É curioso como o mundo moderno tem forçado causas urgentes a transitarem pelo espetáculo para, só assim, serem ouvidas. É exatamente isso que “Encantadora de Tubarões”, o documentário da Netflix, revela sem nem precisar se esforçar muito. A história se ancora em Ocean Ramsey, a bióloga marinha e influenciadora digital que ficou mundialmente famosa por nadar coladinha em tubarões gigantes, enquanto um drone captura tudo para depois virar post viral. E o que poderia ser um retrato épico de conservação, às vezes escorrega para o território do autoengrandecimento.
- Saiba quais os álbuns internacionais que serão lançados em 2025
- Confira a agenda de shows de julho em São Paulo
- My Chemical Romance esgota ingressos e anuncia nova data em São Paulo

Ainda assim, é difícil negar o poder das imagens. Algumas das cenas subaquáticas aqui são de cair o queixo, feitas com uma delicadeza estética que, de fato, reforça o encantamento pelos tubarões. O mar azul profundo parece infinito, e ali, em meio a toda essa imensidão, surge Ocean, quase coreografando um balé silencioso com animais que carregam há séculos a fama de monstros.
O documentário faz questão de trazer outras vozes para a conversa. Líderes indígenas, biólogos marinhos e até críticos das táticas de Ocean aparecem em tela, o que ajuda a dar alguma densidade para o debate. É um contraponto necessário, porque há algo meio torto nessa romantização de tubarões “amigos”, que entenderiam humanos num nível quase espiritual. Tubarões são tubarões. E ponto. Esse é o tipo de pensamento que talvez transforme o ativismo num jogo perigoso, tanto para quem defende quanto para quem observa de fora.
Ainda assim, dá para tirar o chapéu para o impacto prático. Ocean e seu parceiro Juan Oliphant conseguiram pressionar politicamente até que a pesca de tubarões fosse proibida no Havaí. E isso não é pouca coisa. A sensação que fica é de um pequeno triunfo ambiental, mesmo que embalado por cortes de vídeo que às vezes parecem mais interessados em choques dramáticos do que no ecossistema marinho em si. O editor se diverte, e o público acompanha: “tubarões não querem atacar humanos”… corte rápido para alguém sem perna contando sua história. A ironia é brutal, mas eficiente em lembrar que aquilo ainda é natureza selvagem.
“Encantadora de Tubarões” também escancara um detalhe amargo do nosso tempo. Para salvar o oceano, é preciso ser um influenciador digital. Viver de reels, stories, algoritmos. Ocean Ramsey talvez compreenda melhor do que ninguém o peso desse paradoxo. Ela precisa estar no centro da cena para garantir que os tubarões não desapareçam completamente dela.
No fim das contas, o documentário vale a pena pelos visuais impressionantes e pela chance de se questionar até onde vai o show e onde começa o real compromisso com a causa. Ocean pode até ter recebido críticas pesadas, algumas merecidas, outras apenas misóginas e vazias. Mas o saldo da sua empreitada é inegável. Tubarões continuam vivos. E nós continuamos a olhar para eles nem que seja pelo feed.
Encantadora de Tubarões (2025)
Direção: James Reed, Harrison Macks, JP Stiles
Elenco: Ocean Ramsey, Juan Oliphant
Disponível em: Netflix
Fique por dentro das novidades das maiores marcas do mundo! Acesse nosso site Marca Pop e descubra as tendências em primeira mão.






