“Nonnas” se posiciona como uma obra eficácia, sobretudo, em sua capacidade de invocar a memória afetiva enquanto estrutura narrativa. Sob a direção de Stephen Chbosky, o longa se ancora na trajetória de Joe Scaravella (Vince Vaughn), um protagonista deslocado que, diante do luto materno, canaliza a ausência em forma de projeto: a criação de um restaurante italiano onde a tradição culinária é preservada por figuras femininas idosas, as nonnas do título.
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O argumento se estrutura como uma narrativa de reencontro com a identidade cultural, mas sua originalidade reside menos na premissa e mais na execução sensível e bem calibrada do afeto como linguagem estética. A escolha de Vaughn para o papel principal revela-se eficiente ao explorar um registro menos cínico e mais contido do ator, o que se alinha à cadência emocional da obra. No entanto, são as nonnas interpretadas por um elenco que inclui Lorraine Bracco, Susan Sarandon e Talia Shire que assumem a centralidade simbólica do filme. A presença delas extrapola o elemento decorativo e atua como vetor narrativo: o restaurante funciona enquanto ideia porque são elas que o tornam possível, dando ao espaço o peso da memória e a espessura do afeto.
“Nonnas” também ensaia uma metalinguagem sobre o próprio cinema nostálgico, encenando o conforto das fórmulas previsíveis com honestidade. O filme não tensiona suas estruturas; ao contrário, as acomoda. E nesse gesto reside sua força: reconhecer que, em determinados contextos, a previsibilidade não é um defeito estrutural, mas um recurso retórico. O espectador sabe onde a narrativa irá chegar, mas deseja o percurso, como quem revisita um prato ancestral cujo sabor já se conhece, mas que, por isso mesmo, emociona.
Formalmente, o filme mantém uma decupagem clássica, optando por uma mise-en-scène funcional e despretensiosa, em consonância com seu conteúdo afetivo. Não há ambição estética desmedida, tampouco rupturas na linguagem. A montagem sustenta um ritmo coeso, priorizando o fluxo emocional das cenas e garantindo que a dimensão culinária fundamental à lógica interna do roteiro seja filmada com o devido cuidado imagético. A representação da comida, aliás, não busca o virtuosismo de obras como “Chef” ou “Ratatouille”, mas aposta na imperfeição doméstica, na apresentação não estilizada, que remete ao realismo das refeições familiares.
Embora sua potência emocional encontre eco mais forte entre espectadores com vínculos diretos com a cultura ítalo-americana ou com experiências familiares semelhantes, “Nonnas” jamais exclui os demais públicos. A barreira cultural pode atenuar parte do impacto, mas não compromete o que há de universal na premissa: a recuperação da memória afetiva como forma de dar sentido à perda. É possível que alguns se detêm no que há de sentimentalismo programado e, de fato, há um quê de manipulação emocional, mas também é legítimo reconhecer que há sinceridade na proposta. O sentimentalismo, aqui, é instrumento e fim.
Por fim, embora não se configure como a mais inventiva representação cinematográfica do universo gastronômico, “Nonnas” encontra seu lugar como uma obra de conciliação: entre gerações, entre culturas, entre formas de lembrar. É cinema que cozinha lentamente, como as receitas das nonnas sem pressa, sem modernidades, com alma.
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