“Corações Prometidos” tenta soar como um drama romântico de grandes emoções e conflitos morais, mas o que entrega, no fim, é um enredo preso a estruturas engessadas, incapaz de construir verdade emocional ou provocar reflexão genuína. O filme aposta alto na intensidade dos dilemas que propõe, mas se perde na superficialidade com que trata cada um deles, como se bastasse a presença de lágrimas e tradições para tornar tudo profundo.
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A narrativa gira em torno de uma médica jovem e idealista, empurrada para um casamento arranjado como solução para salvar a família da falência. A partir daí, “Corações Prometidos” tenta costurar questões como autonomia, desejo, tradição, sacrifício e fé. Mas o que poderia ser uma trama sobre embates reais entre o que se quer e o que se espera de alguém, se transforma rapidamente em um roteiro que substitui complexidade por melodrama forçado e reviravoltas sem lógica emocional.
A condução da diretora parece mais interessada em provocar suspiros do que em criar cenas memoráveis. Há uma certa estética de novela que se impõe em quase todos os diálogos, com personagens que funcionam mais como peças simbólicas do que como pessoas com camadas. E não há problema nenhum em trabalhar com arquétipos, desde que eles sejam desenvolvidos com alguma humanidade. Mas aqui, tudo é conduzido com um tom tão artificial que os conflitos jamais parecem críveis.
Mesmo os temas religiosos, que poderiam ser abordados com mais sensibilidade e impacto, aparecem apenas como pano de fundo decorativo, sem nenhuma complexidade teológica ou cultural que faça sentido na jornada dos personagens. Em vez de explorar a espiritualidade como força interna de decisão, o filme opta por soluções simplistas, quase místicas, que soam convenientes demais para o roteiro e pouco convincentes para o público.
E é nesse ponto que “Corações Prometidos” derrapa de vez. A narrativa se estrutura como se estivesse prestes a explorar um conflito real entre o destino e a liberdade de escolha, mas entrega um desfecho que parece escrito no susto, com soluções absurdas que desrespeitam até mesmo as regras internas do próprio filme. É frustrante ver uma história que se propõe a discutir temas importantes como tradição, religião e identidade feminina ser reduzida a um final que não apenas ignora a inteligência do espectador, como também desmonta toda a jornada da protagonista em nome de um desfecho conveniente.
Tecnicamente, o filme é protocolar. A fotografia tenta criar climas poéticos, mas sem consistência visual. A direção de atores é irregular e, em muitos momentos, as performances parecem estar presas ao exagero de um teatro de clichês. O romance que deveria mover a trama se arrasta sem química real, e a carga dramática, que deveria emergir dos conflitos internos dos personagens, é substituída por uma sucessão de diálogos expositivos que mais parecem lições de moral mal ensaiadas.
A maior ironia é que o filme se propõe a defender a ideia de que seguir o próprio caminho é um ato de coragem, mas termina como um produto sem ousadia, preso ao conservadorismo narrativo e estético. É como se “Corações Prometidos” dissesse que você pode escolher seu destino, desde que ele já esteja decidido por alguém mais.
No final, o que poderia ser um retrato sensível sobre o papel da mulher diante das pressões sociais e familiares, se transforma em um exercício de melodrama desgastado, com um roteiro que prefere apelar para absurdos do que encarar as contradições que levanta. É um filme que promete conflito, mas entrega passividade. Que promete emoção, mas serve clichê. Que promete uma jornada pessoal, mas termina como um teatro de obviedades mal encenadas.
“Corações Prometidos” não tem coragem de ser moderno, nem consistência para ser clássico. Fica preso no meio do caminho, como uma promessa que nunca se cumpre.
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