“Explosão no Trem-Bala”, dirigido por Shinji Higuchi, representa uma tentativa de revisitar um dos grandes clássicos do suspense japonês com uma abordagem modernizada que, em teoria, deveria equilibrar o respeito pelo material original com inovações narrativas e visuais. No entanto, o resultado final expõe de maneira contundente as fragilidades recorrentes em muitas refilmagens contemporâneas: uma preocupação excessiva com efeitos visuais em detrimento do desenvolvimento dramático e uma inclinação para mensagens políticas rasas que subestimam a inteligência do espectador.
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A premissa básica permanece poderosa em sua essência. Um trem-bala, incapaz de reduzir sua velocidade sem provocar uma explosão devastadora, carrega a tensão dramática necessária para um thriller claustrofóbico e emocionalmente carregado. O conceito estabelece naturalmente um ritmo narrativo urgente, convidando o espectador a uma experiência de crescente suspense. No entanto, a execução em “Explosão no Trem-Bala” falha em capitalizar o potencial de sua própria estrutura.
Shinji Higuchi opta por uma direção visual que enfatiza o espetáculo em detrimento da tensão psicológica. A montagem acelerada e o excesso de movimentos de câmera tentam simular uma sensação de urgência, mas acabam por diluir o impacto emocional ao transformar a narrativa em uma sequência de imagens ruidosas e desconectadas. O cuidado meticuloso com o desenvolvimento de personagens visto no clássico de 1975 é completamente negligenciado aqui. O novo filme apresenta personagens estereotipados, que não são aprofundados o suficiente para gerar empatia ou sequer justificar suas próprias ações no enredo.
Narrativamente, a obra sofre de uma superficialidade alarmante. A introdução de figuras governamentais caricatas, cuja única função é servir de símbolo para críticas políticas óbvias e pouco sutis, rompe com qualquer tentativa de construir um suspense verossímil. A escolha de inserir sarcasmo e desdém institucional de forma tão explícita compromete a atmosfera de seriedade que deveria caracterizar um thriller deste tipo. Em vez de gerar reflexão, o filme recorre a didatismos previsíveis que reduzem a complexidade das situações a slogans vazios.
O roteiro, incapaz de criar vínculos sólidos entre o espectador e os personagens a bordo do trem, rapidamente se transforma em uma sucessão de eventos desencontrados que dependem exclusivamente do ruído visual para manter a atenção. A ausência de motivações claras e de arcos dramáticos consistentes torna a jornada emocionalmente inerte. Em termos de estrutura, o filme revela-se desequilibrado, incapaz de sustentar o interesse além de seus primeiros trinta minutos, e mergulha progressivamente em redundâncias narrativas que comprometem seu impacto.
Em comparação direta com “O Trem-Bala” de 1975, a inferioridade da nova versão torna-se ainda mais evidente. O original dedicava tempo para explorar a psicologia dos vilões e o heroísmo genuíno dos que tentavam salvar o trem, conferindo peso dramático real às ações e às escolhas dos personagens. Em “Explosão no Trem-Bala”, por outro lado, cada decisão narrativa parece orientada para acelerar o espetáculo e reduzir a profundidade, convertendo um drama potencialmente arrebatador em um produto genérico e desprovido de identidade.
Tecnicamente, embora os efeitos visuais sejam competentes no que se propõem, eles carecem de criatividade na construção da tensão. As cenas de ação, excessivamente coreografadas e previsíveis, substituem a verdadeira sensação de perigo iminente por uma estética vazia e reciclada de outras produções recentes. A trilha sonora, em vez de amplificar a angústia, apenas reforça a sensação de artificialidade e distancia emocional.
O filme falha também na construção do espaço dramático. A ambientação do trem, que poderia ser explorada para acentuar o sentimento de claustrofobia e impotência, é tratada de maneira genérica. O espaço nunca se torna um personagem vivo dentro da narrativa, o que enfraquece a imersão e reduz as possibilidades dramáticas do próprio conceito original.
Em última análise, “Explosão no Trem-Bala” exemplifica muitos dos vícios que assolam parte da produção cinematográfica. É uma obra que prioriza a forma sobre o conteúdo, os efeitos sobre as emoções, a crítica política rasa sobre a construção narrativa autêntica. O resultado é um filme barulhento, mas vazio, incapaz de honrar o legado da obra original ou de oferecer uma experiência memorável por mérito próprio.
Ao final de suas duas horas de duração, resta apenas a sensação de um tempo desperdiçado em meio a uma produção que, ironicamente, perde velocidade e explode não por causa de seus personagens ou de sua trama, mas pela fragilidade de suas próprias escolhas artísticas.
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