“Missão: Impossível – Nação Secreta”, dirigido por Christopher McQuarrie, representa o amadurecimento estético e narrativo da franquia. Após a revitalização promovida por “Protocolo Fantasma”, este capítulo refina a proposta de um thriller de espionagem com DNA hollywoodiano, abraçando o virtuosismo técnico das sequências de ação sem abrir mão de personagens bem definidos, enredos intrincados e um ritmo que privilegia a inteligência do espectador tanto quanto sua adrenalina.
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Logo nos primeiros minutos, o filme finca sua bandeira com uma das sequências mais audaciosas do cinema de ação contemporâneo: Ethan Hunt pendurado na lateral de um avião de carga em decolagem, dispensando dublês e confirmando a filosofia física da franquia. No entanto, essa abertura não serve apenas como espetáculo isolado, mas como declaração de princípios: “Missão: Impossível” passou a ser sinônimo de cenas impossíveis filmadas da maneira mais crua e real possível.
O roteiro também assinado por McQuarrie constrói um cenário de guerra subterrânea entre o FMI e o Sindicato, uma organização secreta composta por ex-agentes de inteligência convertidos em mercenários de alta performance. A ameaça aqui é mais sutil, paranoica e sistêmica. Trata-se de um thriller de espionagem que se aproxima da tradição de John le Carré, mas com o vigor muscular de uma superprodução americana. O equilíbrio entre essas forças é o que torna “Nação Secreta” tão interessante.
A inclusão da agente britânica Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) é, talvez, o maior trunfo do filme. Sua personagem rompe com os arquétipos femininos tradicionais da franquia: é autônoma, habilidosa, emocionalmente complexa e, acima de tudo, uma igual a Ethan Hunt. Ferguson domina cada cena em que aparece, criando uma tensão não sexualizada, mas pautada na admiração mútua entre profissionais de elite. Sua performance evoca o glamour clássico das espiãs do cinema europeu, ao mesmo tempo em que entrega fisicalidade e presença dramática raras no gênero.
O filme também se beneficia de uma direção de ação elegante, clara e sofisticada. A sequência da ópera em Viena, por exemplo, é um primor de coreografia visual e sonora, onde cada corte acompanha a música de Puccini como se a cena fosse uma partitura em movimento. Da mesma forma, a perseguição de carros e motos no Marrocos — intercalada com uma tensa sequência subaquática — exemplifica o domínio técnico da equipe e o uso inteligente de montagem e som para amplificar a imersão.
Tom Cruise, como Ethan Hunt, atinge aqui um ponto alto de autoconsciência do personagem. Há uma sensação de que ele sabe que está no controle, mas também que os riscos aumentaram. Sua dinâmica com Benji (Simon Pegg) traz leveza e humanidade ao filme, enquanto a presença de Luther (Ving Rhames) reforça o senso de continuidade e fidelidade emocional que sustenta a franquia desde seu início. Jeremy Renner, ainda que com espaço reduzido, mantém a consistência como Brandt, e Alec Baldwin adiciona peso institucional ao papel do diretor da CIA.
O grande mérito de “Nação Secreta” está no modo como McQuarrie estrutura a narrativa em torno de jogos de confiança, disfarces e duplas agendas, fazendo da ação um subproduto da tensão psicológica. Não há desperdício de cenas. Cada sequência existe para reforçar a trama, aprofundar personagens ou redefinir alianças. Isso faz com que o longa seja, talvez, o mais cerebral da série até então sem que isso comprometa o espetáculo.
Com esse filme, a franquia “Missão: Impossível” deixa de ser uma antologia de missões explosivas com diretores diferentes para se transformar em uma saga com unidade, identidade e um protagonista que envelhece sem perder sua intensidade. É a consolidação de Ethan Hunt como um personagem multifacetado: invencível fisicamente, mas cada vez mais emocionalmente vulnerável.
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