“iHostage” é um thriller de confinamento que parte de um evento real para construir uma narrativa centrada na tensão de um sequestro dentro de uma Apple Store em Amsterdã. Dirigido por Bobby Boermans e roteirizado por Simon de Waal, o filme aposta em uma ambientação de espaço único e em uma tensão de tempo real para sustentar sua estrutura dramática. Embora tecnicamente eficiente e competente em sua condução, o longa sofre com escolhas narrativas conservadoras que o afastam do impacto emocional e político que a história original poderia proporcionar.
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A decisão de Boermans de manter a maior parte da ação dentro da loja é acertada do ponto de vista da imersão. O uso de câmeras fixas e planos fechados reforça a claustrofobia, e a fotografia contribui para o senso de urgência ao acentuar contrastes de luz e sombra. A proposta é criar uma experiência que reproduza, ainda que em escala reduzida, o tipo de tensão que se instaura em uma situação de reféns. E nesse aspecto, “iHostage” funciona. A edição evita dispersões narrativas, mantendo um ritmo constante, com cortes precisos que alternam entre os reféns, o sequestrador e as forças policiais.
O elenco liderado por Admir Šehović e Soufiane Moussouli cumpre bem sua função. Šehović, no papel de Ilian, constrói um protagonista passivo que ganha camadas à medida que a situação se desenrola. Moussouli, como o sequestrador, entrega uma performance controlada, embora limitada pelo roteiro. Há um esforço visível para humanizar o criminoso, mas suas motivações são vagamente expostas em monólogos genéricos sobre manipulação do governo e desesperança social. Essa ausência de densidade impede que o filme avance para além do entretenimento tenso e evita qualquer comentário político mais incisivo.
A narrativa promete múltiplas perspectivas, mas se restringe essencialmente a duas: a do refém protagonista e a da equipe policial. A suposta multiplicidade de vozes nunca se materializa de fato. As demais vítimas são personagens funcionais, relegadas ao papel de massa dramática, utilizadas apenas para sustentar a tensão do esconderijo e ocasionalmente reforçar a gravidade da situação. Isso empobrece a complexidade que o enredo poderia atingir ao abordar o impacto psicológico do sequestro em diferentes perfis.
Por outro lado, o filme acerta em manter uma cadência sólida e um visual que evita excessos. A trilha sonora é pontual, funcionando mais como reforço atmosférico do que como elemento narrativo. As operações policiais são retratadas com uma abordagem quase didática, exibindo tecnologias de monitoramento e táticas de aproximação que favorecem uma leitura racional da ação, ainda que jamais alcancem a frieza calculada de obras mais sofisticadas do gênero.
“iHostage” está mais próximo do formato de filme-evento do que de uma obra cinematográfica com ambições de aprofundamento temático. Sua estrutura linear e seu desfecho previsível o aproximam de produções feitas sob medida para o streaming, com apelo imediato e digestão rápida. Embora inspirado em um acontecimento real que contém camadas complexas de debate (envolvendo segurança pública, desigualdade e trauma) o filme opta por um tratamento estéril, seguro e sem riscos criativos.
“iHostage” entrega o que promete: um thriller enxuto, bem ritmado e tecnicamente correto. Mas também evidencia os limites do modelo narrativo que adota, preferindo a superfície ao mergulho, a eficiência ao incômodo e a tensão administrada ao desconforto real. É um retrato pálido de um acontecimento que, na vida real, teve desdobramentos muito mais densos do que a tela ousa mostrar.
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