O cinema filipino ainda luta para encontrar equilíbrio entre tradição e renovação, mas de tempos em tempos surgem obras que escapam do lugar-comum e testam novos caminhos. “Academia de Vilões” chega como uma sátira afiada, divertida e consciente de suas próprias referências, usando o exagero como arma para refletir sobre as fórmulas desgastadas da televisão e do cinema popular. Chris Martinez parte de um conceito aparentemente simples, mas ousa ir além: e se houvesse uma escola dedicada exclusivamente a formar vilões?
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É a partir dessa premissa que acompanhamos Gigi, interpretada por Barbie Forteza, uma jovem perdida em meio ao colapso de sua vida pessoal e profissional. Sua jornada ganha novo rumo quando ela descobre a tal academia, um espaço que mistura fantasia, comédia e crítica cultural. Ali, ela aprende a encarnar a vilania não como perversidade absoluta, mas como ferramenta de resistência, um gesto de vingança bem-humorada contra um mundo que insiste em esmagar os frágeis. O filme brinca com a ideia de que ser vilão, neste contexto, significa também recuperar autonomia.
A estrutura narrativa funciona como espelho da própria indústria: exagerada, repleta de clichês, mas consciente disso. Martinez transforma o melodrama tradicional filipino em material de paródia, colocando o público diante de arquétipos reconhecíveis e subvertendo-os com inteligência. Há uma energia metalinguística que invade a tela, transformando cada diálogo e cada situação absurda em comentário sobre o entretenimento que moldou gerações.
Barbie Forteza assume o centro da trama com naturalidade, transitando entre o caricato e o humano com uma versatilidade que surpreende. Sua Gigi é vulnerável e destemida na mesma medida, encontrando no absurdo da academia um espaço para se reinventar. Eugene Domingo, por sua vez, imprime teatralidade e vigor a Maurícia, criando uma contraposição que reforça a potência cômica do longa. Ambas entregam performances que sustentam o tom exagerado sem perder a autenticidade.
Visualmente, “Academia de Vilões” aposta em cores vibrantes e cenários que oscilam entre o kitsch e o fantástico, o que reforça a proposta camp que guia a obra. Ainda que alguns efeitos gráficos possam envelhecer mal, o filme não perde seu impacto, já que o verdadeiro brilho está no ritmo, na ironia e no jogo de referências.
O maior mérito da produção é o equilíbrio entre diversão e reflexão. Ao mesmo tempo em que provoca gargalhadas com situações aleatórias e absurdas, o filme cutuca o espectador a reconsiderar seu próprio consumo cultural. Se a repetição de fórmulas gera apatia, obras como esta servem para lembrar que a sátira pode ser ferramenta de renovação, desmontando velhos padrões enquanto cria novos pontos de identificação.
No fim, “Academia de Vilões” se assume como uma carta de amor às telenovelas filipinas, mas sem medo de rir delas. É cinema pop consciente de seu exagero, que se recusa a cair em moralismos arrastados e prefere se manter pulsante, criativo e desafiador. Uma surpresa rara no catálogo da Netflix, que consegue ser tanto entretenimento escapista quanto reflexão cultural.
“Academia de Vilões”
Direção: Chris Martinez
Elenco: Barbie Forteza, Eugene Domingo, Jameson Blake
Disponível em: Netflix
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