Em “Inexplicável”, Fabrício Bittar adapta o livro “O Menino que Queria Jogar Futebol: Uma História de Fé e Superação” para narrar a jornada do jovem Gabriel Varandas (Miguel Venerabile), um talento mirim do futsal paraibano que, após conquistar um título importante, enfrenta uma doença grave e chega a ser declarado morto. Sua recuperação inexplicável desafia a lógica médica e impulsiona a trama em torno da fé e da redenção. O filme e um dos destaques do catalogo do Prime Video.
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O problema central do filme reside em sua abordagem. “Inexplicável” tem todos os elementos para ser um drama envolvente sobre a luta de uma família e da equipe médica pela vida de uma criança, mas opta por um viés proselitista. A história deixa de ser um relato humano para se tornar um discurso fechado, projetado especificamente para um nicho neocristão. Com isso, o roteiro se rende a clichês previsíveis, sem margem para ambiguidades ou aprofundamento dramático.
Outro aspecto que enfraquece a obra é a forma como a doença é instrumentalizada. Histórias em que o sofrimento infantil serve apenas como um gatilho emocional para a conversão de adultos são um recurso narrativo desgastado. Ao reduzir o drama médico a um pretexto para uma mensagem de fé, o filme perde a oportunidade de explorar as complexidades de sua própria história.
A construção cinematográfica também apresenta falhas. A montagem é irregular, com uma fluidez comprometida por transições bruscas, e a trilha sonora excessiva tenta ditar a emoção do público a todo momento, tornando-se um elemento intrusivo. A atuação do jovem Miguel Venerabile é um dos poucos pontos que se destacam positivamente, especialmente pelo trabalho corporal e pela naturalidade com que encarna Gabriel.
Visualmente, “Inexplicável” opta por uma estética que ignora sua própria identidade brasileira. A cidade onde a história se passa é desprovida de características reconhecíveis, e a trilha sonora majoritariamente internacional reforça uma tentativa de distanciamento do cinema nacional. Esse esforço para criar um produto genérico e “internacionalizável” resulta em um filme sem personalidade.
O cinema tem um vasto terreno para explorar a relação entre arte e espiritualidade de forma rica e instigante. No entanto, “Inexplicável” limita-se a um discurso fechado, que menospreza a inteligência emocional do público e falha em construir um drama genuinamente envolvente. O que poderia ser um filme sobre fé se torna, no fim, apenas um produto de pregação.
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