Existe um certo conforto no clichê, e o cinema policial já provou isso várias vezes. Mas conforto e preguiça são coisas diferentes. “Amanhecer Sangrento” parece confundir as duas com frequência, entregando uma obra que se ancora em fórmulas ultrapassadas sem oferecer qualquer vigor narrativo ou estilístico próprio. O filme tenta reviver o velho espírito dos thrillers de cidade pequena, mergulhados em corrupção, cartéis e dilemas morais, mas escorrega em praticamente todos os pontos onde poderia se firmar.
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O protagonista é o típico homem em busca de redenção, forçado a voltar para um passado mal resolvido, numa terra esquecida pelo Estado e dominada por interesses podres. A premissa já foi explorada à exaustão, e isso não é um problema por si só. O cinema de gênero vive de reciclagem, mas o que diferencia um bom filme de um rascunho apressado é a forma como se rearticula a estrutura conhecida com energia, ritmo e personagens minimamente vivos. E aqui, nenhum desses elementos se sustenta.
O roteiro é raso e inchado ao mesmo tempo, o que já denuncia um descompasso grave na concepção da narrativa. Exposição demais, profundidade de menos. Os personagens mal ultrapassam a função de peças narrativas previsíveis. Cada diálogo soa como uma explicação mastigada, uma tentativa desesperada de dar peso ao que é, na prática, uma trama genérica. O resultado é um thriller de superfície, sem mistério real, sem urgência dramática e, pior ainda, sem atmosfera.
Na parte visual, o filme até tenta criar algum impacto com a paisagem árida do deserto, mas a direção é funcional demais para aproveitar o cenário como personagem. Não há composição visual que se destaque, nem uso inteligente da luz ou da geografia do espaço. A decupagem das cenas de ação é morna, mecânica, muitas vezes preguiçosa. E para um filme que depende do conflito físico como válvula de escape dramático, isso pesa.
As atuações não ajudam a resgatar o material, ainda que não sejam desastrosas. Kellan Lutz tenta assumir a postura de herói quebrado, mas entrega pouco além de presença física. Cam Gigandet passa despercebido. A química entre os personagens principais inexiste. Tudo se move de forma fria, automática, como se até os próprios atores estivessem conscientes da falta de combustível da narrativa.
Existe, no fundo, um comentário sobre o colapso moral das instituições locais, o vácuo de poder e a violência como linguagem corrente em regiões esquecidas. Mas essa discussão jamais encontra forma coerente ou contundente dentro da obra. O subtexto se dissolve num ritmo disperso e numa direção sem identidade. O filme parece simular peso temático, mas o faz sem coragem ou consistência.
“Amanhecer Sangrento” tenta abraçar o thriller policial de forma clássica, mas o faz sem tensão, sem personagens marcantes, sem qualquer traço de identidade visual. É mais um produto do mercado de ação esvaziado, onde tudo soa derivativo e nenhuma decisão parece pensada para durar mais que um streaming de fim de noite.
Título: “Amanhecer Sangrento”
Direção: Marty Murray
Elenco: Kellan Lutz, Cam Gigandet, Chad Michael Collins, Guillermo Iván, Michael-John Wolfe
Disponível em: Prime Video (aluguel e compra)
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