Vinte e três anos depois do impacto visceral de “Extermínio “, Danny Boyle retorna ao universo infectado com “Extermínio 3: A Evolução”, e o que poderia facilmente ter sido um exercício de repetição se transforma em algo profundamente íntimo, desconcertante e corajoso. Este não é um filme sobre zumbis. É sobre crescimento. Sobre perder a inocência. Sobre os silêncios entre pais e filhos que dizem mais do que qualquer grito de desespero.
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A escolha de ambientar o filme em uma floresta, longe do caos urbano e da sensação de colapso civilizatório, é um dos maiores trunfos da direção. Boyle entrega um visual cru, quase documental, com câmera que treme não por estilo, mas por urgência. É como se estivéssemos invadindo um espaço privado de luto e reconstrução emocional. A estética desconfortável, de cortes precisos e planos que respiram, não se rende ao espetáculo vazio da carnificina. Aqui, cada passo na lama tem peso narrativo.
A estrutura dramática repousa sobre o arco de amadurecimento do protagonista. Um garoto tentando entender o mundo ao seu redor enquanto este mundo insiste em desmoronar, não por causa do vírus, mas pela falência das figuras que deveriam protegê-lo. O medo dos infectados existe, claro, mas o verdadeiro terror nasce de algo muito mais humano: a pressão de crescer quando ninguém te preparou para isso. Alfie Williams entrega uma atuação silenciosa e devastadora, traduzindo com o olhar toda a carga de uma juventude partida entre responsabilidade, luto e sobrevivência.
A volta dos infectados é conduzida com um senso renovado de propósito. Eles são menos monstros e mais metáforas vivas. A ameaça evoluiu, e o filme também. Boyle os dirige como se fossem parte do cenário, quase como a natureza corrigindo o erro humano, ao invés de apenas antagonistas da trama. Isso dá ao longa uma força simbólica rara para o gênero. Eles assustam, mas também dizem algo. O terror vem menos do susto e mais do subtexto.
O roteiro escrito por Alex Garland sabe exatamente onde quer tocar: na ferida. Há uma dor latente em cada escolha, uma sensação de que nada é gratuito. Cada sacrifício carrega um dilema ético, cada decisão se debate entre o instinto de autopreservação e a vontade de se agarrar ao que resta de humanidade. Não é um filme sobre o fim do mundo, mas sobre como é difícil continuar quando tudo o que você acreditava começa a ruir.
Há momentos de pura beleza melancólica, que surgem como fendas de poesia dentro do caos. O filme não tem pressa. E isso é bom. Ele permite que os personagens existam, que o luto tenha espaço, que as falhas humanas sejam tratadas sem julgamento. E mesmo em seus momentos mais viscerais, há um cuidado estético e narrativo que impede que o horror seja gratuito.
Tecnicamente, é um filme robusto. A trilha, a fotografia, a edição, tudo funciona como extensão emocional do que se vê em cena. E o elenco de apoio, liderado por Jodie Comer, Aaron Taylor-Johnson e Ralph Fiennes, está impecável. Cada um deles contribui para uma narrativa que exige nuances e entrega intensidade com sobriedade.
“Extermínio 3: A Evolução” é, portanto, um filme de gênero que rompe com as amarras do gênero. É brutal sem ser fetichista. É delicado sem ser piegas. É mais sobre as ausências do que sobre os monstros. Um estudo de personagens disfarçado de thriller apocalíptico. E talvez seja justamente por isso que ele funcione tão bem: porque nos lembra que o fim do mundo é só um detalhe quando o que está em jogo é o que sobra de nós.
Para um público acostumado com zumbis em velocidade máxima, explosões e narrativas formulaicas, essa nova abordagem pode causar estranhamento. Mas para quem busca cinema com camadas, ritmo orgânico e histórias que exploram o que ainda vale a pena sentir no meio do colapso, este terceiro capítulo da saga Extermínio é uma obra que merece ser vista, discutida e, principalmente, sentida.
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