Existe algo poderoso em assistir uma artista entender seu próprio eixo criativo e transformar essa convicção em obra. “Fenomenal” representa exatamente esse ponto de virada na trajetória de Lia Clark, um álbum que não se limita a reafirmar o que ela já domina, mas aprofunda sua assinatura estética com maturidade e estratégia.

A sensação é de que Lia finalmente organiza todas as forças que sempre orbitam sua carreira e coloca cada uma delas para trabalhar em conjunto: a sensualidade que sempre foi parte do seu imaginário, o humor ácido que estrutura sua persona, a consciência pop de quem entende mercado e a coragem artística de quem se permite tensionar limites. O resultado é um álbum que respira identidade, risco calculado e clareza conceitual.
A produção do disco abraça uma estética que pulsa entre o funk, o pop eletrônico e a dance music com personalidade própria, sem tentar esconder suas raízes periféricas e sem suavizar seus excessos para agradar algoritmos. “Fenomenal” vive do encontro entre batidas que estimulam o corpo e camadas vocais que capturam o espírito provocador da artista, condensando um universo onde erotismo, ironia e festa se tornam ferramentas narrativas. A sonoridade se estrutura como manifesto: Lia entende que o que ela faz funciona porque não se esconde, porque assume sua linguagem como potência.
O álbum opera em diálogo direto com o momento atual da cultura pop brasileira, sobretudo quando pensamos no espaço que artistas queer conquistam dentro do mainstream. Enquanto muitos projetos recentes caminham em direção a uma estética mais polida, Lia escolhe o caminho oposto e entrega um trabalho assumidamente explícito, nichado, corporal e consciente do seu público. Esse movimento, que poderia ser visto como arriscado, se transforma num gesto de coerência artística. É justamente aí que mora a força do disco.
“Fenomenal” também sintetiza uma evolução visual que acompanha a artista há anos. O álbum se conecta com o imaginário estético que Lia vem consolidando, com elementos sensuais, clubbers, vibrantes e debochados. Existe uma unidade entre música, imagem e discurso, algo que nem sempre aparece em projetos pop nacionais e que aqui surge como estrutura sólida, pensada e executada com precisão.
A narrativa que atravessa o disco trabalha com desejo, poder, prazer e autonomia. Lia não se afasta de temas explícitos; ao contrário, ela transforma esse campo em alegoria, comentário cultural e provocação. O erotismo deixa de ser mero impacto e se torna linguagem. Não há concessões, e isso torna o álbum especialmente marcante dentro da sua discografia.
“Fenomenal” consolida Lia Clark como uma artista que domina o próprio território e sabe exatamente como manejá-lo. É uma obra que celebra o corpo, a liberdade e a irreverência, sem perder finesse técnica ou direção estética. Um álbum que evidencia coragem num mercado que raramente recompensa quem se arrisca e que, ao mesmo tempo, se coloca como capítulo indispensável na história que a artista vem construindo.
No fim, “Fenomenal” funciona como afirmação: Lia Clark entendeu o que quer comunicar, entendeu como quer ser vista e entendeu o lugar que ocupa. O álbum existe como força, como identidade e como posicionamento. Ele não pede espaço. Ele se instala.
Nota final: 70/100
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