Há algo fascinante em filmes que tentam unir fé e entretenimento como se fossem um só pacote de presente. E “Match Divino” é o equivalente a embrulhar um crucifixo com papel de rom-com de livraria de aeroporto. O resultado? Um híbrido estranho, cheio de boas intenções, mas que tropeça em cada passo da sua própria moral e nas escolhas estéticas que parecem feitas por um algoritmo evangélico de 2007.
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O filme acredita que está sendo esperto, moderno e até carismático, mas o que entrega é uma sequência de clichês mal costurados com tintas religiosas. A protagonista, interpretada por Lacey Chabert, está sempre entre dois mundos: o da executiva urbana cheia de metas e o da cristã em construção. Só que o conflito dela não convence. Nada nela parece crível, nem mesmo quando se esforça para parecer uma alma perdida em busca de iluminação espiritual.
Existe um subtexto perigoso de conversão por conveniência, com a fé servindo mais como ferramenta romântica do que como transformação autêntica. É como se a salvação viesse num cupom promocional ao lado do crush ideal. E quando o filme tenta se levar a sério, acaba se tornando ainda mais absurdo. Tem piada que passa batida, tem personagem que surge como se tivesse saído de um episódio esquecido de “Seinfeld”, e tem até uma amiga negra que aparece só pra cumprir a função de “apoiadora da jornada de fé branca”.
Tudo é tão superficial que a espiritualidade parece produto de e-commerce cristão. Os diálogos são didáticos, as situações forçadas e o final, claro, fecha o ciclo com uma volta segura ao conforto romântico, como se tudo fosse apenas um desvio no caminho até o altar. A protagonista não descobre Deus. Ela descobre um rapaz que serve como selo de aprovação para um estilo de vida pasteurizado.
O que surpreende é o elenco. Tem gente boa ali, presa num roteiro que mais parece esboço de aplicativo devocional. E por mais que Lacey Chabert se esforce, ela transmite uma energia meio possessiva, meio vilã de filme cristão alternativo, como se estivesse a um tropeço de declarar guerra espiritual contra o próprio figurino. Aliás, o figurino merece menção: ela entra de capacete no escritório e coloca um chapéu em seguida. E passa o dia com ele. Dentro do escritório.
Nada faz muito sentido, e é justamente isso que torna o filme involuntariamente fascinante. Ele tenta evangelizar sem parecer chato, tenta ser engraçado sem timing, tenta ser profundo mas só arranha a superfície. E no fim das contas, o que sobra é uma comédia romântica de conversão onde o verdadeiro milagre seria convencer alguém de que vale a pena repetir a experiência.
“Match Divino” parece feito por alguém que acredita que cristianismo é um clube exclusivo com dress code, onde entrar de jeans rasgado pode ser um pecado mortal. O filme é inofensivo até o ponto em que escorrega na própria visão de mundo. E quando isso acontece, ele revela exatamente o que é: uma propaganda de fé genérica disfarçada de amor moderno.
Se esse é o plano divino do streaming, alguém lá em cima precisa rever as metas trimestrais.
“Match Divino“
Direção: Corbin Bernsen
Elenco: Lacey Chabert, Jonathan Patrick Moore, Saidah Arrika Ekulona
Disponível em: Netflix
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