“Mulheres de Azul” é uma série que funciona na contramão da própria estrutura. O projeto inteiro soa contraditório. Um thriller policial com estética de panfleto feminista, escrito e dirigido quase exclusivamente por homens. Uma história que quer falar de empoderamento feminino em meio à opressão institucionalizada, mas que muitas vezes encena essa luta como uma caricatura estilizada, sem profundidade sociológica ou tensão estrutural real.
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O curioso é que, mesmo com essas fragilidades, a série não desaba. Existe nela uma força que vem da forma, da maneira como tudo é montado. O cenário setentista é absurdamente bem construído, a atmosfera se sustenta com textura, paleta e figurino, e os bastidores da polícia mexicana são retratados com uma crueza rarefeita, ainda que temperada pelo verniz do streaming de alto orçamento. O resultado é um thriller de época que parece improvisado na superfície, mas que entrega uma condução de suspense milimetricamente planejada.
O desequilíbrio vem quando o discurso tenta ganhar corpo. A ideia de protagonismo feminino aqui é muitas vezes reduzida à iconografia vazia. Símbolos, figurinos, frases de efeito. Há um fetiche evidente por saltos altos, batons, silhuetas. Tudo que grita “empoderamento” pela estética, mas sem uma real inquietação crítica sobre as estruturas que essas mulheres enfrentam. O pano de fundo é de opressão, mas o foco está na maquiagem da resistência. Isso enfraquece o impacto de uma série que claramente deseja se posicionar como relevante, mas que frequentemente recua na hora de dizer algo que vá além do óbvio.
Ainda assim, há méritos. A construção do mistério é sólida. A maneira como as pistas se encadeiam, a tensão crescente e a ambientação dentro da lógica do trabalho investigativo dos anos 1970 dão à narrativa um ritmo que prende. É um thriller clássico com estrutura de procedimental, mas com uma camada de crítica social que tenta, mesmo sem grande profundidade, alargar o escopo da série.
Os personagens carregam o drama com o peso necessário, mesmo quando os diálogos soam genéricos. Há uma entrega dramática que, vez ou outra, escapa da encenação vazia e atinge momentos de verdade. Principalmente quando a série resolve parar de tentar parecer relevante e apenas abraça sua natureza de entretenimento de alta voltagem emocional.
O que segura “Mulheres de Azul” de verdade é sua habilidade em construir tensão e conduzir a trama até os momentos de catarse. E aqui está sua maior conquista: conseguir criar urgência narrativa mesmo tropeçando na complexidade dos temas que tenta abordar. A crítica à violência estrutural, à misoginia policial, à cultura institucional do machismo está lá, mas embalada num suspense que prefere ser digerível do que transformador. E tudo bem. Desde que não se venda como o que não é.
No fim, “Mulheres de Azul” é uma série que entrega mais pela forma do que pelo conteúdo. É envolvente, elegante, bem filmada e com atuações funcionais, mas ainda falta densidade, ousadia e autoria real. O entretenimento está garantido, mas a reflexão vem com atraso e nem sempre encontra espaço para florescer.
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