Lady Gaga nunca conta a mesma história duas vezes. Mesmo quando revisita temas recorrentes, ela os ressignifica, recontextualiza e entrega algo que, ao mesmo tempo em que parece familiar, é inteiramente novo. “Mayhem” não escapa dessa lógica. O que poderia ser apenas mais um capítulo em sua discografia se transforma em um manifesto artístico que rejeita convenções e desafia a previsibilidade da indústria pop.
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Desenvolvido entre 2022 e 2024, “Mayhem” surge de um processo criativo que reflete uma desconstrução calculada. Gravado no icônico estúdio Shangri-La, de Rick Rubin, em Malibu, o disco nasceu de um desejo de ruptura, uma tentativa deliberada de reconfigurar sua identidade artística. Gaga descreveu o projeto como uma celebração de seu “amor pela música, reunindo uma grande variedade de gêneros, estilos e sonhos diferentes”, mas isso é apenas a superfície. Na prática, “Mayhem” não busca explorar diferentes vertentes musicais ele as dilacera e reconstrói, resultando em uma obra que equilibra brutalidade e lirismo, caos e estrutura, acessibilidade e experimentalismo.
A produção ficou a cargo de um time coeso, mas surpreendente: Andrew Watt, Cirkut e Gesaffelstein foram os principais colaboradores, e a influência de cada um deles pode ser sentida em diferentes momentos. Enquanto Watt injeta uma energia crua e pulsante, Cirkut traz uma sofisticação eletrônica detalhada, e Gesaffelstein adiciona camadas de distorção e sombras, consolidando a estética sombria e intensa do álbum.
Os primeiros sinais desse universo começaram a surgir em 16 de agosto de 2024, quando “Die with a Smile”, um dueto com Bruno Mars, chegou ao público. A princípio, a faixa parecia um single avulso, mas depois foi anunciada como parte do álbum, uma decisão curiosa, já que a música destoa do restante do projeto. O primeiro single oficial, “Disease”, veio em 25 de outubro de 2024, carregando um peso eletrônico e sombrio que antecipava a essência de “Mayhem”. Em 3 de fevereiro de 2025, “Abracadabra” reforçou essa atmosfera com um tom mais experimental, consolidando a ideia de que este não seria um álbum convencional.
A comparação com “The Fame” ou “The Fame Monster” é inevitável, mas superficial. A energia crua do início da carreira de Gaga está presente, mas “Mayhem” se posiciona em outro território. O álbum não se propõe a celebrar a cultura pop como um espetáculo de excessos, nem a comentar suas contradições. Ele parte de um lugar mais sombrio, onde a pista de dança se torna um campo de batalha emocional. Há uma agressividade subjacente nas batidas, uma urgência que parece dizer que a música pop precisa de um novo fôlego — e Gaga está disposta a liderar essa transformação.
E então vem a grande questão: “Die with a Smile” pertence a esse universo? O dueto com Bruno Mars, por mais bem executado que seja, carrega uma estética que parece deslocada do conceito geral do álbum. É uma bela canção, mas poderia muito bem ter sido um resquício da era “Joanne”, ou mesmo um single de Mars. Sua presença aqui sugere que, apesar do controle absoluto de Gaga sobre sua arte, ainda existem concessões a serem feitas seja para agradar a gravadora, seja para manter um certo apelo comercial.
Mas esse deslize não compromete o que “Mayhem” representa. A brutalidade sonora do álbum não é um acidente é uma escolha. Gaga compreende que a reinvenção não é um luxo, mas uma necessidade. A previsibilidade tem sido o maior inimigo do pop nos últimos anos, com artistas reproduzindo fórmulas desgastadas na tentativa de viralizar. “Mayhem” rejeita essa lógica. Não há concessões ao TikTok, nem tentativas de replicar sucessos passados. Há, sim, uma convicção de que a música pode desafiar seu público.
Não há resquícios da música pop atual nem respiros nostálgicos dos anos 80. O que temos aqui é um projeto que reflete com primor o que será o futuro da música. “Mayhem” pode se tornar um divisor de águas na carreira de Gaga, seguindo a tradição pop de Madonna ao se reinventar e criar algo do zero. O disco propõe um reinício, similar ao impacto provocado por “The Fame Monster”.
Com um pop menos óbvio e uma atmosfera sombria que flerta com o gótico, “Mayhem” se destaca como um encontro reflexivo de todas as vezes que Gaga saiu de sua zona de conforto e tomou as rédeas para mostrar algo novo à indústria.
A questão que fica é: o público está pronto para isso? Apesar do potencial viral de algumas faixas, este não é um álbum pensado para os algoritmos. É um expurgo final, uma maneira de Gaga testar se seu público amadureceu junto com ela. Complexo, experimental e, acima de tudo, uma sinfonia que projeta o futuro do pop.
O pop sempre nasceu do alternativo, e Gaga mais uma vez transporta o underground para o mainstream, com uma visão clara e uma sonoridade poderosa. Não apenas redefine seu próprio caminho, mas influencia o da música.
Lady Gaga é o futuro. “Mayhem” é o primeiro passo.
Nota final: 95/100
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