Em “Casa de Dinamite”, Kathryn Bigelow tenta reacender a tensão do cinema político com o mesmo vigor que a consagrou em “Guerra ao Terror” e “A Hora Mais Escura”. O resultado, no entanto, é um experimento ambicioso que explode com força na largada, mas perde fôlego à medida que repete o próprio impacto. O filme começa como uma promessa de caos e termina como um exercício de estrutura que se sabota pelo excesso de controle.

A premissa é direta: os Estados Unidos são atingidos por um míssil não identificado, e a corrida para descobrir a origem do ataque coloca governo e militares em alerta máximo. O primeiro ato é puro Bigelow pulsante, técnico, preciso. A câmera invade salas de comando, cabines de guerra e escritórios presidenciais com urgência, enquanto o tempo corre como uma bomba-relógio prestes a estourar. Os trinta minutos iniciais formam um thriller quase impecável, daqueles que transformam cada telefonema em uma sentença e cada olhar em um veredito.
Mas é aí que Bigelow toma a decisão mais arriscada de toda a obra: reiniciar a história. A mesma sequência de eventos é recontada sob três perspectivas diferentes, em três blocos narrativos quase idênticos. O que poderia ser um estudo de ângulos morais e políticos acaba se tornando um labirinto redundante. A tensão inicial se dilui, e a sensação é de estar preso a uma repetição que tenta ser profunda, mas se revela burocrática. O ritmo que antes dominava a tela se fragmenta em um eco cansativo de si mesmo.
Ainda assim, a direção de Bigelow segue inegavelmente competente. Há domínio técnico em cada corte, e o desenho de som mantém uma precisão quase militar. O problema é que, sob a superfície polida, falta alma. A estrutura em looping não expande os personagens nem adiciona camadas significativas à narrativa. A tensão que antes era humana se torna mecânica.
Idris Elba entrega uma performance sólida como o presidente que precisa decidir entre a retaliação e o colapso. Rebecca Ferguson surge com frieza estratégica, enquanto Greta Lee encarna o elemento mais imprevisível do trio central. O elenco cumpre seu papel com profissionalismo, mas as repetições enfraquecem o impacto emocional das atuações.
Há também um desconforto político que paira sobre o filme. “Casa de Dinamite” tenta se manter neutro, mas essa neutralidade soa deslocada em um contexto global saturado por extremismos e discursos de poder. A crença de Bigelow em uma estrutura de governo moral e eficiente parece um eco de um passado que já se desfez. O filme se sente preso em uma nostalgia ideológica, uma visão onde o sistema ainda pode ser consertado se as pessoas certas estiverem no comando.
No ato final, a repetição atinge o limite do esgotamento. O clímax se desfaz em uma resolução morna, incapaz de sustentar o peso do que foi prometido. O que começa como um thriller de alta voltagem termina como um ensaio sobre redundância narrativa. Bigelow parece mais interessada em testar formatos do que em provocar reflexões.
“Casa de Dinamite” é visualmente preciso, mas emocionalmente distante. Há uma cineasta de pulso firme por trás da câmera, mas o roteiro de Noah Oppenheim reduz a potência de sua direção a um exercício técnico. O filme tinha dinamite nas mãos, mas explode cedo demais e o que sobra é fumaça.
“Casa de Dinamite”
Direção: Kathryn Bigelow
Roteiro: Noah Oppenheim
Elenco: Rebecca Ferguson, Idris Elba, Greta Lee
Disponível em: Netflix
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