Tem séries que parecem escritas por inteligência artificial com acesso limitado a todos os clichês da TV americana dos anos 2000. “Contagem Regressiva” é uma dessas. Um crime brutal, uma força-tarefa improvisada, um herói torturado com um tumor inoperável, uma colega de equipe com passado mal resolvido, uma conspiração que ameaça o mundo e, claro, o relógio girando sem parar. Nada disso soa novo, surpreendente ou genuinamente envolvente. Mas soa alto. Muito alto. Porque a série faz barulho. Muito barulho.
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Desde a primeira cena, “Contagem Regressiva” tenta se vender como um thriller urgente, pulsante, cheio de adrenalina. E talvez até consiga fazer isso, mas com o mesmo impacto emocional de um trailer de jogo genérico para console. O ritmo é acelerado, as explosões são generosas, os cortes são rápidos, os diálogos são gritados. Mas e a substância? Fica enterrada sob entulhos narrativos e personagens tirados diretamente do estoque de arquétipos: o detetive durão com passado sombrio, a agente destemida com dilemas morais, o chefe carrancudo e a ameaça nuclear que chega pontualmente para o cliffhanger da semana.
É tudo tão programado que chega a ser matemático. A cada dez minutos, entra uma sequência de ação. A cada episódio, um personagem revela um trauma. A cada conflito, um flashback explicativo. E, no meio disso tudo, o espectador assiste ao desfile de lugares-comuns como quem vê pela terceira vez aquele filme da tarde que começa igual e termina igual.
Jensen Ackles faz o que pode. Tenta imprimir algum carisma ao detetive Mark Meachum, mas o roteiro lhe entrega apenas frases prontas e uma condição médica dramática que só serve como muleta narrativa. A trama insiste em transformar seu tumor cerebral em elemento de suspense, mas o efeito dramático é nulo. O público já sabe onde isso vai dar, e os diálogos médicos beiram o constrangimento. Jessica Camacho também tenta dar densidade à sua personagem, mas a série parece mais preocupada com sua ficha técnica do que com sua história.
O maior problema de “Contagem Regressiva” é justamente esse: tudo parece simulado. A tensão, o perigo, os dilemas morais, a rivalidade forçada entre Meachum e Oliveras, o romance inevitável que vai surgir porque, claro, duas pessoas bonitas e irritadas sempre terminam na cama. É uma série que acredita que agitação compensa falta de inovação, que ruído substitui complexidade e que velocidade anula profundidade.
E o mais curioso é que há dinheiro ali. A produção tem bons valores visuais, elenco competente e até uma premissa com potencial, se não estivesse soterrada sob a obrigação de entregar treze episódios cheios de perseguições, tiroteios e frases de efeito. A tal ameaça radioativa que move a trama é só pano de fundo para manter o elenco correndo de um ponto ao outro. O suspense existe, mas não tensiona. O drama aparece, mas não afeta. A ação acontece, mas raramente empolga.
No final, “Contagem Regressiva” entrega o que promete. Só que o que ela promete já foi entregue, reciclado e desgastado por tantas outras séries do mesmo molde. Se fosse um filme de 1h45, talvez funcionasse como passatempo descartável. Mas esticada em uma temporada inteira, a sensação é de que a bomba já explodiu no primeiro episódio e o que resta é só eco.
“Contagem Regressiva“
Criado por Derek Haas
Com Jensen Ackles, Jessica Camacho, Violett Beane
Disponível no Prime Video, com novos episódios toda quarta-feira
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