Há algo curioso em “Manutenção Necessária”. Por trás da aparência leve de uma comédia romântica, o filme dirigido por Lacey Uhlemeyer tenta equilibrar o humor, o romance e uma discreta crítica às dinâmicas de gênero no ambiente de trabalho. O que começa como uma história sobre rivalidade profissional se transforma em uma reflexão sobre confiança, vulnerabilidade e as armadilhas da comunicação digital.

A trama acompanha Charlie, interpretada por Madelaine Petsch, uma mecânica talentosa que comanda uma oficina formada exclusivamente por mulheres. Em um setor tradicionalmente dominado por homens, sua oficina é símbolo de resistência e autonomia. O problema surge quando um novo concorrente se instala bem em frente ao seu negócio, ameaçando não apenas sua clientela, mas também a convicção de que é possível prosperar sem concessões.
Em meio ao caos, Charlie encontra refúgio em seu confidente virtual, Beau. Sem saber, esse amigo online é justamente o dono da oficina rival, vivido por Jacob Scipio. O roteiro brinca com o conceito de “você tem e-mail” com graxa e motores, trocando os computadores e livrarias pelo barulho de ferramentas e cheiros de óleo. A reviravolta é previsível, mas o filme sobrevive graças à química intensa entre os protagonistas e à energia espontânea que eles imprimem em cena.
Uhlemeyer constrói o romance com uma estrutura clássica, mas o faz com uma honestidade cativante. A direção confia na leveza dos diálogos, na trilha sonora vibrante e no carisma de Petsch, que domina a tela com naturalidade. Scipio, por sua vez, equilibra o charme e a culpa de seu personagem, transformando Beau em alguém que o público quer odiar e perdoar ao mesmo tempo.
“Manutenção Necessária” não tenta reinventar a comédia romântica, mas celebra seus clichês com consciência e bom humor. A previsibilidade é parte do jogo, e o filme parece saber disso. Há algo reconfortante em acompanhar uma narrativa que abraça o romantismo em tempos de ironia. Mesmo quando o roteiro flerta com o absurdo especialmente ao justificar a mentira central que move a trama, o resultado mantém o frescor de uma produção despretensiosa que conhece seu público.
O filme também encontra espaço para discutir a representatividade feminina de maneira sutil. A oficina de Charlie não é retratada como um manifesto, mas como um espaço natural de competência e solidariedade. É um lembrete de que independência feminina e romantismo não precisam ser forças opostas. A narrativa propõe que o amor pode coexistir com ambição e orgulho, desde que o respeito seja parte da equação.
Visualmente, “Manutenção Necessária” é ensolarado, vibrante e coerente com sua proposta leve. Os planos são simples, mas eficientes, e a fotografia ressalta o contraste entre o metal frio das oficinas e o calor emocional dos personagens. A trilha sonora reforça essa energia positiva, costurando a história com faixas que ecoam o espírito das comédias românticas dos anos 2000, mas com ritmo vintage.
No fim das contas, “Manutenção Necessária” funciona porque não tenta ser maior do que é. Aceita sua simplicidade e a transforma em charme. Pode não se tornar um clássico do gênero, mas entrega o que promete: um romance cheio de carisma, boas atuações e uma leve sensação de conforto, como um reencontro com um tipo de cinema que o público ainda sente falta.
“Manutenção Necessária”
Direção: Lacey Uhlemeyer
Elenco: Madelaine Petsch, Jacob Scipio, Carrie Dimaculangan, Inanna Sarkis, Judi Beecher, Julee Cerda, Katy O’Brian
Disponível em: Prime Video
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