Crítica: Charli XCX, “Brat and It’s Completely Different but Also Still Brat”

Crítica: Charli XCX, "Brat and It's Completely Different but Also Still Brat" | Foto: Reprodução

Crítica: Charli XCX, "Brat and It's Completely Different but Also Still Brat" | Foto: Reprodução

O mundo é “Brat”! Charli XCX conclui o ciclo de inovação na música pop, redefinindo o que significa ser pop em 2024. “Brat and It’s Completely Different but Also Still Brat” vai além de um simples álbum de remixes, tornando-se uma verdadeira declaração de liberdade criativa. A artista pega o que poderia ser apenas uma releitura de seu sexto álbum de estúdio e transforma em algo completamente novo, elevando o nível da desconstrução sonora. Charli mistura nostalgia e futurismo em um mosaico sonoro que desafia qualquer conceito pré-estabelecido do que conhecemos como música pop, abraçando o caos criativo de maneira quase subversiva.

Esse novo trabalho, lançado em 11 de outubro de 2024, apresenta um elenco de peso. Temos a presença de artistas como Robyn, Ariana Grande, Troye Sivan, The 1975, Lorde, Bladee, Billie Eilish, Bon Iver e até mesmo Julian Casablancas. A lista já te diz que o álbum não está aqui para ser discreto. A produção fica a cargo de A.G. Cook e Finn Keane, mas Charli XCX, Jon Shave e George Daniel também trouxeram sua marca à produção. Ah, e claro, Bon Iver e The Japanese House completam a visão eletrônica que guia o álbum.

Crítica: Charli XCX, “Brat and It’s Completely Different but Also Still Brat” | Foto: Reprodução

Agora, vamos direto ao ponto. A primeira faixa, “360“, traz uma colaboração entre Yung Lean e Robyn, uma mistura que soa inicialmente como um passo em falso, como se Lean e Robyn não tivessem encaixado suas energias na atmosfera que a música original propõe. Mas com o tempo, esse remix cresce de forma quase subversiva. A gente percebe que há algo que Charli sempre faz bem: ela nos desafia a ouvir a música sob outra perspectiva.

Já “Club Classics” com BB Trickz nos apresenta um dilema. É uma faixa que prometia uma atmosfera nostálgica, mas acaba escorregando um pouco. O problema é que, ao misturar elementos de outra faixa do álbum, “365“, ela perde um pouco da essência que fez a original brilhar. O remix não é ruim, mas acaba deixando uma sensação de que “Club Classics” virou uma versão 2.0 de “365“. Porém, esse momento é rapidamente superado pelo brilhante remix de “Sympathy is a Knife” com Ariana Grande. Este é um daqueles momentos em que o remix supera a original. A colaboração entre Charli e Ariana ressignifica a música, trazendo um equilíbrio entre as emoções cruas de Charli e os vocais potentes de Ariana.

I Might Say Something Stupid“, com The 1975 e Jon Hopkins, é um exemplo perfeito de como uma faixa pode ser mal compreendida. Enquanto alguns fãs disseram que ela destoa do álbum, a verdade é que essa faixa não só se destaca por trazer uma sonoridade mais atmosférica, mas também por ser uma das mais emocionantes do disco. A produção lenta, quase melancólica, dá espaço para camadas de som que ecoam como um grito de solidão. E para quem lembra de “333” de Bladee, vai encontrar algo familiar aqui.

Crítica: Charli XCX, “Brat and It’s Completely Different but Also Still Brat” | Foto: Reprodução

Talk Talk“, com Troye Sivan, por outro lado, não atinge o mesmo impacto da original. A música tem um groove divertido, mas falta aquele toque de descontração que fez da versão original um hit instantâneo. O mesmo se pode dizer de “Von Dutch”, com Addison Rae. Apesar de ser uma faixa sólida, não alcança o potencial energético que a versão com Skream e Benga poderia trazer.

Agora, “Everything is Romantic” é um show à parte. Com Caroline Polachek na produção, a música se transforma em uma peça de arte sonora. As vozes de Charli e Caroline são habilmente utilizadas como instrumentos, criando uma atmosfera de pop ambiental que envolve o ouvinte. A canção é uma das que mais se destacam no álbum, com a harmonia entre as duas artistas elevando o material a um novo patamar.

E, claro, chegamos à colaboração com Bladee em “Rewind“. A internet pode não ter sido muito gentil com a participação dele e de Yung Lean no álbum, mas essa faixa é uma das que mais brilha no disco. Bladee traz uma presença e uma profundidade que elevam a versão remix, transformando-a em uma obra completa. As referências a Drain Gang, grupo que Bladee integra, são sutis, mas presentes, o que torna a faixa ainda mais rica.

“Girl, So Confusing”, com Lorde, é sem dúvida uma das melhores faixas do álbum. A colaboração entre essas duas forças criativas é algo que parece tão natural quanto brilhante. A versão remix não apenas mantém a emoção crua da original, mas acrescenta novas camadas, fazendo da canção uma das mais memoráveis não só do disco, mas de toda a carreira de Charli.

Crítica: Charli XCX, “Brat and It’s Completely Different but Also Still Brat” | Foto: Reprodução

Infelizmente, nem tudo são flores. Faixas como “Apple” e “B2B” acabam perdendo o brilho que tinham nas versões originais. A energia vibrante de “Apple” é diluída, enquanto “B2B“, com Tinashe, não consegue alcançar a intensidade necessária. Já “Mean Girls”, com Julian Casablancas, é a verdadeira decepção do álbum. A faixa soa monótona, quase sem vida, uma grande oportunidade perdida para uma colaboração de peso.

Mas antes de encerrar, vale destacar o remix de “365“, com Shygirl. Aqui, temos um retorno à energia original, mas com uma nova abordagem que faz o ouvinte querer se perder na pista de dança. A faixa, no entanto, peca por ser curta demais, terminando justo quando o ouvinte está mais imerso.

No fim da festa, “Brat and It’s Completely Different but Also Still Brat” é um disco que traz uma bagagem rica em experimentação. Alguns remixes brilham e até superam suas versões originais, enquanto outros deixam a desejar. Mas no final, Charli XCX entrega mais uma peça inovadora, provando que a reinvenção é a chave de sua carreira.

Nota final: 79/100

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