Francis Ford Coppola, o nome por trás de algumas das maiores obras do cinema, retorna em “Megalópolis” com uma ambição monumental: recriar uma cidade e, talvez, o próprio cinema. A trama, centrada no arquiteto Cesar Catilina (Adam Driver), explora a tentativa de reconstruir Nova York como uma utopia sustentável, um conceito grandioso que, no papel, promete ser revolucionário. Porém, o que se desenrola na tela é uma jornada que mistura o sublime com o caótico, os sonhos com os delírios.
O filme se destacou na shortlist divulgada pelo Oscar e também apareceu em previsões de renomadas publicações, como a Variety. Além disso, segue em campanha para a premiação marcada para março de 2025.
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O grande mérito de “Megalópolis” está na forma como Coppola mergulha o espectador em uma sinfonia visual. Cada cena parece uma ode ao próprio ato de criar, uma celebração do cinema como arte total. O diretor brinca com estilos, atravessando décadas de influências. Ora flerta com o classicismo, ora abraça o experimental. É como se Coppola dissesse: “Tudo é válido aqui.” No entanto, essa mesma liberdade transforma o filme em uma experiência tão fascinante quanto exaustiva.
Há momentos de pura beleza que logo são esmagados por escolhas que beiram o grotesco. A montagem é desconcertante: transita entre cenas que sugerem profundidade emocional e outras que caem em um buraco de aleatoriedade. “Megalópolis” parece menos uma obra coesa e mais um mosaico de ideias que brigam por espaço. Essa cacofonia visual e narrativa reflete uma lente fraturada, como um caleidoscópio onde cada fragmento oferece uma visão diferente, algumas brilhantes, outras opacas.
O elenco, embora talentoso, luta para encontrar consistência. Adam Driver entrega uma performance intensa, mas o personagem parece menos um visionário e mais um avatar das obsessões de Coppola. Giancarlo Esposito como o prefeito Franklyn Cicero traz momentos de equilíbrio, mas é limitado por um roteiro que prioriza os conceitos sobre os personagens. As mulheres da trama, por sua vez, são relegadas a arquétipos frágeis e subservientes, vítimas de uma misoginia latente que permeia o filme.
Há quem defenda “Megalópolis” como uma visão única e necessária de um mestre, mas essa análise merece um olhar crítico. O filme não é único, nem singular. É, na verdade, profundamente derivado, um pastiche de referências que Coppola abraça sem muita cerimônia. Se “O Poderoso Chefão” consolidou o diretor como um dos grandes contadores de histórias do cinema, “Megalópolis” parece uma confissão de que, talvez, ele já não tenha tanto a dizer.
Ainda assim, é impossível negar a coragem de Coppola. “Megalópolis” existe em uma terra de ninguém, entre a genialidade e o fracasso absoluto. É um filme que, em suas falhas, encontra uma espécie de perfeição: não há como ser melhor e, curiosamente, não há como ser pior. Suas contradições, suas escolhas erráticas e suas obsessões tornam-no uma obra que não será esquecida tão cedo, por motivos bons e ruins.
Se Coppola queria criar algo que transcendesse seu tempo, talvez tenha falhado. Mas, na falha, há algo de glorioso. “Megalópolis” não é o futuro do cinema, mas é um lembrete do que o cinema pode ser: um território onde o risco ainda é possível e onde os sonhos (mesmo os quebrados) encontram espaço para existir.
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