violência ou se unir a uma conspiração para assassinar Adolf Hitler (Marc Bessant) e, assim, tentar impedir a destruição de milhões de vidas. É um conflito carregado de questões filosóficas, espirituais e políticas, mas o filme nunca se permite explorá-las de forma satisfatória.
O maior problema de “A Redenção” é justamente sua falta de nuances. Bonhoeffer é retratado como uma figura impecável desde o início, e sua evolução para alguém disposto a recorrer à violência nunca parece um verdadeiro conflito interno, mas sim um caminho inevitável e até óbvio. Essa abordagem não só simplifica sua jornada como também impede que o espectador se envolva emocionalmente quando tudo já vem pré-mastigado, sobra pouco espaço para reflexão.
A estrutura narrativa também não ajuda. O roteiro opta por uma linha do tempo fragmentada, saltando entre momentos-chave da vida de Bonhoeffer, mas essa escolha, em vez de enriquecer a experiência, apenas enfraquece o impacto dramático. Não há um real senso de progressão ou de peso crescente sobre os ombros do protagonista, e a edição faz com que os eventos pareçam encaixados mecanicamente, sem fluidez ou naturalidade.
Outro ponto que gera estranheza é a decisão de filmar com atores alemães, mas dialogando inteiramente em inglês. Se a ideia era tornar o filme mais acessível ao público internacional, o efeito colateral é uma sensação de artificialidade que o distancia de sua ambientação histórica. O espectador nunca se sente totalmente imerso na Alemanha nazista, e isso mina a autenticidade da narrativa.
A produção, claramente voltada para um público cristão, também faz questão de destacar a fé de Bonhoeffer como seu principal (senão único) motor, sem problematizar suas contradições ou explorar outras camadas de sua personalidade. O filme assume que o espectador já está do lado do protagonista e nunca se preocupa em conquistar essa empatia de forma orgânica. Como resultado, parece mais uma dramatização devocional do que uma cinebiografia genuinamente investigativa.
Visualmente, “A Redenção” tem um acabamento competente, mas a direção é excessivamente contida, como se tivesse medo de explorar as sombras do próprio personagem. Cada cena parece cuidadosamente calculada para reforçar a imagem de Bonhoeffer como um mártir, em vez de apresentar um ser humano real, falível e confrontado por escolhas impossíveis.
Diante da grandiosidade de sua história, o filme perde a chance de mergulhar nas ambiguidades morais que tornam Bonhoeffer uma figura tão fascinante. O que significa, afinal, trair seus princípios para combater o mal? A fé pode justificar um assassinato? Há um preço aceitável para salvar vidas? Essas questões nunca são plenamente exploradas, pois o longa já parece ter decidido suas respostas antes mesmo de começar.
No final, “A Redenção: A História Real de Bonhoeffer” não chega a ser um filme ruim, mas é uma cinebiografia sem riscos, sem arestas, sem as camadas que a tornariam realmente memorável. Para um personagem que viveu em meio a tantas contradições e decisões impossíveis, sua versão cinematográfica deveria refletir essa complexidade e não apenas contar sua história de forma burocrática e previsível.
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