Existe algo profundamente desconcertante em “Brick”. Não por suas reviravoltas ou pela estética distópica que se revela aos poucos, mas pela forma como o filme nos prende no ordinário e transforma o cotidiano em terreno de ameaça. A ideia de um casal subitamente cercado por uma muralha intransponível dentro do próprio lar é o ponto de partida para uma narrativa que bebe do sci-fi psicológico, mas que se estrutura essencialmente como uma dissecação das ruínas afetivas, da corrosão da vida moderna e da impotência coletiva diante do absurdo.
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Philip Koch dirige com precisão uma obra que sabe onde quer chegar. Não há desperdício de tempo, nem na mise-en-scène nem na progressão narrativa. A urgência está instaurada desde os primeiros minutos, mas a claustrofobia que se impõe ali vai além da arquitetura física. Existe uma prisão emocional já instaurada antes mesmo dos tijolos pretos aparecerem. A falta de comunicação entre Tim e Olivia, a ausência de propósito, o acúmulo de decisões não tomadas, tudo isso cria um caldo espesso de tensão que precede o desastre e o torna ainda mais perturbador.
Ao expandir o espaço cênico para outros apartamentos, o roteiro introduz novas figuras que alimentam camadas narrativas e simbólicas. O prédio torna-se uma miniatura de mundo em colapso, onde cada morador representa um recorte possível da sociedade. Uns negam, outros surtam, alguns especulam. A paranoia se espalha como mofo pelas paredes. A ausência de respostas, longe de frustrar, se torna o combustível da obra. Koch está menos interessado em explicar do que em fazer sentir. E o que se sente aqui é desespero, estranhamento, urgência e isolamento.
A direção de arte trabalha com contrastes: do neon vulgar à penumbra opressiva, da plasticidade publicitária ao concreto sujo. Cada apartamento invadido pelos protagonistas revela uma estética particular, como se aquele edifício fosse uma colagem de microuniversos em decomposição. O filme evita a armadilha da alegoria explícita e caminha em direção a um suspense existencial, onde o perigo maior talvez esteja menos no muro do que naquilo que ele revela sobre cada um ali dentro.
Ainda que o terceiro ato ceda parcialmente à tentação das explicações e amarre algumas pontas de forma mais convencional, o impacto não se dilui. A jornada até ali já foi suficientemente devastadora. “Brick” propõe um tipo de experiência sensorial que opera menos pela lógica e mais pela pressão constante que exerce sobre seus personagens e, consequentemente, sobre o espectador.
É um filme que se sustenta na incerteza, que transforma espaço em linguagem e que entende que o medo mais eficaz não vem de fora, mas das rachaduras que correm dentro.
“Brick”
Direção: Philip Koch
Elenco: Matthias Schweighöfer, Ruby O. Fee, Frederick Lau
Disponível em: Netflix
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