Talvez seja a única personagem da cultura pop que todo mundo reconhece antes mesmo de conseguir soletrar seu nome. Branca de Neve, um dos rostos mais célebres da máquina Disney, retorna à tela grande com um remake live-action que, como sempre, vem com a bagagem emocional de várias gerações e uma avalanche previsível de polêmicas. Rachel Zegler, Gal Gadot, CGI polêmico e o eterno dilema: precisava mesmo de uma nova versão?
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É claro que você já conhece a história, então vamos resumir: princesa doce, madrasta maligna obcecada por um espelho, anões, floresta, maçã, coma, beijo, final feliz. É um daqueles enredos que resistem ao teste do tempo porque são, ao mesmo tempo, encantadores e profundamente perturbadores quando olhados sob outra lente (afinal, que história infantil inclui uma madrasta canibal querendo devorar órgãos?).
Mas se o clássico de 1937 é um relicário da animação tradicional, este “Branca de Neve” aposta em reescrever alguns papéis, ou pelo menos tentar. A princesa de Zegler já não é mais uma mocinha submissa. É resiliente, independente e, claro, canta com técnica impecável. Nada contra ressignificar, longe disso; o problema é quando a mensagem moderna esbarra numa narrativa ainda presa à lógica de conto de fadas datado.
Zegler segura bem o papel. Sua Branca de Neve é menos um arquétipo e mais uma heroína de blockbuster, o que pode incomodar puristas, mas ajuda a atualizar a trama para uma audiência menos tolerante a protagonistas passivas. Já Gal Gadot se diverte interpretando a Rainha Má, sua presença é magnética, embora por vezes tão caricata quanto o espelho falante. Há charme, há elegância, mas há também uma ponta de exagero que faz lembrar aquelas atuações meio camp de vilãs dos anos 1960.
O ponto mais questionável, no entanto, atende pelo nome de CGI. Os sete anões, ao invés de serem representados por atores reais ou técnicas práticas que o cinema já dominava em 2001 com “O Senhor dos Anéis”, surgem digitalmente animados, tentando manter um pé no realismo e outro no cartunesco. Resultado? Um desfile de figuras que habitam aquele limbo desconfortável do vale da estranheza, onde o cérebro percebe que aquilo deveria ser realista… mas claramente não é.
A trilha sonora original ganha reforço de peso com Benj Pasek e Justin Paul, nomes por trás de sucessos como “La La Land” e “O Rei do Show”. As músicas cumprem seu papel: soam modernas o suficiente para fisgar novos fãs, mas com ecos suficientes do passado para não alienar completamente os nostálgicos. Ainda assim, nenhum número aqui parece destinado a entrar para a história ao lado de “Someday My Prince Will Come”.
E já que estamos falando em príncipe, ele praticamente sai do roteiro nesta versão. Sem sinais daquele amor à primeira vista e consentimento questionável do clássico. No lugar, surge Jonathan (Andrew Burnap), um bandido bonitão com coração de ouro e discurso quase progressista. Funciona? Em parte. A química entre ele e Branca de Neve é leve, mas pouco memorável. O romance, aqui, é coadjuvante, e talvez seja exatamente isso que o filme queria dizer.
É impossível ignorar também a tempestade de debates fora da tela. Da escolha do elenco à representação dos anões, passando pelas tensões políticas envolvendo as atrizes principais, este “Branca de Neve” parece ter nascido envolto em controvérsias antes mesmo de chegar aos cinemas. Mas, analisando apenas o filme, sem ruído externo: é um produto bem acabado, visualmente agradável, interpretado com competência e que, embora preso a alguns vícios da fórmula Disney, acerta mais do que erra.
Não reinventa a roda, e nem precisa. Mas também não alcança o frescor visual e narrativo de adaptações live-action realmente ousadas, como “Cinderela” (2015) ou “Mogli” (2016). Fica naquele confortável meio-termo: bonito, eficiente, sem grandes riscos.
Vale o ingresso? Vale. Especialmente se você está disposto a desligar a parte do cérebro que analisa cada detalhe e simplesmente mergulhar na fantasia. Só não espere sair do cinema assobiando uma nova “Heigh-Ho”. Esses tempos, aparentemente, ficaram mesmo no passado.
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