Clint Eastwood, em sua obra final como diretor, entrega em “Jurado Nº 2” um thriller jurídico que é mais do que um simples drama de tribunal. O filme funciona como uma poderosa reflexão moral sobre culpa, responsabilidade e o sistema judiciário. Eastwood, aos 94 anos, revisita uma de suas maiores obsessões: o que significa ser uma boa pessoa diante de erros irreparáveis.
O filme se destacou na shortlist divulgada pelo Oscar e também apareceu em previsões de renomadas publicações, como a Variety. Além disso, segue em campanha para a premiação marcada para março de 2025.
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O longa acompanha Justin Kemp, vivido por Nicholas Hoult, um homem comum com dificuldades financeiras que se vê convocado como jurado em um caso de homicídio. A reviravolta? Justin sabe que o acusado é inocente, pois o verdadeiro culpado é ele mesmo. Essa premissa subverte as convenções do gênero, onde geralmente o suspense gira em torno de desvendar a verdade. Aqui, o dilema ético do protagonista é o coração pulsante da narrativa.
Eastwood constrói um filme austero, sem firulas, mas com uma precisão cirúrgica. A narrativa resgata o rigor de clássicos como “12 Homens e uma Sentença” e “Anatomia de um Assassinato”, ao mesmo tempo em que explora a vulnerabilidade humana em situações extremas. Hoult entrega uma performance contida e angustiada, carregando o peso de um homem que, ao tentar proteger sua família, questiona o próprio caráter.
O crime cometido por Justin não foi intencional, mas a sombra de seu histórico de infrações torna o peso de suas ações ainda mais insuportável. O roteiro de Jonathan Abrams é inteligente ao não demonizar o protagonista, mas também não aliviá-lo da culpa. Justin é simultaneamente vítima e vilão de sua própria história, e isso torna o espectador cúmplice de seu dilema moral.
O filme coloca questões desconfortáveis: até que ponto um erro deve ser punido? O sistema judiciário, frequentemente rígido e injusto, merece ser seguido à risca? Justin enfrenta uma escolha impossível, sacrificar um homem aparentemente reformado para proteger sua família ou arriscar sua própria liberdade por um senso abstrato de justiça.
Visualmente, “Jurado Nº 2” é característico da direção de Eastwood: fotografia sóbria, planos econômicos e um foco absoluto na narrativa. A trilha sonora discreta reforça a tensão, permitindo que as performances e os diálogos carreguem o drama. Hoult, em um papel central complexo, se destaca ao lado de um elenco que inclui Toni Collette e outros nomes experientes.
O que torna “Jurado Nº 2” uma obra memorável é sua recusa em oferecer uma conclusão linear. A moralidade de Justin permanece ambígua, e a pergunta que o filme nos faz “O que você faria em seu lugar?” reflete muito depois dos créditos finais. Eastwood encerra sua carreira não com um espetáculo, mas com uma provocação, reafirmando sua maestria em transformar o ordinário em algo extraordinário.
Clint Eastwood nunca foi um cineasta de concessões, e “Jurado Nº 2” é a prova final disso. É um filme que desafia o espectador a confrontar seus próprios valores, oferecendo uma despedida digna de um dos maiores nomes da história do cinema.
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