Lana Del Rey encontrou em “Honeymoon” não um recomeço, mas uma reconfiguração profunda de linguagem, estética e intenção. A quarta entrada em sua discografia abandona os jogos de acessibilidade e decide mergulhar com rigor em um território denso, hipnótico e cada vez mais autoconsciente. É o álbum onde o personagem se consolida e a persona se dissolve.
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Lançado no auge da popularidade, mas com escolha deliberada por uma divulgação mínima, o disco escapa da indústria e se aproxima do cinema de autor. Existe um tratamento de som que recusa soluções fáceis: o barroco pop é reconstruído em andamento lento, com estruturas que orbitam mais o clima do que a lógica narrativa tradicional. Em vez de refrãos repetitivos, há insistência atmosférica. Em vez de fórmulas, composições que se comportam como câmeras longas, flanando por paisagens emocionais fragmentadas.
O trabalho de produção é meticuloso, mas sem esterilidade. Tudo soa pesado, carregado de intenção, como se cada elemento tivesse sido escolhido para sugerir mais do que dizer. A reverberação não é recurso estético, é parte do significado. O silêncio entre os versos também comunica. A paleta de arranjos privilegia texturas lânguidas, com elementos do jazz, do trip-hop e da música de câmara. O pop cede lugar a um tipo de narrativa mais opaca, quase litúrgica, mas paradoxalmente envolvente.
A voz de Del Rey assume aqui sua forma definitiva: um instrumento narrativo a serviço da atmosfera, menos preocupada em mostrar potência vocal e mais interessada em acentuar a densidade das entrelinhas. Há algo de ritualístico em sua entrega, como se cada faixa fosse parte de um culto ao desencanto. A América que ela canta é simbólica, mítica, colapsada entre o glamour e a ruína.
“Honeymoon” é, portanto, o ápice do controle estético de Lana Del Rey até então. Nada nele tenta agradar de imediato. Tudo nele exige permanência. Sua lentidão não é falha de ritmo, mas postura política diante de um mercado que acelera tudo para reduzir o impacto. É o disco que escolhe permanecer quando todos correm para o próximo lançamento. É onde ela para de contar histórias e começa a criar espaço. E nesse espaço, constrói o álbum mais coeso, maduro e deliberado de sua primeira fase.
Mais do que um registro musical, “Honeymoon” é uma proposta de linguagem. Um manifesto contra o consumo apressado da arte. Um disco que não pede atenção. Exige.
Nota: 95/100
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