“Exterritorial”, dirigido por Christian Zübert, parte de uma premissa conhecida e diretamente inspirada em thrillers como “Plano de Voo”, com Jodie Foster. No centro da trama está Sara, interpretada por Jeanne Goursaud, uma ex-soldada das Forças Especiais cujo filho desaparece misteriosamente dentro do consulado dos Estados Unidos em Frankfurt. A partir daí, o longa se transforma em um suspense de ação enclausurado, repleto de perseguições, lutas corpo a corpo e teorias de conspiração.
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A principal tensão do roteiro está na negação da existência do menino. Funcionários do consulado alegam nunca tê-lo visto entrar no prédio, e as câmeras de segurança não mostram sua presença. Sara, então, se recusa a deixar o local e inicia uma busca frenética por pistas, enquanto lida com forças hostis, limitações diplomáticas e, aos poucos, a desconfiança crescente da própria sanidade. Esse jogo psicológico com o público, centrado em gaslighting e dúvidas sobre a percepção da protagonista, é um dos elementos mais bem trabalhados pelo filme.
Ainda assim, “Exterritorial” se sustenta com base em clichês e soluções fáceis. A personagem de Sara reúne todas as características tradicionais da heroína de ação moderna: habilidades militares impecáveis, trauma de guerra mal resolvido, e um senso de missão inabalável. Seu passado nas forças especiais serve de justificativa para a condução de sequências de ação coreografadas com precisão, mas que desafiam a verossimilhança. Em especial, as cenas gravadas em longas tomadas têm boa execução técnica e criam dinamismo, mesmo quando o conteúdo das lutas segue um molde genérico.
No aspecto técnico, o longa entrega um trabalho visual coerente, com câmera nervosa e ritmo acelerado, favorecendo o clima de tensão constante. O cenário limitado do consulado funciona como uma caixa de ressonância claustrofóbica para a trama, embora o design de produção não explore a fundo a geografia do espaço. Há também momentos de evidente discrepância na dublagem ou sincronia labial, resultado do filme ser majoritariamente falado em inglês, mas gravado com um elenco que não tem esse idioma como língua nativa.
O roteiro, por outro lado, tropeça em conveniências narrativas. A progressão dos eventos se baseia em coincidências e facilitações, o vilão carece de profundidade, e a trama principal rapidamente cede lugar ao desenvolvimento de um complô conspiratório previsível. A crítica implícita à jurisdição extraterritorial dos Estados Unidos é apenas sugerida, nunca explorada com densidade política ou realismo institucional.
O final feliz é previsível e reforça a fantasia escapista da segurança americana como promessa de redenção, sucesso e proteção. Apesar disso, o filme não é desprovido de mérito enquanto entretenimento. Oferece ao público uma opção funcional para fugir da realidade, matar o tempo e acompanhar uma protagonista decidida a confrontar o sistema com os próprios punhos.
“Exterritorial” pode ser classificado como mais um exemplar genérico dentro do gênero de ação e suspense, sem grandes ambições narrativas, mas competente na execução de sua fórmula. Funciona como passatempo, embora careça de qualquer elemento que o eleve acima do padrão mediano. Uma experiência que se consome rapidamente, sem deixar marcas duradouras.
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