“Má Influência”, adaptação cinematográfica de uma fanfic de origem não especificada, tenta ocupar um espaço já saturado no mercado de dramas românticos adolescentes com tintas eróticas e estética minimalista, sem, contudo, demonstrar domínio sobre os elementos fundamentais do gênero que pretende explorar. A diretora e roteirista Chloé Wallace estrutura seu filme em torno da relação entre Eros, ex-detento em busca de reabilitação social, e Reese, herdeira protegida por uma fortuna e por um muro de privilégios.
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O desenvolvimento da trama é ancorado em arquétipos excessivamente cristalizados: o bad boy de passado sombrio e a garota frágil sob ameaça externa. A construção dos personagens se limita à função que exercem na estrutura, sem qualquer aprofundamento psicológico ou mesmo nuances dramáticas mínimas. A tentativa de forjar uma tensão romântica entre os protagonistas esbarra na ausência de verossimilhança relacional e na pobreza dos diálogos. A suposta química entre Alberto Olmo e Eléa Rochera, embora visivelmente coreografada em termos de mise-en-scène, não se traduz em conexão dramática ou densidade emocional. As interações se mantêm artificiais e condicionadas por um roteiro que parece mais preocupado em sustentar um imaginário visual idealizado do que em promover desenvolvimento orgânico entre seus personagens.
Narrativamente, o filme sofre com desequilíbrio estrutural. O primeiro ato é ocupado por uma exposição genérica, com ênfase na estética de comercial de perfume paisagens costeiras, paletas saturadas, trilha contemplativa e nenhum impulso dramático real. O segundo ato tenta estabelecer conflitos internos e externos, mas tropeça na introdução de múltiplos temas mal articulados: traumas familiares, histórico de violência, assédio, redenção e lealdade. Nenhum desses tópicos, no entanto, é explorado com profundidade ou rigor dramático. O terceiro ato, por sua vez, implode a narrativa com uma sucessão de resoluções abruptas e mal justificadas, culminando em um desfecho que compromete qualquer investimento emocional que o espectador pudesse ter desenvolvido.
Do ponto de vista formal, há ao menos consistência visual. A fotografia, ainda que refém de uma estética derivativa, mantém unidade estilística e oferece composições competentes. Contudo, mesmo nesses momentos de maior apuro estético, percebe-se a superficialidade da encenação. Sequências como a da chuva, em que o enquadramento revela a seca artificial de uma calçada supostamente molhada, expõem a negligência com detalhes que, em filmes dependentes da imersão sensorial, comprometem a suspensão de descrença.
A natureza da obra enquanto adaptação de uma fanfic impõe desafios próprios. O gênero, historicamente marcado por linguagem afetiva exagerada, estruturas narrativas pouco calibradas e fantasias relacionais idealizadas, exige do adaptador um trabalho crítico que o filme abdica de realizar. A transposição direta da lógica da fanfic para o cinema, sem filtragem ou reconfiguração dramatúrgica, resulta em um produto que repete os vícios da origem textual, mas sem o benefício da cumplicidade que leitores fiéis do universo fanfictional normalmente oferecem.
“Má Influência” não é apenas um filme que falha em sua execução. É um filme que revela a fragilidade de um mercado que, ao apostar em obras com base meramente algorítmica rostos bonitos, estética suave, envolvimento romântico interditado, subestima a inteligência narrativa do público-alvo. Ainda que haja audiência fiel para esse tipo de conteúdo, a ausência de complexidade emocional, coerência estrutural e ambição estética transforma o filme em mais um produto de consumo rápido e esquecível. Seu final, exemplar nesse sentido, não apenas desconstrói retroativamente qualquer aspecto que funcionava, mas também reitera que, sem domínio técnico e dramatúrgico, nenhuma fórmula pré-fabricada é capaz de produzir algo que transcenda a mediocridade industrial.
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