“Love, Death & Robots” sempre foi sobre risco. E risco, aqui, não é recurso narrativo: é método. Desde a primeira temporada, a série da Netflix tem funcionado como laboratório para diretores, animadores e roteiristas testarem os limites do formato curto de ficção especulativa. É antologia com fúria estética, construída para provocar, incomodar, fascinar mesmo quando falha.
Na quarta temporada, esse espírito segue vivo, mas com oscilações mais visíveis. O volume apresenta ideias interessantes e alguns experimentos bem executados, mas a curadoria perde força ao alternar capítulos memoráveis com episódios estéreis, em que estilo tenta compensar a ausência de conteúdo. O projeto ainda aposta na variedade de tons e técnicas, o que o mantém visualmente instigante, mas o impacto narrativo, que antes era consistente, agora parece ocasional.
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Episódio 1: Can’t Stop
A estreia erra no compasso. Visualmente ousado, até flerta com a provocação estética, mas confunde delírio com direção. A montagem se perde em imagens soltas, embaladas por um ritmo que tenta compensar a falta de propósito com excesso de energia. A autoria é diluída. A assinatura que deveria causar impacto se dissolve na tentativa de parecer descolada. A série abre a temporada com um episódio que exibe músculo visual mas entrega pouco nervo dramático.
Episódio 2: Close Encounters of the Mini Kind
Aqui, o pulso volta a bater. O episódio entende o papel do absurdo como condutor narrativo e aposta numa animação que respeita o detalhe, a escala e a ideia. Há domínio técnico, sim, mas é a condução da ironia que faz esse episódio funcionar. A textura da imagem amplifica o nonsense com controle absoluto do ritmo, mantendo o olhar do espectador preso até o fim.
Episódio 3: Spider Rose
O episódio mais emocionalmente maduro da temporada até aqui. A direção encontra no CGI um aliado sensível para construir tensões internas. A força está na contenção. Nada aqui é excessivo. O gesto mais sutil tem mais peso que qualquer cena grandiosa. A narrativa ressoa por sua coragem de tratar transformação e sacrifício com humanidade, mesmo em meio ao digital.
Episódio 4: 400 Boys
Visualmente eficiente, narrativamente repetitivo. A ideia da união contra a ameaça maior já foi visitada na antologia, e aqui a execução se apoia demais em um estilo que disfarça a falta de novidade. O episódio é competente, mas não desestabiliza, não arrisca. Funciona mais como eco do que como grito.
Episódio 5: The Other Large Thing
Bons episódios se resolvem sem alarde. Este é um deles. A crítica social é embutida com leveza, sem subestimar o público. Há uma fluidez rara entre forma e conteúdo, e mesmo nos momentos de humor, o episódio sustenta coerência estética. O trabalho de textura nos elementos orgânicos impressiona, sem roubar atenção da mensagem.
Episódio 6: Golgotha
Aqui, o episódio aposta no conceito, mas tropeça na forma. O universo proposto é promissor, mas a execução se perde entre metáfora e literalidade, ficando no meio do caminho. Há uma tentativa de crítica, mas tudo soa subdesenvolvido. A estética tenta compensar o vazio dramático, mas a força visual colide com a falta de densidade narrativa.
Episódio 7: The Screaming of the Tyrannosaur
Este capítulo é puro espetáculo. Funciona porque entende o exagero como ferramenta dramática, e não como fim estético. A ambientação é coesa, a ação bem coreografada, e o ritmo conduz o episódio com fôlego. Nada aqui é inédito, mas tudo é entregue com precisão. O resultado é um episódio que respeita o impacto.
Episódio 8: How Zeke Got Religion
Um dos raros momentos da temporada em que a alegoria é usada com inteligência real. A construção dramática parte da ironia e culmina no desconforto. O episódio faz o que poucos fazem: trata fé e medo como forças dramáticas interdependentes, sem cair na caricatura. Há maturidade no subtexto e no desfecho.
Episódio 9: Smart Appliances, Stupid Owners
Descompassado. A série, que já entregou episódios geniais com base em humor ácido e crítica social, escorrega aqui numa tentativa de paródia que parece saída de um piloto descartado. A execução é genérica, o timing é errático, e a proposta soa preguiçosa. Um ponto fraco evidente num conjunto até então coeso.
Episódio 10: For He Can Creep
A série encerra a temporada com dignidade. Estilo e forma dialogam com fluidez, entregando um episódio que, mesmo baseado em uma proposta absurda, sustenta sua lógica interna com autoridade. O ritmo é bem medido, o visual sustenta o tom cômico, e o episódio oferece um encerramento que respeita a inteligência do espectador.
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