“Frozen Hot Boys” pode parecer, à primeira vista, apenas uma comédia adolescente ambientada em uma competição de esculturas na neve, mas essa produção tailandesa surpreende por sua delicadeza emocional e honestidade narrativa. Com direção de Naruebordee Wechakum e Tanakit Kittiapithan, o filme acompanha um grupo de jovens estudantes que viajam ao Japão com seu professor para participar de um torneio artístico incomum, e acaba explorando de forma calorosa os temas de pertencimento, amadurecimento e identidade.
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O longa se estrutura como um road movie emocional, combinando humor com momentos dramáticos sutis. A trama progride com leveza, alternando cenas descontraídas com pausas para reflexões íntimas, sem recorrer a maniqueísmos ou fórmulas sentimentais. Há um cuidado constante em tratar o amadurecimento como um processo coletivo: as piadas, mesmo quando simplistas ou até bobas, cumprem um papel de afeto, de construção de laços entre personagens que se apoiam apesar das inseguranças e das fragilidades.
“Frozen Hot Boys” se ancora em dois pilares principais: a confiança e a ideia de família escolhida. Os jovens vêm de contextos familiares diferentes, muitos deles desfeitos, distantes ou emocionalmente negligentes, mas encontram nos colegas e no professor figuras de apoio que preenchem essas lacunas. A mensagem é clara e recursiva: o passado não define o futuro quando há espaço para arrependimento, mudança e acolhimento. A narrativa valoriza o crescimento emocional sem precisar forçar conflitos ou melodramas. Em vez disso, foca em dinâmicas relacionais verossímeis e afetuosas.
A direção acerta ao não exagerar na condução dramática. Mesmo nos momentos mais emotivos, o filme evita sentimentalismo excessivo, o que o torna ainda mais sincero. A estética, por sua vez, é funcional: os cenários gelados do Japão são bem utilizados para criar contrastes entre o ambiente frio e a construção calorosa dos vínculos afetivos. O uso da neve e do gelo como metáforas para a fragilidade emocional dos personagens adiciona camadas interessantes, sem nunca se tornar um artifício óbvio.
Narrativamente, o filme também é bem ritmado. Apesar de durar quase duas horas, a condução dos eventos é fluida. O tempo parece passar mais rápido do que o previsto, o que é sempre um bom sinal em uma comédia dramática. Há, sim, pequenas falhas: nem todas as piadas funcionam, e alguns personagens poderiam ter sido mais aprofundados. No entanto, essas limitações não comprometem a experiência como um todo.
O roteiro, assinado por Pruch Neamsri, Rangsima Aukkarawiwat e pelo próprio Tanakit Kittiapithan, constrói arcos emocionais consistentes. Os diálogos revelam progressivamente a transformação dos personagens, sem exposições forçadas. As cenas de clímax emocional são discretas, porém eficazes: não apelam ao drama, mas entregam uma carga simbólica honesta, com espaço para o espectador projetar suas próprias memórias e afetos.
“Frozen Hot Boys” entrega mais do que seu título sugere. Sob a premissa cômica e despretensiosa de uma competição de esculturas na neve, o filme constrói uma narrativa sobre crescimento, conexão emocional e reconciliação com a própria identidade. A leveza do humor se equilibra com a densidade dos temas, criando uma obra acolhedora e emocionalmente eficiente.
É um filme ideal para quem busca uma experiência casual, mas cheia de humanidade, e uma bela porta de entrada para o cinema tailandês contemporâneo, que vem apostando cada vez mais em histórias que combinam sensibilidade cultural com mensagens universais.
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