Há algo curioso na forma como o universo de “John Wick” vem sendo expandido. Enquanto muitas franquias apostam na repetição como método de sobrevivência, este spin-off escolhe o risco. “Bailarina” não quer imitar. Quer deslocar. E isso já a posiciona em outro patamar.
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Ao entregar o protagonismo a uma nova figura, a narrativa desloca o eixo do brutalismo quase ritualístico de Wick para uma atmosfera mais sensorial, mas ainda rigorosa. O resultado é um híbrido tenso entre coreografia e dor, onde o corpo da protagonista opera como extensão da própria linguagem do filme. A câmera não está apenas registrando ação, está acompanhando a anatomia de um luto.
Existe precisão. Mas também existe hesitação. E é justamente isso que dá humanidade ao filme. Ao contrário de outras obras do gênero que se escoram no automatismo visual, aqui há espaço para hesitar, para falhar, para perder o tempo da cena. E isso tem valor. O filme compreende que o gesto imperfeito também é expressão de verdade.
A arquitetura visual permanece fiel ao que a franquia construiu até aqui, mas há uma textura diferente no ar. A fotografia mergulha em contrastes mais densos, os enquadramentos priorizam o isolamento e os diálogos, ainda que expositivos em excesso, tentam sustentar uma ambiência mais introspectiva. O ritmo, embora vacile no início, ganha consistência à medida que a personagem se impõe. Há uma curva de energia. E ela é ascendente.
Tecnicamente, o filme sabe o que faz. A ação segue coreografada com rigor, ainda que aposte em soluções menos simétricas que as vistas anteriormente na saga. A montagem favorece a continuidade dos movimentos, o que reforça a fisicalidade da protagonista. E há algo de novo aqui: um tipo de força que não precisa gritar para ser letal.
Não se trata de substituir John Wick, mas de deslocá-lo. O filme não tenta reproduzir a figura do justiceiro absoluto, mas de reconfigurá-la. O olhar é outro. O corpo é outro. O método também. E é nesse estranhamento que o spin-off encontra sua razão de existir.
“Bailarina” não reinventa a roda. Mas entende que girá-la em outro ritmo já é um ato de reinvenção. É um gesto de continuidade com fricção, e essa fricção é o que garante frescor ao universo de origem.
Se há futuro para esse mundo, ele talvez comece por aqui.
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