Existe uma categoria de dramas históricos que parece feita sob medida para quem gosta de ver heranças virando munição e segredos de família fermentando com o tempo. “House Of Guinness”, nova produção da Netflix criada por Steven Knight, faz exatamente isso: transforma a história real de uma das famílias mais poderosas da Europa em um espetáculo de poder, vaidade e dinheiro.
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Desde o primeiro episódio, a série ergue uma atmosfera densa, quase tática, onde cada palavra carrega o peso de um império líquido. A fotografia úmida de Dublin e o brilho dos barris de stout contrastam com os jogos políticos e familiares que se movem como xadrez. A morte de Benjamin Lee Guinness é o estopim de um conflito interno que vai muito além do testamento: é sobre o que significa herdar um império, e mais ainda, o que significa mantê-lo vivo em meio a uma Irlanda dividida entre fé, rebelião e negócios.
A série flui entre Dublin e Nova York, com ritmo intenso e um olhar contemporâneo que lembra “Succession” mergulhada no século XIX. O uso de trilha moderna, com guitarras e percussões celtas, pode parecer anacrônico à primeira vista, mas acaba funcionando como uma tradução estética do caos que se instala nos corredores de St. James’s Gate. Knight entende que tradição e modernidade vivem em conflito constante, e usa isso como combustível narrativo.
Os herdeiros Arthur, Edward, Anne e Ben são apresentados como peças distintas, cada um com sua forma de carregar o sobrenome Guinness. Arthur tem o peso da primogenitura, Edward o pragmatismo industrial, Anne o instinto de sobrevivência em uma sociedade que restringe mulheres a papéis decorativos, e Ben o vício que ameaça corroer o legado da família. Em paralelo, o operário Sean Rafferty e a figura de Ellen Cochrane introduzem o olhar do povo, os que trabalham e sangram pelo nome Guinness, enquanto a Irlanda ferve em tensão política.
O mérito de “House Of Guinness” está na precisão da construção: o roteiro explica pouco e mostra muito. Cada plano, cada corte entre o funeral e as chamas que devoram os barris, diz mais sobre poder e religião do que qualquer discurso. É um drama de época que rejeita o academicismo do gênero e prefere sujar as mãos com fuligem, suor e ambição.
Mesmo com um início sem grandes excessos visuais, a série conquista pela densidade dos diálogos e pela força simbólica das imagens. Steven Knight reafirma sua habilidade de transformar períodos históricos em laboratórios morais e “House Of Guinness” é, acima de tudo, um estudo sobre como o poder fermenta quando misturado com culpa, herança e fé.
O elenco entrega performances sólidas, com destaque para Emily Fairn, cuja Anne revela um fogo interno que a aristocracia tenta apagar, mas que sobrevive, latente, entre o luto e a resistência. Há algo profundamente humano nessa mistura de ambição e fragilidade, o tipo de contraste que dá sabor ao drama.
“House Of Guinness” é o brinde agridoce da história irlandesa contado com energia, elegância e uma dose generosa de tragédia familiar. Uma taça cheia de conflitos, servida com espuma espessa e o amargor inevitável de quem tenta preservar um nome que já pertence ao mito.
“House Of Guinness”
Criação: Steven Knight
Elenco: Anthony Boyle, Louis Partridge, Emily Fairn, James Norton
Disponível em: Netflix
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