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Crítica: Matuê, “Xtranho”

Texto: Ygor Monroe
11 de dezembro de 2025
em Música, Resenhas/Críticas

Há um impulso criativo que tenta arrastar o trap brasileiro para uma nova zona de desconforto estético, revelando um artista disposto a transformar inquietude em método. “Xtranho” amplia essa intenção ao operar dentro de um laboratório visual e sonoro que reorganiza o imaginário ao redor de Matuê, articulando música, imagem e uma performance que funciona como declaração de intenções. O conjunto se apresenta como uma espécie de manifesto, guiado pela ideia de que ainda existe espaço para risco em um cenário acostumado à repetição e às fórmulas previsíveis.

Crítica: Matuê, "Xtranho"
Crítica: Matuê, “Xtranho”

A construção estética de “Xtranho” resulta de um processo criativo guiado por impulsos intuitivos. O disco nasce de quatro meses de experimentação que exploram o incômodo como linguagem. A sonoridade abraça texturas ásperas, timbres distorcidos, atmosferas quase cinematográficas e um tipo de teatralidade que tenta romper com o ciclo de hits fáceis. A busca por uma nova moldura visual e simbólica é evidente, e o álbum funciona melhor quando assume que seu impacto depende da soma entre música, imagem, moda e comportamento.

O discurso principal está ancorado na ideia de estranheza como ferramenta. Matuê dirige a lente para a própria persona e a utiliza como objeto crítico. A estética do trap, inflada pela glamourização de narrativas e pela construção de ídolos de superfície, vira alvo e instrumento ao mesmo tempo. A obra afirma que o artista entende o jogo, mas prefere tensioná-lo em vez de servir obedientemente ao mercado. E nesse ponto, o projeto encontra sua força mais sólida.

A presença de produtores, compositores e designers de cena amplia o léxico do álbum. A equipe reúne nomes ligados à vanguarda do trap e cria ambientes sonoros que, mesmo sem atingir a radicalidade prometida, sugerem caminhos possíveis. Há respiros experimentais aqui e ali, lampejos de ideias que reorganizam a percepção do ouvinte, ainda que nem sempre avancem até o limite esperado. O resultado deixa claro que “Xtranho” foi pensado como um ecossistema e não como uma simples coleção de músicas.

Os visuais, o figurino e o website interativo consolidam essa proposta multidisciplinar. Há um interesse real em criar um universo próprio que extrapola o streaming. A estreia no Vale do Anhangabaú reforça ainda mais essa construção. Matuê transforma o espaço público em palco de uma imersão coletiva, alinhando estética underground, espetáculo e presença de público. A apresentação das treze faixas ali produz uma sensação de rito, e o disco cresce quando é vivido como experiência, já que seu conceito depende da fricção entre obra e plateia.

Em termos de produção, o álbum se sustenta melhor do que em seus trabalhos anteriores. A mixagem está mais precisa, as texturas são mais ousadas e existe uma ambição mais nítida em desenhar atmosferas. O problema aparece quando a densidade instrumental contrasta com letras que passam longe da mesma complexidade. Há uma promessa de profundidade que não se cumpre por inteiro. O ponto de inflexão acontece quando o disco decide abraçar um tom mais frenético, especialmente próximo da energia de “Facas e Machados”, momento em que a estética do projeto perde coesão e se afasta do eixo conceitual inicial.

Ainda assim, o álbum opera dentro de um equilíbrio curioso. Ele entrega experimentação suficiente para se destacar, embora sem atingir a reinvenção que anuncia. E talvez essa seja a contradição mais evidente de “Xtranho”. A obra parece querer encarnar o extremo, mas o extremo nunca chega por completo. Há intenção, há estética, há textura, mas falta uma radicalidade que transforme o desconforto em ruptura verdadeira.

Boa parte do debate em torno do disco surge justamente dessa expectativa. O público que tenta encaixar “Xtranho” dentro da nostalgia por “333” esquece que artistas evoluem, mudam de linguagem, alteram prioridades. O trabalho atual não tenta revisitar o passado, mas construir uma outra superfície. Isso por si só revela maturidade e recusa de estagnação. O álbum está longe de ser revolucionário, e não demonstra que pretende inventar um gênero novo. Ele aposta em empurrar fronteiras já existentes, reorganizando referências para propor uma leitura mais áspera do trap contemporâneo.

O grande dilema é que a obra promete estranhamento absoluto, mas entrega um estranhamento controlado. Por trás da estética mais sombria, existe uma estrutura confortável, quase previsível, que impede “Xtranho” de atingir o patamar que ele mesmo reivindica. Ao mesmo tempo, essa contradição não elimina seus méritos. O disco é sólido, coerente e consciente de sua função de tensionar a lógica do mainstream. Falta transgressão real, mas há consistência na ambição.

No fim, “Xtranho” funciona como um espelho ampliado do próprio Matuê. Um artista que domina sua imagem, entende sua força cultural e decide rearranjar códigos sem abandonar o terreno que o consagrou. Estranho ele busca ser. Inovador ele tenta ser. E, mesmo quando os resultados variam, existe uma convicção criativa que sustenta todo o projeto. O álbum vive na fronteira entre conceito e performance, entre atitude e estética, entre promessa e execução.

E é exatamente nessa fronteira que ele encontra a própria identidade.

Nota final: 79/100

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