“Ataque em Londres: Os Atentados de 7 de Julho” é um daqueles documentários que cutucam feridas ainda abertas e fazem questão de não oferecer nenhum alívio confortável ao espectador. Disponível na Netflix e dirigido por Liza Williams, o projeto revisita o pesadelo que tomou conta da capital britânica em julho de 2005, quando bombas explodiram no metrô e em um ônibus, matando 52 pessoas e ferindo mais de 700. A série se concentra na investigação que se seguiu e nos efeitos colaterais devastadores de uma caçada desenfreada por suspeitos, que acabou culminando na morte do brasileiro Jean Charles de Menezes, alvejado pela polícia por engano.
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O ponto alto dessa produção é a forma crua como ela se aproxima das vítimas e dos sobreviventes. Sem recorrer a sentimentalismos fáceis, o documentário escancara a brutalidade do que aconteceu e, sobretudo, a longa trilha de cicatrizes físicas e emocionais deixadas em quem conseguiu sair vivo. O caso do brasileiro assassinado pela polícia serve como um lembrete perturbador de como o medo pode deformar o senso de justiça e destruir vidas inocentes. A maneira como o documentário trata esse episódio amplia o escopo da narrativa, mostrando que as consequências do terror vão muito além dos atentados em si.
Há também um esforço visível para incluir as vozes de britânicos muçulmanos, muitos dos quais passaram a carregar o peso da suspeita e da hostilidade após os ataques. É aí que o documentário se torna ainda mais relevante, revelando o outro lado do trauma coletivo: o estigma, a discriminação e a dificuldade de seguir em frente em uma sociedade que passa a enxergar o “inimigo” no rosto do vizinho. Essa escolha editorial é corajosa, porque desvia o foco exclusivo das explosões para mostrar o estrago social e psicológico que o terrorismo impõe.
Visualmente, a série é construída com cortes rápidos, imagens de arquivo inéditas e algumas reconstruções dramáticas. Esse ritmo quase nervoso ajuda a transmitir a sensação de urgência e pânico daqueles dias, mas também sabe quando desacelerar para permitir que as histórias se imponham sozinhas. Mesmo com figuras políticas tradicionais aparecendo para contextualizar os eventos, o documentário se sustenta de fato na experiência dos cidadãos comuns, aqueles que perderam parentes, membros do corpo ou a tranquilidade para pegar um transporte público sem se sentir ameaçado.
Embora o tema já tenha sido explorado em outras produções, como o recente documentário do canal Sky, esta minissérie consegue reafirmar sua importância ao priorizar relatos menos midiáticos, ampliando o entendimento do que aconteceu para além das manchetes e estatísticas. Fica claro que não se trata apenas de relembrar o horror, mas de expor como o medo pode moldar decisões desastrosas, distorcer valores democráticos e transformar para sempre o cotidiano de uma cidade inteira.
No fim, “Ataque em Londres: Os Atentados de 7 de Julho” cumpre bem o papel de manter viva a conversa sobre terrorismo, sobre o erro policial que matou Jean Charles e sobre as consequências sociais que continuam ecoando. É um trabalho que não oferece consolo, mas também não precisa disso. A força está justamente em exibir a dor como ela é, sem molduras.
“Ataque em Londres: Os Atentados de 7 de Julho” (2025)
Direção: Liza Williams
Elenco: Dan Biddle, Mustafa Kurtuldu, pais de Jean Charles de Menezes, sobreviventes e especialistas
Disponível em: Netflix
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